sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Renamo e Simango: Tanta Coisa por Dizer



A Renamo deu o tiro na sua própria perna ao afirmar que Pereira havia sido escolhido pelas bases. Na verdade nenhuma base veio depois a sustentar o argumento apresentado. Entretanto espera-se que o acto tenha servido como lição a maior oposição deste país.

Penso que a Renamo, se alguma vez cogitou governar este país, agora perdeu o sonho. Os últimos acontecimentos dentro da Perdiz fazem crer que ou há falta de perspectiva política ou então de capacidade para definir estratégias eleitorais. Nos dois casos, está evidente que o partido perdeu o horizonte do poder.

O fim dos partidos políticos é o poder e em nenhum momento deve fugir dessa perspectiva. Tudo deve ser para ter o poder, exercer o poder e manter-se nele, assim como a Frelimo tem feito. Embora muito se possa criticar ao Batuque, a verdade é que este sabe tocar o seu batuque quando necessário, mesmo usando métodos maquiavélicos se assim tiver que fazer.

Entretanto, Daviz Simango, mostrou ter todas as coisas no lugar. Desafiar o partido e concorrer à sua própria reeleição significa antes de mais ter as coisas no lugar, pois, penso eu, que às vezes é necessário por de lado a disciplina partidária quando realmente for necessário atingir um bem maior. Ainda mais quando se suspeita a legitimidade das bases.

Não posso afirmar que Dlakama tem azar, como alguém disse que o Presidente Guebuza tinha. Penso que não se trata de azar. A questão é saber ou não saber administrar o partido ou a coisa pública. Neste caso, o que Dlakama tem é alguma falta de perceber às suas próprias bases.

Resta então saber a quem vão beneficiar às próximas eleições autárquicas na Beira? Ao cidadão? A Renamo ou a Frelimo? Será que a candidatura de Simango vai beneficiar a Bulha? E se assim for qual será o ganho de Simango?

Prefiro não falar de Pereira, acho que ele não tem hipóteses na Beira. Embora seja um quadro sénior do partido, a sua popularidade não consegue bater a de Bulha. Concorrendo sozinho ainda podia vencer, mas ao lado de Simango ou perde junto ou simplesmente fica de fora.

Já Simango sim, vale a pena falar dele, alias, ha muito por se dizer. Vamos por partes:
Em primeiro lugar: Simango pode ganhar as eleições na Beira. Ele foi bastante elogiado pelos próprios munícipes, pelo próprio partido, pelo partido no poder e pelas instituições internacionais. Não há melhor legitimidade que essa, ter o apoio de todos interessados na melhoria do município.

Em segundo lugar: Bulha pode ganhas as eleições na Beira. O facto de Simango estar a concorrer como independente pode dividir os votantes da Renamo que não vão conseguir o necessário para que o seu candidato vença. Precisamos perceber que a maior parte dos membros do partido e que vão votar não tem a lucidez necessária para perceber os fenómenos eleitorais bem assim a diferença entre o bem e o mal.

Em terceiro lugar: Perdendo Simango e Pereira a Renamo não vai ganhar o juízo. Como é que a Renamo ganharia o juízo? Na verdade, esta é uma luta política muito mal interpretada pela Perdiz, às vezes dá a ideia de que este partido obedece a voz de um fantasma e não de um líder. É que a historia das bases não chegou a convencer ninguém.

Em quarto lugar: Ganhando ou não as eleições, a candidatura independente de Simango mostra que este não está dependente e nem quer estar dependente do partido. Mostra a sua própria auto estima e a confiança que tem no seu trabalho, nas suas capacidades e no apoio das massas ou das bases. Mostra que Simango acredita noutra forma de fazer política neste país.

Em quarto lugar: com a situação da Beira, sai a ganhar a democracia moçambicana. Moçambique anda feito um país sem políticos. A Frelimo e a Renamo já mostraram estar no mesmo barco, sem capacidade de perceber a mensagem emitida pelas bases. A Frelimo porque não quer se renovar e a Renamo porque não quer crescer.

Em quinto lugar: ganhando Bulha, ficará claro que o que aconteceu na Beira foi o que alguém já disse, dividir para reinar, pois, a popularidade do camarada secretario, não é suficiente para bater Simango. Seria preciso um mandato de quase cinco anos para fazer a sua campanha.

Em sexto lugar: de qualquer das formas, a candidatura de Simango deveria ser vista como uma revolução na nossa forma de ver a política. Que afinal de contas não basta fazer parte do partido, é preciso que seja legitimado pelo povo. Vindo ele a ganhar, mesmo sendo independente, significará que acima da Renamo e da Frelimo está o cidadão que quer bons serviços públicos e isso revolucionará toda política moçambicana.

Este é um pais que gosta de elogiar a loucura e sob esse ponto de vista Simango preferiu quebrar o comum a ver se a loucura começa a pagar pelos seus erros. Comiche preferiu obedecer a sua disciplina partidária, mesmo sabendo que imitando Simango, ganharia os candidatos de Maputo a larga margem.

Ao bem da Democracia é preciso apoiar a razão e a competência.

2 comentários:

Anónimo disse...

Oi grande amigo,

"...tudo deve ser feito para ter o poder, exercer o poder e manter-se nele(...), mesmo usando métodos maquiavéelicos se assim tiver que ser...'"

Se isto não for ironia, desisto de te entender amigo Custódio.Logo tu a defenderes o princípio de que os meios justificam os fins?não, só pode ser ironia, pois, sempre acreditei que és daqueles que têm as coisas no lugar como poucos.

Enviar-te-ei um interessantíssimo livro, muito pequeno, de Etienne de la Boétie, intitulado:Discurso sobre a servidao voluntária. depois comente.

um abraço

Anónimo disse...

pssss!
há uma expressão trocada no texto mas endende-se o que quis dizer...