sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

A Bíblia, Os Direitos Humanos e o Filho de Agar

Israel e a Faixa de Gaza

A matéria sobre a segurança pública em Moçambique, merece uma grande e especial atenção, principalmente quando parece que a guerra entre a polícia e os criminosos já não é mais às escondidas, na medida em que as declarações de uma e de outra parte são feitas com dor e raiva, pública e abertamente.

Embora essa atmosfera com cheiro de pólvora, prefiro não dedicar-me a essa matéria, somente para não correr o risco de abrir um debate que não poderei concluir. Sabe-se que a mídia é um dos grandes moderadores desse diálogo entre a polícia e os meliantes, não se sabe entretanto os efeitos positivos disso.

Por também não ser pouca coisa, proponho-me a provocar algumas reflexões sobre a crise levantada entre Israel e Palestina na faixa de Gaza. Para tanto, partirei do Bíblia.

A Bíblia, é o principal livro de inspiração dos cristão. A sua primeira parte, a conhecida como Velho Testamento, que antecede a vida e obra de Jesus Cristo, a figura central do Livro, inspira não só os cristãos, mas também o judeus, os muçulmanos e outras correntes religiosas nascidas antes ou depois do messias.

O Novo Testamento, conta, basicamente, a vida e a obra de Jesus Cristo, o fundador do cristianismo. Conta a vida e a obra dos seus discípulos, bem assim a vida dos primeiros cristãos. Dos discípulos de Jesus Cristo, sobressai grandemente Paulo de Tarso que, embora tendo se convertido depois da morte e ressurreição de Cristo, é o autor da maior parte das epístolas.

É Paulo quem afirma na segunda carta aos Coríntios (3:6) que, enquanto “a letra mata, o espírito vivifica”, chamando aqui atenção a interpretação da palavra que ele pregava, para que não fosse levada segundo o entender literal, mas espiritual, porque corria-se o grande perigo de se usarem os mesmos “textos da vida” para a morte, sendo que toda a vontade contida nesse livro sagrado é para a “vida com abundância”, segundo Jesus Cristo no livro de João (10:10).

A religião é segundo Aristóteles um fenómeno natural, ou seja, todo o homem é por natureza um ser religioso, mas o povo Hebreu ou Cananeu é o primeiro a apresentar-se com uma religião monoteista, ou seja com um único Deus, diferentemente de outras religiões da época que prestavam culto a vários deuses.

Entretanto, sem desprezar tudo que pode ser dito, com maior sabedoria, por pessoas que se dedicam a esse tipo de estudo, Abraão é tido como o pai da fé dos hebreus e de subsequente crentes, embora com maior peso tenha sido Moisés que cimentou os alicerces de uma grande parte daquilo que se pode ler e entender sobre o judaísmo, cristianismo, islamismo e outros, já que o mesmo, é tido como o principal escritor do pentatêutico, ou seja, dos primeiros cinco livros da bíblia.

Recuando até Abraão, lê-se que este foi o pai de Isaque (Génesis 21:1-13) e Isaque, filho que quase ele imolou oferecendo em sacrifico ao seu Deus (Génesis 22:1-18), foi gerado por Sara a legítima esposa de Abraão que na velhice já tinha perdido a esperança de gerar um filho ao seu marido. Tendo sido entretanto, Agar, quem deu a Abraão, a alegria de ser pai, ao gerar para ele um menino a quem chamou de Ismael (Génesis 16:11), este que veio a ser considerado o pai do povo que hoje é considerado muçulmano, na medida em que os primeiros que habitaram a área hoje conhecida como o médio oriente, foram descendentes dos filhos deste primogénito do pai da fé.

Os dois, Isaque e Ismael, receberam a promessa de virem a ser grandes nações, embora, em relação a Isaque, Deus tenha dito a Abraão que seria nele que a sua semente seria chamada, enquanto que “também do filho desta serva (Agar) farei uma nação, porquanto é uma semente.”(Génesis 21:9-13; 14-21). A coisa se agrava quando a terra prometida é dada à semente de Abraão, que não parece incluir Ismael, (Génesis 22) e isso veio a ser confirmado pelas figuras bíblicas subsequentes a Abraão: a Jacob (Génesis 31:13), a Moisés (Génesis 3:6-14) entre outros.

Embora a confusão, lendo atentamente Génesis 22:16-18, nota-se que todas as nações são em Abraão benditas, o que nos leva a voltar a Paulo que nos manda não levarmos a discussão da terra só na dimensão da letra, que mata, mas na dimensão do espírito que vivifica.

Deus, segundo a Bíblia, ou segundo o Pentatêuco que é comum às várias religiões é de paz e não de guerra ou luta, ou seja, na perspectiva divina, não cabe a violação dos direitos humanos, independentemente do pretexto, mesmo em defesa do nome Dele, porque Ele não precisa que os homens se matem para que seja engrandecido, pois, mesmo que eles se calem, “as próprias pedras clamarão” (Lucas 19:40).

Abro a televisão, leio os jornais e escuto a rádio, noto o povo de Israel, o mesmo que é da semente de Abraão, o pai da fé, a matar, a mutilar, a humilhar, a destruir sem nenhuma justificativa racional, outro povo, que por sinal é seu irmão. Para agravar, não são poupadas as crianças, os velhos, as mulheres, os fracos e os doentes. Que exemplo esse povo quer dar ao mundo?

Não sou pessoa indicada para questionar o povo de Israel, já que diz Deus: “abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem” (Génesis 12:3). Peço somente que Israel não caia na armadilha dos tempos actuais e volte a servir o Deus que durante 40 anos esteve com ele no deserto e no monte Sinai deu os 10 mandamentos (Génesis 19 e 20) onde também se pode ler como mandamento: “não matarás” (Génesis 20:13), por maioria de razão, muito menos a inocentes.

Seja qual for a motivação que leva a que Israel cometa os crimes que comete na faixa de Gaza, receio que tenha aval de seu Deus, temos que lembrar que em nome desse único Deus, muitas barbaridades já foram feitas, só para exemplificar: as cruzadas, o assassinato de cientistas e pesquisadores, a execução da Joan d Arc e de outros.

Alias, em certo momento da história da igreja, encontramo-la sendo aproveitada pelos reis, imperadores e poderosos da terra para aplicarem o seu domínio sobre pobre mortais. Receio que Israel não este a ser usada como um instrumento ou um escudo dos interesses imperialistas dos seus apoiantes.

Seja como for, homens racionais devem parar de maltratar inocentes, independentemente das suas motivações ou situações em que se encontrem. Vou parar a minha provocação, roubando o espírito de uma brilhante ideia de Ghandi, segundo a qual, se cada um de nós começa a matar o outro em nome do seu Deus ou da sua fé e religião ninguém mais prevalecerá vivo na face terra.

2 comentários:

Anónimo disse...

Essa interpretacao é demais,
Nao imaginei que tinhas esse toque biblico tambem!
Estamos juntos.
Bhaye

Unknown disse...

Opa, Marco Pablo!

Acho que devias deixar melhor percepção, não?

Sabe que o que de graça se diz, de graça se nega?

Feliz Domingo