quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Para quem duvidava do poder do povo

Foto: A Liberdade Guiando o Povo

Começo esta carta por lembrar-vos que é a terceira vez que me dirijo a vocês de forma escrita, sendo que normalmente o faço musicalmente. A primeira foi aquando da manifestação popular de 5 de Fevereiro último, onde declarei que apoiava o espírito de união que o povo demonstrou ao exigir que o governo moçambicano assumisse a sua responsabilidade em relação ao transporte público não permitindo desse modo a subida da tarifa, pois tal subida retiraria o pouco pão que restava da boca de milhões de moçambicanos e nos deixaria sem o mínimo para viver. Embora violenta, mesmo porquê é difícil esperar calma e racionalidade de alguém que está para ser retirado o direito fundamental de viver condignamente, aquela foi uma verdadeira prova do poder do povo, o poder da união em torno de um objectivo concreto, e o resultado foi ver os nossos "dirigentes" ficarem sem alternativas, obedecerem o povo, baixarem a tarifa do transporte, assumirem sua responsabilidade e "enfiarem o rabo entre as pernas". De salientar que essa minha posição valeu-me uma intimação por parte da Procuradoria da República, à qual respondi prontamente.

A segunda carta esteve relacionada com a pouca vergonha a que se prestou o canal da Televisão de Moçambique ao sem motivos palpáveis, a não ser por pura censura e lambebotismo escravo, impedir-me de participar no programa Moçambique em Concerto após eu ter sido convidado. Sobre isto já muita tinta rolou e não é meu objectivo aqui alongar-me.

Hoje dirijo-me a vocês ainda dentro da minha linha de pensamento, para mais uma vez apoiar e juntar-me à vontade do povo, eu explico:


-Temos assistido nos últimos tempos, nos tempos das eleições "democráticas", os dois maiores partidos em Moçambique, nomeadamente a Frelimo e a Renamo, mostrarem o "amor" que têm pelo povo moçambicano ao retirarem da corrida democrática os dois nomes mais dignos de reconhecimento pelo seu esforço e trabalho nas suas áreas, falo-vos de Eneas Comiche e Daviz Simango. Tanto um como outro presidentes de munícipio, Maputo e Beira, deram provas de competência e entrega ao longo do seu mandato. O aspecto e limpeza da cidade de Maputo conheceram os seus melhores dias sob a liderança de Comiche, acertos havia por se fazer, mas a cidade estava no bom caminho. Quanto a cidade da Beira, dizer o mesmo e acrescentar que como prova de boa governação, o edil daquela cidade recebera até premios internacionais, mas melhor prémio foi e é o reconhecimento dos munícipes da Beira que vêem em Daviz alguém dedicado e competente.

Eis que as grandes máquinas partidárias puseram os seu motores a trabalhar e pelo facto de supostamente estes homens recusarem-se a colaborarem com as "bases" E NÃO OFERECEREM TERRENOS AOS SANGUE-SUGAS DO PARTIDO, NÃO OFERECEREM "LUGARES" A GENTE QUE SE ACHA NO DIREITO PURA E SIMPLESMENTE POR PERTECER AO PARTIDO, RECUSAREM-SE A COLABORAR COM PESSOAS FANTOCHES COLOCADAS PARA VIGIAR E QUEM SABE MINAR OU ATRAPALHAR O SEU TRABALHO, estes homens que trabalhavam para o bem do povo foram afastados. Ora, se quem devia se benificiar do trabalho destes homens era o povo e o povo estava satisfeito, não é necessária muita lógica matemática para perceber que eles deviam ser mantidos onde estavam, continuar a dá-los a oportunidade de fazerem o seu trabalho até o dia que falhassem, aí sim, deviam ser condenados e afastados. É caso para perguntar, será que dentro desses partidos que se afirmam democratas as decisões são tomadas democraticamente ou ao sabor de acordos e negociatas baratas (bem, baratas não)?

Agora prestem atenção para um aspecto curioso, as posturas diferentes dos munícipes de Maputo e Beira perante o mesmo fenómeno, o que na minha opinião foi importante para a resposta de Comiche e Simango. Os cidadãos de Maputo, embora apoiassem e congratulassem o seu edil pelo bom trabalho, não sairam a rua para manifestá-lo publicamente e repudiarem a atitude do partido Frelimo por se colocar à cima do desejo do povo, este que se afirma representante desse mesmo povo. Os cidadãos da Beira sairam a rua, apoiantes declarados que são do seu edil, e exigiram que a Renamo não o afastasse da corrida democrática, este partido que se diz também representante do povo não deu ouvidos e continuou movido por interesses que não são os do povo mas aí é que tiveram uma surpresa. Coisa que eu também esperava de Comiche, Daviz contra todos esses combatentes da fortuna, à pedido do povo e do bom senso, candidatou-se como independente para o lugar de presidente do município.

Eu estou e estarei sempre do lado do povo, pois eu sou povo. O povo não é burro e os seus desejos são movidos pelos seus sentimentos, observação e sabedoria que metade desses políticos com os seus diplomas(?) jamais conhecerão. Se o povo está do lado de Daviz Simango eu também estou e quero aproveitar esta oportunidade para saudar a sua coragem em candidatar-se apenas com o apoio deste povo que é todos os dias vítima destes partidos políticos. Pela sua dedicação, competência, seriedade e compromisso o povo da Beira está com Daviz e eu também estou e acreditem, se Comiche tivesse se candidatado como independente e pelo povo, eu também estaria com ele.

Povo no poder!

Mano Azagaia


Mano Azagaia,


Fico muito feliz em saber que existem jovens com "tomates" neste moçambique onde impera todo tipo de injustiça social que jamais deveria acontecer num estado democrático e de direito!

Fico muito feliz em saber que existe o Azagaia que, particularmente, vejo-te como um "Robin dos Bosques" moçambicano!

Fico muito feliz em saber que de tantas cartas repugnantes que individualidades (escritores, músicos, actores, profissionais de vários ramos dentre eles o Clandestino, claro!) escrevem em jornais e blogs com o intuito de chamar a razão do povo, começa a fazer efeito aos destinatários.

Fico mais feliz, ainda, por saber que de todas estas acções, pouco a pouco estamos a atingir objectivos. Objectivos concretos: deixarmos de ser um povo oprimido e passarmos a reclamar pelas melhorias prometidas; Melhor ainda, estamos a lutar para que os governantes deste país passem a gostar do seu povo... E acreditem, que pouco a pouco já se vê parte da "placa dental", deles, a sorrir! Agora é que não há duvidas que o povo, muito em breve, estará no poder.


Contudo, meu caro "Mano Azagaia", esta luta não será fácil... Lembro-me dum discurso do camarada Marcelino, há um ano atrás: "...Enquanto houver revolução por fazer não há tempo p'ra morrer". Para dizer que, por muito duro que seja, esta caminhada (pelos "direitos" do povo); por mais que a procuradoria intimide a todos que pretenderem chamar a razão dos "direitos" do povo, não podemos parar (estamos "rigorosamente" proibidos de parar). Estamos a meio duma revolução. Duma segunda revolução em moçambique. Talvez a revolução com mais valor, para o povo moçambicano...


Mano azagaia, as injustiças cá na terra, do farweste, são o pão nosso de cada dia. De uns tempos p'ra cá o sofrimento agudizou-se: Antes-de-ontem foram os madjermans a reclamarem que desviaram os seus fundos de pensão; Ontem o povo chorou porque o governo deixou explodir um paiol e não assumiu a culpa, e ainda ontem houve cheias porque o governo não fez as descargas da barragem previamente; Hoje o povo chora porque o pão, arroz e combustível subiu, e vê o governo parado impávido e sereno... Nesta nossa terra, onde a manifestação deveria ser SÓ avisada, os pistoleiros deste farwest, agora dizem que tem que ser autorizada, pode uma coisa destas? É lamentável ver vovós, antigos combatentes, a marcharem pelos seus direitos e serem presos sem direito a defesa, nem visita, de familiares. Se questionarem: Mas que merda se passa neste país? O povo já, intimidado, diz: este país tem dono! Mas quem disse? Mas afinal o dono não somos nós, POVO?


Mano Azagaia, eu vou gritar contigo: POVO no PODER!!!


Mais não disse,

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