terça-feira, 27 de maio de 2008

DEUS TENHA MISERICORDIA DE AFRICA

Xenofobia na África do Sul

Xenofobia na África do Sul: moçambicanos chegam à Maputo aos milhares, fugindo do conflito que está escalar no país vizinho.

Por: FRANCISCO MANJATE

Mais de 3.300 pessoas atravessaram ontem a fronteira entre República da África do Sul (RAS) e Moçambique (posto de Ressano Garcia), fugindo da onda de violência xenófoba que se regista na vizinha África do Sul desde a semana passada. Este número foi registado até às 10:00 horas de ontem, altura em que as autoridades migratórias & fronteiriças fizeram o primeiro balanço do dia.
Dados colhidos pela nossa Reportagem no local indicam que, de segunda-feira até aos princípios da noite de ontem, aproximadamente dez mil moçambicanos terão atravessado aquela fronteira, na sua maioria pessoas que, residindo há vários anos na RAS, vêem-se na contingência de regressar abruptamente ao país. Com efeito, na segunda-feira passaram por Ressano Garcia 2.911 pessoas, e na terça-feira registou-se um movimento de 2.725, na sua maioria pessoas provenientes de Joanesburgo. Estes números, segundo soubemos, são apenas de pessoas que se registaram à sua saída, mas as autoridades migratórias dizem que os dados podem estar muito acima daquilo que está registado oficialmente.

A título de exemplo, até à noite de ontem estava-se à espera que chegassem cerca de dez autocarros trazendo pelo menos 700 moçambicanos que haviam se refugiado nas esquadras e outras instituições governamentais e dos direitos humanos na RAS. Contrariamente ao que está a acontecer a nível de entradas para Moçambique, para o território sul – africano quase não está a ir ninguém.
A nossa Reportagem pôde constatar que grande parte das pessoas que entram para o território moçambicano estão afectadas social e psicologicamente pelos acontecimentos na RAS. Muitos dos que entram para Moçambique chegam sem nada. Dizem que os seus bens foram pilhados e saqueados por grupos xenófobos sul – africanos que lhes intimam a abandonar aquele país.

A violência é extensiva a gente de nacionalidades zimbabweana, malawiana e nigeriana, que também é acusada de fomentar a onda de criminalidade e marginalidade na RAS. Dada a violência dos acontecimentos, muitos dos que chegam não aventam a hipótese de regressar num curto prazo, apesar de terem perdido quase todos os seus haveres, fruto de vários anos de trabalho árduo. [...] Contam que os xenófobos andam em grupos de 20 ou 30 pessoas, armados com paus, catanas, machados, bastões e quando chegam a zonas como Alexandra, Soweto, Thembissa e Germiston, locais onde residem muitos moçambicanos, entram nas suas residências, pilham bens e violentam os proprietários das casas. Há relatos de casos de gente que foi queimada viva nas suas habitações e outra espancada até à morte nas ruas e becos daqueles bairros, depois de os revoltosos se terem apoderado dos seus haveres.

Fonte:
Fotos:
AP/Scanpix & Simphiwe Nkwali

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