quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Integração Regional África: E a Questão Social?



Os últimos acontecimentos xenófobos havidos na África do Sul levaram-nos a questionar certas situações que até ao momento parecem terem sido ignoradas pelos fazedores da política e pelos decisores dos mais importantes assuntos em África.

Participei durante toda a semana passada em um estudo multisectorial organizado por varias organizações da sociedade civil em África incluindo a Liga Moçambicana dos Direitos Humanos, com vista a apurar as causas, os efeitos e os prováveis focos da onda de xenofobia na África do sul, tentando encontrar elementos que evitem, no futuro, a repetição de actos semelhantes naquele e em outros países africanos.

Curiosamente, as constatações que retiramos do estudo, levaram-nos na sua maioria, a questionar os mecanismos e os termos em que a integração regional africana tem sido conduzida.
Não pretendo discutir a integração regional em si, sei que muitos colegas em fóruns diversificado o fizeram, mas importa perguntar ate que ponto as pessoas africanas estão contempladas em todas as premissas da integração.

Ora vejamos:

Uma das causas dos ataques xenófobos apontadas por diversas individualidades sul africanas, incluindo as governamentais, 'e que os sul africanos nunca se sentiram africanos, no mínimo se comparam mais com europeus que com os africanos. Mesmo durante o apartheid, os sul africanos sempre tiveram o complexo de superioridade em relacao aos outros africanos, tendo como base o seu avanço tecnológico, infra-estruturas, educação e o grau de dependência dos outros africanos tem em relação a esta terra de Mandela. Podiam facilmente aceitar o lugar dado pelos brancos, mas não aceitariam dividi-lo com outros africanos.

Outra causa não menos importante 'e que mesmo tendo esse complexo de superioridade, os sul africanos nunca tiveram o privilegio de conviver com os outros africanos, nunca viajaram tanto e quando emigrassem era para países fora de África. Considere-se isso no geral, salvo casos particulares que são muito poucos.

Mesmo quando os outros africanos emigram para este pais, sabe-se muito bem onde eles ficam, normalmente nas minas e nas obras de construção ou qualquer outra industria. Nunca, porem, na mesma comunidade que os sul africanos, partilhando as mesmas escolas, os mesmos empregos, negócios e ate se casando com filhas ou filhos dos sul africanos.

Em todos os casos, mostra-se que os sul africanos, por forca do seu complexo de superioridade e da pouca convivência com os outros, outros esses que nessa terra e principalmente nos palcos dos ataques xenófobos, são considerados estranhos e falantes de língua estranha, não estão preparados para aceitar a integração regional de igual para igual. 'e contudo verdade que essa igualdade que 'e pretendida jamais seria possível, seria entretanto possível um meio termo, um meio termo encontrado a partir da tolerância.

Mas os sul africanos não são monopolistas do preconceito, da violência e do complexo de superioridade. Já vimos que em muito países africanos ataques xenófobos aconteceram, sendo que tivemos genocídios em Ruanda e, em diferentes proporções, em vários lugares do mundo. Alias, mesmo internamente, nos vários países, há sempre uma tribo, um grupo étnico ou ate grupo linguístico que se reivindica superior ou mais importante que os outros.

Na verdade, reside no ser humano a dificuldade de viver e conviver com o diferente. Sendo que não somos irracionais, embora nalgumas vezes possamos parecer, a tolerância, a paciência, a justiça e o amor ao próximo, constituem valores e virtudes a serem cultivados. Mesmo sabendo que alguns deles estão na dimensão espiritual do homem, vale a pena acreditar que 'e possível a humanidade vive em harmonia.

Olhando para a conjuntura dos pontos acima colocados, resta-nos perguntar onde fica a componente social na integração africana. Não ha duvidas de que a a integração económica poderá ser muito bem sucedida e que eventualmente, mesmo com os vários problemas de visas para entrar em certos Estados Africanos, a livre circulação de pessoas em África será uma realidade.

Contudo, já vimos que não basta que as pessoas tenham a livre circulação, 'e necessário que elas se aceitem uma a outra, 'e necessário que a cultura de tolerância e boa convivência seja muito bem entronizada, afinal estamos a falar de africanos que mesmo unidos pela terra e pelo continente, tem cores diferentes, línguas diferentes, culturas diferentes, direito costumeiro diferente e acima de tudo um nível de escolarização também diferente.

Como pensar em uma integração regional sem pensar em uma cidadania africana. Não faz sentido que ate hoje os africanos não se aceitem mutuamente so por causa dos interesses políticos e económicos. Uma cidadania africana ajudaria os africanos a olharem um para o outro como concidadãos.

Hoje, a teoria da cidadania africana esta a ser negada, isso porque a cada dia que passa, os países africanos descobrem mais recursos nos seus territórios, embora alguns desses recursos estejam em territórios que correspondem a dois ou mais países como 'e o caso de Moçambique que divide ricos recursos junto ao rio Rovuma com a Tanzânia, os Estados não estão preparados para conjuntamente explorarem esses recursos para o bem de seus povos que embora as diferenças dividem muito em comum.

Olha para o processo de integração com algum cepticismo na medida em que a componente social da matéria não esta a ser levada a serio, sendo que, por conta disso, ondas de violência, xenofobia, sabotagens e outro tipo de discriminação e tratamentos desumanos terão lugar só para chamar a atenção de quem de direito, sabendo que estas questões não são assim tão lineares como parecem.

4 comentários:

Anónimo disse...

Amigo,

Há coisas que estão muito acima da nossa compreensão, e por mais esforço que a gente faça, só se revelam quando chegado o momento, e aí esclamamos:hã, afinal era isso!

Há ainda aquelas,que por serem evidentes demais, as ignoramos, desprezamos mesmo, o homem, esse ser que se gaba de sua inteligência, despreza tudo aquilo que lhe parece simples demais e vai optando sempre pelo mais difícil.Custódio, o que te parece mais fácil, uma convivência pacífica ou conflituosa? manter a paz ou a guerra?

E ainda há mais. o homem aprende muito pouco com a natureza. o fruto suculento e saboroso, é aquele que amadurece na árvore. o homem não mais tem a paciência de esperar pelo amdurecimento natural.bota substâncias químicas, resultado: cancro, solução: quimioterapia. resultado: morte de células saudáveis. E assim se vão perpetuando as soluções paliativas que levarão ao colapso de todo o organismo e a uma morte lenta.

assim se passa com o organismo social. conclusão. África ainda não esta preparada para a integração. Como falar de uma integração se dentro das fronteiras dos países é difícil a convivência tribal? Durante a onda de xenofobia, sul africanos foram mortos por outros sul africanos simplesmente porque não falavam zulu, e este cenário vive-se um pouco por toda a àfrica.optimismo nestas condições, impossível.

Anónimo disse...

A questão da Xenofobia, discrinação, racismo, tribalismo ou como queiram existe em todo sitio do mundo só não ve os que não querem ver. Esta se agravando cada dia que passa com o aumento da pobreza extrema que vai aumentado dia pós dia. Não precisamos de ter medo de dizer a verdade mesmo cá entre nós é o que existe demais…. Adinal de contas onde vem o termo CHINGONDO pelo que eu saiba não existe nenhuma tribo me Moçambique que tenha esse nome mais algumas pessoas do sul de Moçambique chamam os de Norte de CHINGONDO como uma forma de discrinaçao social, que não afectam quem chama mais a quem é chamado. Portanto estamos a sentir a dor da descriminação porque fomos afectados são nossos irmãos que estão a sofrer. Temoa de repensar bem nalguns termos para não nos ofendermos p[orque um dia pode surgir uma guerra tribal por esses motivos que vão se acumulando até que um dia rebenta.
É lamentavel tudo parte do pequeno......

Edna Santiago disse...

Essa lamentavel constatação feita com base no contexto africano, não é uma particularidade daquela região. É triste constatar que os povos foram objeto de manipulação ideológica das raças europeias ditas "superiores" que os colonizaram e tenham internalizado, que séculos depois não só continuam aceitando as manipulações nas novas modalidades para o século XXI, como impondo aos seus "irmãos", sugestivo de um modo compensatório - se sou oprimido, tembém tenho que oprimir - ainda que não leve a nenhum lugar.

Maria Edna

Unknown disse...

Verdade Edna
Lamento que pouco os intelectuais tem feito para mudar o cenario,
O neoliberalismo 'e realmente pesado pa povos pobres...