quinta-feira, 24 de abril de 2008

Para Que São As Armas

Zimbabwe


No próximo mês de Maio, África fará mais um ano de existência como uma organização ou união de Estados. Tanto quanto me lembro, a então Organização da Unidade Africana foi criada para proporcionar uma plataforma aos movimentos de libertação da altura a lutarem pelas independências de seus Estados.

Anos depois, acreditou-se que todos os países africanos estavam independentes e que já não fazia sentido uma Organização da Unidade Africana mas uma União Africana para zelar pelos interesses económicos desses países independentes.

O que me intriga até hoje é que tal interesse económico procurado e prosseguido pelos novos países africanos, já em pleno século XXI, reduz-se ao benefício pessoal de seus mais altos dirigentes, familiares e simpatizantes.

O poder em África é símbolo de riqueza, segurança e prosperidade. Em África quem tem poder tem tudo que um homem precisa para viver plenamente como ser humano, dai o facto dos dirigentes não quererem deixar o poder.

Este pode ser o caso de Mugabe. Duvido que ele queira tanto estar no poder para ter riqueza. O homem já é rico demais. Ele não é louco para ficar no poder mais de 28 anos e continuar pobre.

O caso de Mugabe pode ser segurança, garantia ou os dois juntos. Mas porque é que Mugabe quer segurança, porque é que ele quer ter garantia? Segurança e garantia de quê? De quem é que o Mugabe tem tanto medo assim que recusa redondamente a hipótese de deixar o poder?
Com certeza que teme o povo. O povo de quem já não é legitimo representante.

A ciência política, manda que todo o líder, por mais tirano que seja, precise da legitimidade da maioria do seu povo, só assim é que ele se sentirá fortalecido e protegido o suficiente para dar continuidade com os seus projectos. Independentemente se tais projectos são ou não são justos, o apoio da maioria é a grande chave.

E uma das chaves que o soberano tem de sempre ganhar o apoio da maioria é mante-lo na ignorância. Assim, o povo não sabe distinguir o certo e o errado, limitando-se só a dar vivas e a concordar com a voz mais alta.

Mas esta não é a realidade do Zimbabwe. É claro que o Zimbabwe encontra-se mergulhado num abismo de crise e sofrimento, mas o seu povo não é assim tão analfabeto e ignorante. É diferente de Moçambique e Angola onde a taxa de analfabetismo atinge cifras acima de 50%.

Alguém poderá dizer que é falso que o Mugabe esteja com medo do povo que já não o reconhece como legitimo representante. É aqui que eu pergunto: para que são as armas?

É claro que cada Estado tem a obrigação de pensar na sua segurança, o que implica mobilizar todos os recursos humanos e materiais necessários, ter o seu arsenal militar devidamente equipado e preparado, para alem de uma forca militar devidamente treinada e renovada. E o Zimbabwe já provou na altura da guerra civil em Moçambique que é capaz de ter uma forca de alta qualidade.

Mas o Zimbabwe não está numa paz ameaçada. Zimbabwe não está a sofrer nenhuma pressão militar externa nem está a sofrer ameaças terroristas. Para que são as armas então?
Para que são as armas? Esta é uma pergunta que só Mugabe pode responder. Só Mugabe e alguns seus companheiros da região sul de África podem dizer para que são as armas.

Como hipótese podemos pensar que Mugabe quer as armas para lutar contra o povo zimbabweano. Esta pode ser eventualmente a resposta mais correcta para a pergunta colocada, lutar contra o povo zimbabweano.

Mas porque é que um líder chega a tomar uma decisão tão pesada como esta? Procurar armas, para lutar contra um povo que durante anos e anos o suportou, o protegeu e o encorajou? Isso só pode acontecer porque o povo já não o suporta mais e porque mesmo assim ele não quer deixar o poder.

Penso que Mugabe não perdeu eleições a favor do seu opositor. Mugabe está na hora de descansar e se ele não pode ver isso, o povo pode ver e, acaba de prestar-lhe um especial favor, descanso. Mas como ele já não acredita no povo, não quer aceitar.

O tal barco anda sumido, mas dizem que continua em Moçambique. Eventualmente ele será descarregado em Moçambique, isto é, em Pemba, Beira ou Maputo. Se tiver que ser, ninguém duvida que assim será. A amizade serve para isso mesmo, estar com os amigos até ao último momento da vida.

Só que as armas serão usadas contra o povo e não contra o inimigo. Se no Zimbabwe há um inimigo, só pode ser o próprio Mugabe, porque o povo está sempre certo. A vontade do povo é que faz o Estado, é a vontade do povo que mantém o líder no poder. Se a vontade do líder for contrária a do povo, então é importante que este revise os seus posicionamentos.

O povo é sagrado. A vontade do povo é sagrada também. É isso que os governos africanos devem saber. O povo deve ser intocável, porque é ele que assegura o poder do líder. Por isso mesmo, apoiar um líder que quer lutar contra o povo, sabendo que esse povo é sagrado e que a sua vontade é também sagrada, é lutar contra a dignidade do ser humano, contra os direitos humanos, contra a liberdade de África.

Neste preciso momento, apoiar Mugabe em detrimento do povo zimbabweano, significa o mesmo que apoiar Mugabe contra a humanidade inteira.

O navio que transporta as tais armas, anda desaparecido. Desaparecido significa que foi escondido e que a carga será encaminhada para o Zimbabwe secretamente. Isso significa conspiração e traição. É contra isso que todos nós devemos lutar, não deixar que a União Africana ou a SADC se transformem em clubes que visem salvaguardar interesses de seus membros: Chefes dos Estados, Chefes dos Governos, Primeiro Ministros e Ministros, mas que estes organismos se transformem em garantias para o pleno exercício da cidadania africana.

Sinto muito que, em Maio, a África faça mais um ano de existência como União e mesmo assim os seus líderes continuem a conspirar e a trair o povo.

1 comentário:

Anónimo disse...

May be you watch out for the Air Zimbabwe flights from Beijing International Airport to Harare