segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Eleições 2009: Finalmente caiu o pano, mas e depois?



Aconteceram sem violência relevante nem intimidações de vulto, as eleições gerais moçambicanas de 2009. Como se esperava, Guebuza está a frente dos outros dois candidatos às presidenciais e a Frelimo continua a liderar a corrida às legislativas. Penso que a vitória será retumbante como já profetizava Macuacua!

Dhlakama que parecia ter sido pesadamente vencido por Daviz Simango que eventualmente ainda poderá ser o segundo candidato mais votado, parece ressuscitar e embora suas declarações de desespero, quando diz que irá incendiar o país, nota-se que caminha para uma aceitação sem queixas do processo todo.

Ele, Dhlakama tem que aceitar tudo que der e vier, possivelmente ainda pode ser premiado com a segunda posição, mas não se pode queixar dos resultados, já que ao complicar a vida do Daviz e do MDM, inclusive elogiando as muito criticadas decisões da CNE esperava tirar partido nisso. Esqueceu-se o mais velho que nisto de política tudo vale e que todos podem ser instrumentalizados.

Dhlakama vai incendiar o país se pelo menos não ser o segundo mais votado. Isso porque, se não for o segundo mais votado, a sua carreira de político já terminou. Sim, já terminou mesmo, porque daqui para frente nada mais se pode esperar dele, na medida em que perde não só o posto no Conselho de Estado, mas também muitos dos benefícios que recebia como o líder da oposição. Ficará somente a inscrição de que assinou o acordo de paz com Chissano.

É disso que Dhlakama tem medo, ceder esse posto ao Daviz que apareceu como uma luz para uma parte do eleitorado que já não acreditava muito nas duas forças que são a Frelimo e a Renamo.

Dos outros partidos fora da Renamo, Frelimo e MDM, nada se pode falar. Sabia-o de antemão a CNE, que esses partidos terão a única função de legitimar o processo que se pretende democrático, participativo e inclusivo e, não realmente de fazer alguma diferença na competição politica moçambicana. Nenhum deles conseguiu uma expressão considerável, entretanto podem ser saudados por terem confusionado o processo, com seus nomes e seus símbolos propositadamente escolhidos e alocados em círculos eleitorais.

Alguns foram mais coerentes ao afirmarem abertamente que de oposição não têm nada e que para não gastarem tempo com falatórios, nem gastar dinheiro que já não têm, preferem declarar-se frelimistas. Coisa para dizer que é difícil fazer política em Moçambique. É difícil também, por isso, analisar o fenómeno politico moçambicano.

O Daviz e o MDM apareceram para dar mais esperança ao eleitorado moçambicano na matéria de diversidade de opinião e de participação política. É muito curioso que eles conseguiram maiores votos na escola secundaria Josina Machel e na Polana, locais onde toda a elite politica moçambicana foi votar. Locais onde o próprio Guebuza e seu elenco foram votar. Uma mensagem muito clara de que alguém das mesas do poder já não vota neles. Ao votarem em Daviz e no MDM, não significa necessariamente aceita-lo, mas a dizer que o podem aceitar. Porque não?

Embora a Frelimo possa vir a conseguir a maioria que sempre procurou, já recebeu o recado dos seus partidários que essa maioria só a pode complicar ou destruir. Só a pode tornar mais arrogante e menos preocupado com os reais problemas do povo.

A Renamo vai perder mais alguns assentos e o MDM vai ter pela primeira vez assentos parlamentares. E se o MDM tivesse concorrido no país todo? Alguém dizia: olha nunca faças essa pergunta, ela não tem importância nenhuma. Eu penso que é pertinente perguntarmos isso, porque não foi justa a forma como o tal partido foi excluído. Mas a resposta é simples e clara: teria muito mais assentos parlamentares, veja-se que mesmo em Inhambane onde foi posicionado, conseguiu alguns votos.

Os observadores já saíram a elogiar o processo que foi justo, livre e transparente. Eu acho que, se olharem só para o dia 28 então estão certos, mas se olharem o processo todo então deve questionar-se esse pronunciamento. Muitos dos observadores chegaram no país dois ou três dias antes das eleições. Não podem tirar conclusões precipitadas.

Para uma conclusão coerente e justa, os observadores devem ver o processo todo. As inscrições nos órgãos eleitorais, a pré campanha, a própria campanha, as eleições, a contagem, etc. etc. Não basta ver a cabeça para dizer que viu o animal.

Dos observadores nacionais, tenho a reprovar aqueles que tiveram que atrelar-se ao governo para observarem eleições. Os observadores devem ser independentes. Como é que aparecem observadores que são subsidiados pelo governo? Governo esse que tem o seu partido também como concorrente? Isso é promiscuidade!

Mas ok, as eleições aconteceram e agora a questão é: e depois? E depois o quê? E depois? Será que Dhlakama vai voltar a concorrer pela quinta vez? Será que ele vai continuara a afundar a Renamo? Será que Daviz vai consolidar o seu partido e a sua liderança? Já que uma boa parte do eleitorado acreditou nele e no seu partido? Será que ele vai lembrar-se que a campanha para 2014 começou no dia 29 de Outubro de 2009?

E a Frelimo? E Guebuza? Será que se vão lembrar que os mais de 20 milhões de pessoas em Moçambique são todos moçambicanos, com mesmos direitos e deveres? Independentemente de fazerem parte ou não da Frelimo?

É isso que vamos ver. Entretanto esperemos pelos resultados finais que ainda são uma surpresa. E depois? Esperemos pelos pronunciamentos e pelos comportamentos!

14 comentários:

vania ngoque disse...

Amizade...
Ja esperavamos por estes resultados, a mim particularmente nao me surpreenderam, nao esperava algo diferente. Quanto ao Maceta e hora de dizer ADEUS foi bom enquanto durou, vamos dar oportunidade ao Simango para se firmar como oposicao tem 5anos para o faze-lo e acredito que o fara...
E depois??? Nao haverao boias de salvacao para resgatar a RENAMO, ela que continue afundando dia pos dia. O Simango vai sim consolidar o seu partido e a sua lideranca nos proximos anos e ja poderemos falar de oposicao e talvez para 2014 abordar-se a questao de fenomeno politico que ainda nao existiu.
A FRELIMO e Guebuza continuarao sendo aquilo que sempre foram, nao espero algo novo por parte deles...

Nilton Mubusso disse...

Caros.,
Não duvidava da vitória da FRELIMO nestes pleitos, so receava que os camaradas obtivessem a maioria dos 2/3 na AR.Quanto ao Afonso Dhlakama, incendiário (Foguinho),temia perder a patente de líder da oposição já que prefere acomodar-se por ai, por isso não espero (pelo menos rezo para tal)estar entre o fogo cruzado das AKM´s e entre a surdina das bazucadas sanguinárias nesta terra. Ao Daviz Simango, subtil como é, deve ter percebido o "piscar de olhos" do eleitorado urbano e deve consolidar o seu MDM para aumentar a fasquia deste eleitorado e expressar-se, mais e mais no meio rural para, quem sabe, em 2014 governar o país.
Lamentavelmente....viveremos, literalmente o próximo quinquénio, numa DEMOCRACIA DEFUNTA.

Reflectindo disse...

Boa reflexões estas mano.
Na minha opinião, Afonso Dhlakama recuperou a segunda posicão, mas não a de líder de uma oposicão, pois ele nunca agiu como tal. Acho que seria bom se Daviz continuasse a cooperar com os outros partidos da oposicão como aconteceu nos últimos momentos. Ainda bem que é possível identificar os que estão na oposicão.
De facto, os partidos da oposicão devem/deviam ter comecado trabalhar para as autárquicas 2013 e gerais 2014. Maior apelo que ir para o MDM para o risco não ser o pior nas eleicões vindouras. Falo de a Frelimo vir a ocupar os 250 assentos sozinha. Estas eleicões permitiram ao MDM e Daviz em identificar as bases de apoio e agora é só capitalizá-las para alargá-las. Concordo que é necessário ir para as zonas rurais.
O mais prioritário para o MDM é a realizacão do seu congresso dentro do próximo ano...
A Renamo devia procurar manter-se na arena política mesmo depois das eleicões de 2014, mas não penso ser algo fácil.
Quanto à postura dos frelimistas nos próximos momentos só ficarei surpreendido se eles aceitarem que todos somos mocambicanos.

Unknown disse...

Amizade, Nilton e Reflectindo,

Antes as minhas mais honestas desculpas, por nao ter reagido antes...ando com uns compromissos no job que ne vale a pena xplicar aqui.

Acho que é evidente que esatas ultimas eleicoes truxeram ensinamentos, recados e chamadas de atencao para todos nós. Os que tiverem ouvidos saberao tomar as necessarias precaucoes, os outros todos verao o barco a passa por eles.

Nao é saudavel que numa democracia somente um partido domine tudo, mas quando nao há quem possa competir, ninguem é obrigado a oferecer de bandeja, política nao é caridade.

Os proximos cinco anos serao decisivos para a nossa democracia e nós estamos aqui para fazer alguma coisa. Alguma coisa que possa ser proveitosa para o nosso povo!

Por isso vamos nessa manos!

vania ngoque disse...

Amizade...
Sabias palavras Poder nao e caridade, nao se da de bandeja, isso muitos politicos ja o provaram e o caso de R.Mugabe. O Poder conquista-se ou arranca-se como aconteceu com A.Rajoelina.

Aqui a nossa oposicao deve lutar para conquistar em grande o eleitorado, o que nao me parece dificil, se o MDM em 4-6meses conseguiu arrecadar o nr.de votos que conseguiu imagine um trabalho arduo da sua parte em 5anos...Agora aguardo o dia 12 e as suas reaccoes...espero ate la, ainda podermos ter o dom da vida uma vez que foi posto em causa pelo Maceta.

Unknown disse...

Penso que o MDM tem muito para cresce...mas temo que a avalanche dos antigos renamos que la entraram possa ser um virus ao partido e ao puto Daviz.

As declaracoes do Maceta e seus capangas nao passam de eco sem fonte..puro desespero de quem nao soube aproveitar as poucas chances que teve para se singrar na politica mocambicana.

Incendiar, dividir, etc...ja nao fazem parte do vocabulario deste país!

Bom dia mia linda...

NILZA CHIPE disse...

Caro Duma,

Estava claro que o MDM conquistaria o seu espaço, só um cego é que não vê. Afinal,é um partido de dissidentes e como tal, os ex membros e simpatizantes da renamo tornaram-se do MDM. Não creio que tenha sido uma conquista para o MDM, para mim apanharam a boleia daqueles que nunca votaram na Frelimo mas também não queriam votar na RENAMO, logo, votaram no MDM.

PS: Duma,

Meu kanimambo especial pela tua entrega na defesa dos direitos humanos. Thanks em nome da pequena (grande) amizade que construímos.

Continua assim disponível para o povo!!!

Nilza

Reflectindo disse...

Penso que sempre muito interessante quando tivermos muito todos os mapas eleitorais.
A verdade é que em Mocambique e a partir das eleicões de 2004 ou mesmo de 1999 houve sinal de um terreno fértil para um novo partido, pois muitos não votam nem para a Frelimo nem para a Renamo. Talvez a Renamo podia capitalizá-los se aceitasse se (re)organizar, mas ainda restariam muitos eleitores para uma terceira-forca.

É verdade que para que o MDM precisa de combater eventuais antigos hábitos. E os piores hábitos podem ser o que muitos recusam a modernismo. Se formos a ver os seus apoios, o MDM tem que apostar a ser um partido moderno.

Unknown disse...

Nilza,

muito obrigado pela força que me dás, mas antes devo dizer que nao posso de comum mortal, igual a tantosoutros jovens que acreditam neste país, nos seus líderes e na sua história.

O que fazemos, nao passa de um exercicio normal de cidadania, que pretendemos seja plena.

tu, és uma pessoa que admiro, sempre com as ideias bem colocadas, falando verdades sem ofender e se atacar. és uma inspiracao e acredita que a minha mao, mais a tua e mais as maos de muitos milhares de jovens deste país, espalhados neste país, vamos pouco a pouco construir a nossa pátria.

Reflectindo,

o MDM precisa de pelo menos duas coisas, uma já disseste, que é a modernizacao e a outra é a efectividade, isto é, ser um partido de ambito nacional, coerente, inclusivo e determinado, com a mesma postura no país inteiro.

A ver vamos!!!

Nilton Mubusso disse...

Manos Duma e Reflectindo.,
Concordo com os vossos pontos quando dizem que o MDM deve crescer politicamente, eliminar possiveis fontes de contaminação de "viroses" vindas dos dissidentes da Renamo e, prioritário, realizar o seu I Congresso e eleger o Secretário Geral.
É evidente que qualquer partido organizado, coerente e com agenda de governação clara, entra para os pleitos eleitorais para vencer tudo em disputa, analogamente ao que acontece no futebol (ex:FCPorto penta campeão). O adversário é que deve contrariar a acção do opositor com trabalho árduo e não refugiar-se na atraente saida, dos preguiçosos,de culpabilizar os outros pelos seus erros.
Quanto a Frelimo e seu (e de todos os Moçambicanos) Presidente Guebuza, espero bem que cumpram com a promessa de respeitar a Constituição da República vigente.
Avante Moçambique.

Chauque disse...

estas foram as eleiçoes mais renhidas sem duvidas, a Frelimo tem resultados historicos do Partido, a Renamo permaneceu no 2º depois de muita oscilação dos resultados preliminares,e teve os piores resultados na sua historia, 3º MDM que começou com boms resultados para a sua historia,mesmo reduzido a 4 provincias

a maior parte dos partidos da oposição em Africa sao formados por dissidentes, e eses partidos nao vivem de boleia dos indicisoso dos outros partidos, mas sim dos seus ideais que mantem os membros em actividade permanente na devulgaçao dos seus objectivos para mais membros angariar inclusivo os nao membros nem simpatizante de nenhum partido, sera que os primeiros partidos que temos que ser membro na viad é Renamo/Frelimo,claro que nao

pra mim o MDM saiu a ganhar SIM , e muito nessa eleiçoes, um partido com menos de 6 meses eleger 8 deputados, primeira vez na historia democratica do Pais, tudo requer o seu tempo

Unknown disse...

Chauque...aos poucos chegamos la...

O país precisa de ser democratico...nenhum país consegue sobreviver sem isso.

Tem k haver muitos Daviz e muitos MDMs

Paz

Anónimo disse...

Caro Duma,
O que significa "Aconteceram sem violência relevante nem intimidações de vulto..."?
Ha violencia relevante e outra irrelevante? Ha intimidacoes relevantes e outra sem relevo?
E depois, nao concordo com estas afirmacoes. Para mim estas foram as eleicoes mais violentas de sempre.
Antes de analisarmos a "tal vitoria", devemos ver muitas outras coisas envolventes. Eh esta nossa falta de rigor que nos poe onde estamos em termos de desenvolvimento. Devemos ser mais exigentes e rigorosos e nao minimizar as coisas dizendo coisas como "sem violência relevante", ou "nem intimidações de vulto".
Se essa violencia caisse sobre (mim ou sobre Duma), diria a mesma coisa? Certamente que nao!!
Portanto, violencia e sempre violencia e intimidacao e sempre intimidacao. Devemos condenar isso tudo e exigir um tratamento juridico disso.
Vou assinar anonimo senao vai cair sobre mim uma "violencia irrelevante".

Unknown disse...

Caro Anónimo,

muito obrigado pelos pontos que levanta nesta discussao. Concordo contigo quando critica a nossa falta de rigor e quando chama os conceitos no seu sentido mais absoluto.

O que eu procurei mostrar com relevante e de vulto, foi olhando para a avaliacao do processo, tipo, as tais situacoes, nao foram relevantes para dizer que no dia 28 houve violencia e intimidacao. Houve sim violencia e intimidacao, mas em prporcoes tao pequenas e insuficientes para desqualificar o dia da eleicao.

Agora, é tambem verdade que o processo todo foi machado de muitas inregularidades e isso eu tb critiquei e chamei atencao no texto, esperando que os observadores tenham isso em conta.

Tentei colocar no meu texto dois momentos, o anterior ao dia 28 e o proprio dia 28.

Mas concordo contigo caro Anonimo. precisamos ficar mais atentos e chamarmos as coisas pelos seus nomes. Assim tb como temos que aceitar nao chamar nomes a quem nao os tem!

Aqui, rezo para que nao haja violencia nem intimidacao, seja ela de vulto, relevante ou seus inversos. Estas sempre bem vindo quando vens na paz!