Johannersburg, 21 Jan (AIM) - Graça Machel, esposa do antigo estadista sul-africano, Nelson Mandela, lamentou o facto dos lideres da Comunidade de Desenvolvimento da Africa Austral (SADC) terem falhado "miseravelmente" salvar os zimbabweanos do Governo que já perdeu toda a sua legitimidade.
"Nós confiamos por muito tempo e já é altura de dizermos aos nossos lideres que reclamamos as vidas de todos aqueles que morreram.nas mãos dos lideres da SADC porque eles têm a responsabilidade de travar aquela confusão", disse Machel, citada pela agência sul-africana de notícias "Mail and Guardian".
Ela falava durante um almoço realizado hoje (Quarta-feira) em Johannesburg, inserido na campanha "Salvar Zimbabwe Agora" dirigida por um grupo de líderes religiosos, incluindo o Bispo Anglicano Desmond Tutu, que deverá participar num programa visando despertar a consciência regional sobre a crise zimbabweana.
Graça Machel, que é também viúva do primeiro Presidente de Moçambique Samora Machel, referia-se ao facto de as conversações realizadas em Harare, na Segunda-feira última, envolvendo os três principais rivais políticos do Zimbabwe, com a participação do Presidente moçambicano, Armando Guebuza, e o seu homólogo sul-africano, Kgalema Motlanthe, terem terminado num impasse, após longas horas de conversações à porta fechada.
"Os políticos têm um enorme ego por proteger. Eles não se importam por outros milhares, milhares e outros tantos milhares que perdem a vida, desde que eles protejam o seu ego", lamentou ela.
Machel disse que o Governo prolongado do Presidente da Zanu-PF, Robert Mugabe, já perdeu toda a sua legitimidade e aconselhou aos outros movimentos de libertação da região a não seguirem a mesma rota.
Esta advertência surge na sequência de no passado, os lideres da região, incluindo o de Zimbabwe, terem se levantado em conjunto na luta contra os regimes coloniais.
"O que está a acontecer neste momento no Zimbabwe? Aqueles meus colegas do passado agora estão a brutalizar a sua própria população simplesmente porque a população não votou a favor deles", disse ela, acrescentando que "esta é uma questão que me assombra e me assombra continuamente" .
Até ao momento, mais de duas mil pessoas já morreram devido a epidemia da cólera naquele país da SADC desde a eclosão da doença em Agosto último e outras pessoas perderam a vida devido a violência politica, sobretudo momentos antes e depois das eleições do ano passado.
Os principais líderes rivais do Zimbabwe ainda não chegaram a algum acordo sobre a formação de um Governo de Unidade Nacional, nas negociações chefiadas pelo antigo presidente sul-africano, Thabo Mbeki.
O pastor zimbabweano Wison Mugabe, um membro do Fórum Nacional dos Pastores, disse que hoje iniciaria uma greve de fome de 21 dias.
O pastor afirma que a população do seu país estava num "jejum forçado pelo Governo".
"Nós nos tornamos pedintes. ontem nós éramos uma população que podíamos alimentar toda a Africa Austral", disse ele.
"Ouça-nos! Já sofremos o suficiente", disse o pastor, que depois ficou com o rosto banhado de lágrimas, tendo sido apoiado por Graça Machel, antes de prosseguir com o seu discurso.
Na sua greve de fome, ele será acompanhado por outras 54 pessoas, na sua maioria irão se submeter ao sacrifício durante um dia por semana, incluindo Desmond Tutu, que irá iniciar o seu desafio na próxima Quarta-feira.
Os outros participantes são o Bispo Paul Verryn, da Igreja Metodista Central e o Reverendo.
A campanha "Salva Zimbabwe Agora", cuja sede será estabelecida na Igreja Metodista Central em Johannersburg, é apoiada por diversas organizações e grupos religiosos, incluindo o Conselho das Igrejas da Africa do Sul, a Liga Comunista Juvenil, Os Adultos, o Partido Comunista Sul-africano e o centro Islâmico de Ajuda Humanitária.
Nomboniso Gasa, líder da Comissão da Igualdade do Género da Africa do Sul, e Kumi Naidoo, o presidente honorário da ONG Civicus, irá se juntar ao pastor Mugabe na sua greve de fome de 21 dias.
Graça Machel disse que os líderes da SADC precisam de adicionar mais vozes à sua tentativa de resolver a crise zimbabweana.
"Eles estarão reunidos novamente na Segunda-feira (na cimeira da SADC em Gaberone). Penso que devemos enviar uma mensagem clara e inequívoca. estamos morrendo, isto tem de parar", reiterou ela.
Ela recordou que a SADC tem um mandato conferido pelos cerca de 200 milhões para garantir estabilidade no Zimbabwe.
"Este é o maior teste para todos os líderes da SADC. eles, como uma liderança colectiva, tomaram a responsabilidade de resolver o conflito e há muito temos vindo a espera dessa ocasião", reafirmou.
Machel disse que Zimbabwe não conseguiu cumprir com a sua responsabilidade de proteger os seus cidadãos e apelou ao Mugabe para libertar todos os prisioneiros políticos encarcerados nas cadeias.
"Eu quero dizer a liderança do Zimbabwe . o Governo deve proteger os seus cidadãos. é na forma como você protege os seus cidadãos donde vem a sua legitimidade" , disse a fonte, reiterando que "o Governo perdeu completamente qualquer tipo de legitimidade" .
"Esta situação constitui uma lição para a nossa região. Viemos juntos para nos libertarmos, mas agora (estamos a ver) que o poder pode-lhe converter a se tornar precisamente o contrário do que lhe fez tornar num combatente da liberdade", considerou ela, salientando que "esta é uma lição para os outros movimentos de libertação da região".
(AIM)MAIL & GUARDIAN/MM/ SAM
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