domingo, 1 de março de 2009

Monangambé




















Por: Ruy Mingas


Naquela roça grande
não tem chuva
é o suor do meu rosto
que rega as plantações;
Naquela roça grande
tem café maduro
e aquele vermelho-cereja
são gotas do meu sangue
feitas seiva.



O café vai ser torrado
pisado, torturado,
vai ficar negro,
negro da cor do contratado.
Negro da cor do contratado!



Perguntem às aves que cantam,
aos regatos de alegre serpentear
e ao vento forte do sertão:



Quem se levanta cedo?
quem vai à tonga?
Quem traz pela estrada longa
a tipóia ou o cacho de dendém?
Quem capina e em paga recebe desdém
fuba podre, peixe podre,
panos ruins, cinquenta angolares
"porrada se refilares"?



Quem?
Quem faz o milho crescer
e os laranjais florescer?
- Quem?
Quem dá dinheiro para o patrão comprar
máquinas, carros, senhoras
e cabeças de pretos para os motores?



Quem faz o branco prosperar,
ter barriga grande
- ter dinheiro?
- Quem?



E as aves que cantam,
os regatos de alegre serpentear
e o vento forte do sertão
responderão:



- "Monangambééé..."



Ah! Deixem-me ao menos subir às palmeiras
Deixem-me beber maruvo
e esquecer diluído
nas minhas bebedeiras



- "Monangambéé...'"


PS.

Monangambé (O contratado) eram angolanos negros contratados para trabalhar nas roças dos brancos, na era colonial. Por vezes, em províncias de Angola bem distantes dos locais onde viviam.

1 comentário:

Feling capela disse...

Texto actual. :(