quarta-feira, 3 de setembro de 2008

A COMÉDIA DA POLÍTICA MOÇAMBICANA


Caso das Municipais da Beira e Maputo

Depois do Partido Frelimo ter descartado, de forma pouco convincente, Eneas Comiche como seu candidato para o maior município do país: Maputo, os cidadãos moçambicanos foram surpreendidos com a declaração da Renamo, na pessoa do Secretario do partido em Sofala, dando conta de que Daviz Simango não era mais seu candidato.

Foi surpresa o facto do Partido descartar Daviz Simango e não o facto da decisão ser ridícula. Num momento em que o partido Frelimo mostrou ter optado pelo menos conveniente, não convencendo as suas próprias bases, a Renamo aparece a cometer o mesmo erro e, se calhar, pior que o da Frelimo.

É caso para dizer que com esses dois partidos só mudam os detalhes mantendo-se o resto.

Contrariamente a apatia da base maputense, os beirenses exigiram que o tal secretário local indicasse "pelo menos um ou uma pessoa" que representasse essa base que sustentou a retirada de Simango para Pereira.

Ironicamente, abundam provas que mostrem o quão as bases sempre foram ignoradas pelos jogadores políticos deste país.

O erro da Renamo pode ser mais fatal na medida em que para alem de não possuir um laboratório eficiente de construção de estratégias políticas, escasseiam no seio do partido representantes coerentes. Tenho pensado comigo mesmo, quantos membros sentem-se envergonhados de representar essa fileira.

É claro que a Frelimo chegou também a envergonhar as suas bases no Maputo, contudo, parece que tomou a decisão fundamentada em algo que já se cogitava fazia algum tempo que vale a pena mencionar. Já a Renamo, parece que tomou a decisão motivada por uma simples imitação.

Custa-me a crer que um candidato que se pretende Presidente da República seja incoerente e de certa forma irreverente. A mudança de candidato por parte da Renamo em menos de um mês, prova que este partido não está se preparando para os desafios eleitorais que o país vai acolher a partir de Novembro próximo.

Uma das causas da violência eleitoral é o despreparo dos candidatos, que ultrapassados pelo processo ficam com a sensação de que foram ludibriados, não só, os maus exemplos do Quénia e Zimbabwe podem se repetir entre nós quando gente desprevenida acaba sendo condenada pelo voto.

O exercício do poder exige legitimação pelo povo. A falta de democracia interna nos partidos é um exemplo de como será a governação quando o mesmo ganha o poder.

Se a Frelimo é louvada pelos longos anos de experiência governativa, peca por não ter um exercício de poder que seja participativo e inclusivo. Em muitas situações simplesmente se esquecem de que quem não está nesse partido também é moçambicano e que tem os mesmos direitos e liberdades.

Se a Renamo reivindica a paternidade da democracia, peca contudo por não poder ser coerente no seu discurso, não sendo assim, capaz de transmitir confiança e esperança no cidadão moçambicana quanto a uma eventual alternativa política e governativa.

Tenho dito muitas vezes que a grande força da Frelimo está na grande fraqueza da Renamo que não consegue ser uma oposição séria.

De todas as maneiras os dois partidos decepcionam o cidadão de uma forma realmente imperdoável. Não se perdoa a quem não consegue dirigir os destinos de um povo. Não se perdoa a quem olha para o seu próprio estômago e umbigo.

A candidatura independente de Daviz Simango significará uma lição a Renamo, que vai perder o Município a favor do actual Edil ou favor da Frelimo com a dispersão de votos, o que sendo hoje previsível significa mau jogo político do Partido do Afonso Dhlakama.

Candidatura independente deveria também ser posta por Eneas Comiche que sem dúvidas se reconduziria a Presidência do Município. Mas mais do que isso, mostraria que a sua disciplina partidária não prejudica o seu compromisso político com os cidadãos de Maputo que aprenderam a acreditar e a confiar no seu discurso e no seu trabalho.

Com duas candidaturas independentes, ganhando os dois maiores municípios do país, a democracia moçambicana jamais será a mesma e se calhar isso significaria uma preparação para um processo democrático pacifico e inclusivo muito próspero na historia deste país.

Mais do que simples palavras, o cenário político criado com as últimas apresentações dos dois maiores partidos deste país mostram claramente que os interesses da maioria estão em terceiro plano, depois dos políticos e pessoais, e que, depois de Novembro próximo, tanto a Frelimo como a Renamo saberão o quanto o povo não anda desatento nem despreparado.

3 comentários:

Anónimo disse...

Oi AMIGO,

Desta vez, a razão está toda contigo. Pelo menos eu jamais perdoarei a estes projectos de políticos mal concebidos. Francamente, não sei a quem darei o meu voto.Mas olha, nós também temos a nossa parte parte de culpa, pois como diz Arnold Toynbee,
"o maior castigo para aqueles que não se interessam pela política é que serão governados pelos que se interessam"
Amigão, o resto é contigo tira as tuas próprias ilações e, como se diz por aí, mais não disse.

um abraço

Reflectindo disse...

Parabéns pelo reflexão. De facto embora o que a lideranca da Renamo na fez seja pior que a o que a da Frelimo em Maputo os beirenses demonstraram uma accão democrática. É o que se faz nos países democraticamente maduros. O que resta é Afonso Dhlakama demitir-se. Se ele tivesse bons conselheiros ou tendo os ouvisse anunciaria agora que não ia se candidatar a presidente da Renamo no próximo congresso. E o próprio Afonso Dhlakama mais ganharia por isso.

Unknown disse...

Sinto muito que a nossa política é dirigida por quem realmente não se preocupa com a vontade das bases!
se calhar isso é que é política e lamento que não estejamos em altura de visualizar outro tipo de política...