sexta-feira, 29 de maio de 2009

CARTA ABERTA AO PRESIDENTE DA RENAMO


por Maria Moreno

Maputo (Canal de Moçambique) -
Exmo. Senhor Presidente do Partido RENAMO Maputo. Excelência. Escrevo-lhe, Senhor Presidente, porque não é bom que eu me afaste sem uma palavra, uma explicação – depois de tantos anos de convívio, em que o senhor representou uma boa parte da nossa Esperança colectiva, depois de tantos anos juntos “na trincheira” pela liberdade, pela Democracia.
Os moçambicanos sonharam com a Independência, nutriram esse sonho, essa Esperança e alcançaram-na. Nós estávamos lá. Depois veio a guerra, por causa da Esperança (sempre por causa dela), essa Esperança que se recusa a morrer – dizia eu, veio a guerra.
A guerra ainda tão recente, mas também e, felizmente, atirada para a história, para o passado, para uma gaveta que nunca mais quereremos reabrir – é bom que não queiramos reabrir. Senhor Presidente, depois veio a guerra, qual filme de Akiro Kurosava, o Senhor Presidente era o senhor da guerra – majestoso, imparável. Dos relatos, contos e ditos, o senhor era o grande comandante.
Senhor Presidente, depois veio a PAZ – o abraço em Roma, depois de tantos avanços e recuos (espero que alguém um dia escreva a saga da assinatura do Acordo Geral de Paz – AGP – uma pequena sigla, não é?). Depois, Senhor Presidente, veio o AGP. Aí sim, o AGP foi para todos os moçambicanos e amigos de Moçambique um alívio, um renascer da Esperança (outra vez a Esperança!)
Mas que Povo é este que precisa de esperança como de “pão para a boca”, como de ar para respirar? É o Povo Moçambicano do Rovuma ao Maputo que sabe que tem um enorme potencial, que sabe que este País é viável e que a sua fé e esperança não são vãs. Depois veio, Senhor Presidente, a implementação do AGP – o tal da pequena sigla, mas de grandes repercussões em nossas vidas -, com pleitos eleitorais perdidos de forma difícil de entender, prisões e mortes. E fomos ficando parados no tempo, estáticos, ultrapassados.
Escrevo-lhe, Senhor Presidente, para lhe dizer que não conte mais comigo nas fileiras da RENAMO, me desligo do Partido. Por causa da Esperança que nunca perco, me desligo do Partido. Agradeço-lhe o ter-me confiado a direcção da Bancada Parlamentar da RENAMO-União Eleitoral, onde dei o melhor de mim para que todos se sentissem com direito à visibilidade que é a arena dos politicos e para que o nome da RENAMO soasse alto.
Talvez o Senhor não saiba, mas contraí uma dívida na BRUE – trinta mil meticais - para preparar a campanha eleitoral das Autárquicas de Novembro de 2008, para acrescentar aos outros trinta mil que Vossa Excelência me enviou e a mais duas centenas de milhar de Metical que pude investir naquele esforço.
Não gostaria de manter-me endividada por muito tempo, por isso, honrarei meu compromisso de devolver a quantia solicitada à Bancada. Escrevo-lhe esta carta em memória da minha mãe que sempre me incentivou para a luta, em honra de meu pai que não desistiu de lutar e por respeito a tantos compatriotas que não perderam a Esperança. Termino, desejando muita saúde para si e Familia.
Maputo, aos 28 de Maio de 2009

segunda-feira, 25 de maio de 2009

África: o Começo e o Fim da Humanidade!

Quero nesta edição da semana dedicar a minha pequena reflexão ao dia de África que hoje dia 25 de Maio se comemora ou pouco pelo todo o continente. Para alem de ser africano sou paniafricanista e acredito neste continente. Espero um dia, enquanto ainda em vida ver a realização do sonho de muitos filhos desta terra, o fim das guerras e da pobreza absoluta.
África, o segundo continente mais extenso e mais populoso do mundo é onde o primeiro homem teve vida, ou seja, é aqui em África que se firmou o berço da humanidade. Embora com uma história que muitos recusam-se a aceitar, encontramos em África vestígios e fortes sinais de grandes obra de arquitectura e engenharia, vestígios de grandes impérios e até de ideias de repúblicas antes dos europeus cá chegarem, encontramos em África vestígios de um povo que com coragem, sabedoria e empenho soube resistir todos os perigos dos tempos.
Até já se escreveu que, antes mesmo dos europeus começarem com as suas expedições pelo mundo fora, ao que mais tarde vieram a designar de “descobrimentos”, os africanos já tinham visitado as Américas, sem no entanto se interessarem em explorar, trouxeram de lá, cães como lembranças.
A 25 de Maio de 1963 os africanos fundaram a Organização da Unidade Africana, mais tarde somente União Africana. Entretanto a ONU, em 1972, determinou que o dia 25 de Maio fosse conhecido como o dia de África e representasse a luta do povo africano pela sua independência e emancipação. Que representasse a memória colectiva dos seus povos e o objectivo comum de união e solidariedade.
Marcus Garvey sempre dizia: de África sobrevirão os verdadeiros embaixadores, isso citando a Bíblia. E é o que hoje estamos a ver, a África aparece como a esperança do mundo novo. Enquanto se faz uma campanha desenfreada para limitar a procriação, oferecem emprego sub-humano a gente qualificada, introduzem no mercado medicamentos fora do prazo ou em teste.
Obama veio de África e isso já estava contemplado na profecia. Hoje a igreja europeia, prega um novo evangelho, segundo o qual, o verdadeiro reavivamento espiritual da igreja, sobreviverá de África e milhões de almas serão abençoadas.
Ao mesmo tempo que África é o começo da humanidade, este continente é o fim da humanidade. Não fim do ponto de vista de intelectualidade, mas da esperança de que tudo pode recomeçar. E o povo que gosta de ter esperança vai cantando e saltando. Mesmo sabendo dos golpes da União África em relação ao Zimbabwe e Quénia e mais tarde sobre Madagáscar.
Embora quase todos os países africanos sejam independentes, um pouco próximos da metade, continuam dependentes economicamente. Os índices da corrupção são cada vez mais altos e o índice de desenvolvimento humano é um dos que nunca cresce. Dizem que alguns países acentuam um desenvolvimento económico considerável, mas é considerável também o nível da desigualdade, das injustiças sociais e da impunidade.
Mais do que um continente do futuro, dada a sua história, a sua riqueza cultural, o seus recursos minerais e até recursos humanos, a África continua sendo um continente sujado pelos seus próprios filhos, principalmente por causa da ganância ao poder e a riqueza e pelos estrangeiro que conhecem a potencialidade desta terra.
Ao mesmo tempo que se pilha, se suja e se humilha África, não se sabe para onde o continente e o seu povo caminham, a agenda é externa e a luz não brilha aos olhos de quem dirige.
A cada 25 de Maio, volto a colocar os meus joelhos no chão e visualizo aquela África com que a maioria dos africanos sonham. Visualizo uma África mais africana e onde todos os africanos podem usufruir da sua riqueza, pureza e beleza.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Justiça Cultura e Minérios Nacionais



Finalmente foram aceites pelo povo os novos titulares das pastas do Tribunal Supremo, do Tribunal Administrativo e do Conselho Constitucional. Embora a bancada parlamentar da Renamo União Eleitoral tenha mostrado o seu desagrado a Assembleia da República fortemente dominada pela bancada da Frelimo deu como positiva a escolha de Guebuza nos novos nomes da justiça moçambicana.

Seja como for, a justiça não é feito por um só homem. Independentemente das capacidades e os compromissos pessoais dos novos titulares novos desafios foram lançados na edificação do nosso Estado de Direito. O constante recurso à justiça privada e a desconfiança que se tem em relação aos órgãos de administração de justiça são com certeza os principais desafios desses novos nomes.

Começou o julgamento de Alexandre Balate, suposto executor de Abranches Penicelo. Mais uma vez a justiça moçambicana é testada na barra do tribunal e o Estado é questionado sobre a conduta dos agentes que confia a missões de segurança pública. Mais do que um caso de homicídio, este é um caso de medo, de dor de intimidação, de abuso de poder e sobretudo de imprevisibilidade. Não se sabe ao certo se estamos no começo ou no fim do caso. Se as mortes já aconteceram ou ainda vão acontecer. Nada melhor que esperar para ver. Nisto o governo anuncia que vai acabar com a PIC para criar os serviços nacionais de investigação criminal (SICRIM).

Já Domingos Rosário teve uma semana repleta de realizações. Para quem não sabe, Rosário é o Director Nacional da Cultura. Homem bastante dedicado e cometido às causas da nossa terra. Para alem de estar em frente da semana da cultura, participou do lançamento de duas grandes obras que remetem a província de Manica. Manyica que é uma breve história da Cidade de Manica é da sua autoria e a Antologia de Jovens Escritores de Manica, que ele organizaou.

UNOREMA, união para organização dos escritores de Manica reuniu na década de 90 jovens escritores basicamente estudantes do IAC, Instituto Agrário de Chimoio e nela se destaca Raul Gonçalves que aparece na obra com o pseudónimo de K-Nino. Raul Gonçalves que nasceu em Nampula e foi um dos fundadores da unorema, morreu em Chimoio em 2004, depois de ter passado pelo Instituto de Comunicação Social e pela Igreja Evangélica Assembleia de Deus.

A semana da cultura, para alem de ter sido coroada de várias palestras onde se destaca a de Marcelino dos Santos, este antigo combatente que nas artes responde pelo pseudónimo de Kalungano, teve a proeza de inventar a aldeia da Cultura que curiosamente aconteceu na Av. Samora Machel, em frente ao franco moçambicano, ao Gil Vicente e a sua própria estatua ao lado do Jardim Tunduro. Realçar que foi Samora quem escreveu o poema em que se lê algo parecido com o seguinte: a cultura é como a suruma no sangue do povo.

Entretanto o caso Cahora Bassa continua nos jornais, agora envolvendo os países de origem dos tais guerreiros do Orgone. Portugal e Botswana estão preocupados com os seus cidadãos citados na suposta sabotagem da barragem. Por outro lado os avisos da gripe dos porcos continuam um pouco por todo o mundo, já se diz que foi detectado um caso ou mais na África do Sul, o que significa que não falta muito que chegue a Moçambique.

Para terminar, vale a pena dizer que Tete está a nascer como o centro dos minérios do país. Já é até difícil ter uma reserva em hotéis naquela cidade porque as empresas mineiras como a Vale e a Riversdale tomaram conta de todos e até das viaturas de aluguer. Somos obrigados a ficar atentos senão o povo ainda é mais uma vez enrolado.

domingo, 17 de maio de 2009

quarta-feira, 13 de maio de 2009

A Gripe Suína: A Raiz da Ameaça Global

A Organização Mundial de Saúde (OMS) alerta que pelo menos dois milhões de pessoas podem vir a ser infectados pela gripe suína que se sabe ter iniciado numa pequena cidade em México e se alastrado para os Estados Unidos, o Brasil e outros locais próximos.
Na sequência, a FAO, Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação garante que não há perigo em consumir a carne de porco. Esta posição foi também reforçada pela OMS e pela Organização Mundial para a saúde Animal.
Comentários sobre o sinal de alerta emitido pela OMS, referem que não significa que os dois milhões de pessoas que podem vir a ser contaminados vão todos perder a vida. Se calhar, a metade desse número nem terá a gripe na sua dimensão intensa, o que de todas as maneiras deixa no ar que o perigo é grande e que essa outra metade, portanto um milhão de pessoas, tem a possibilidade de ser seriamente atacada e estar a beira da morte.
A situação agrava-se com o facto de, em muitos países do hemisfério sul se estar a entrar para o inverno, época propícia para a propagação da doença que desta vez partiu dos porcos. Imaginem os muçulmanos e outros religiosos que já consideram o porco um animal impuro.
Mas afinal de contas como é que chegamos a esta situação? Uma situação em que os porcos contaminam e perigam a vida dos homens? Homens esses que criam vários animais para a sua alimentação, diversão e uso como companheiro de lazer ou trabalho?
Tudo começou com as corporações e o uso dos países pobres como espaços para actividades proibidas em países ricos. Essas fugas ajudam as corporações e as grandes companhias a investirem em territórios com maiores benefícios fiscais, territórios com regras laborais muito fragilizadas e as vezes sem um sistema fiscal realmente funcional.
Gostam também de investir em territórios onde a mão de obra é barata e onde as políticas de protecção do meio ambiente são quase inexistentes ou no seu estado embrionário. Gostam de investir em territórios com judiciário frágil e vulnerável a corrupção e onde o nível de escolaridade dos cidadãos é baixo.
Na verdade, tudo começou com companhias irresponsáveis, dedicadas somente ao lucro e que beneficiando-se de grandes isenções fiscais, vão enganando os cidadãos com pequenas obras de beneficência que chamam de responsabilidade social.
A gripe suína começou em uma pequena cidade do México chamada Vera Cruz. É provável que ela tenha saído de uma gigantesca fazenda industrial de criação de porcos mantida por uma corporação multinacional americana. Sabe-se que essas fazendas industriais embora perigosas e repulsivas se multiplicam rapidamente.
Dentro das fazendas, ou quintas, os porcos, em número de milhares, são comprimidos para dentro de celeiros imundos e recebem um jacto com um coquetel de drogas pondo em risco sanitário não só a alimentação das pessoas mas também a dos que cuidam desses animais.
Segundo o abaixo assinado da AVAAZ, que subscrevi e nele manifestei o meu posicionamento, os porcos e suas lagoas de estrume criam as condições ideais para gerar novos e perigosos vírus como a GRIPE SUINA. Entretanto, mesmo que isso seja sabido pelas autoridades, pouco ou quase nada é publicado pela mídia e as grandes empresas de agro negócio tentam minimizar o problema procurando obstruir qualquer tentativa de reforma.
Entretanto, Mauro Santayana colunista do Jornal do Brasil afirma no seu texto com título Coisas da Política – A Gripe dos porcos e a Mentira dos Homens que os moradores da região donde partiu a doença “não têm dúvida: a fonte da enfermidade é o criatório de porcos, que produz quase 1 milhão de animais por ano. Segundo as informações, as fezes e a urina dos animais são depositadas em tanques de oxidação, a céu aberto, sobre cuja superfície densas nuvens de moscas se reproduzem.”
O mesmo autor continua afirmando que algumas das referidas empresas “haviam sido expulsas da Virgínia e da Carolina do Norte (nos EUA) por danos ambientais. Dentro das normas do Nafta, puderam transferir-se, em 1994, para Perote, com o apoio do governo mexicano. Pelo tratado, a empresa norte-americana não está sujeita ao controle das autoridades do país. É o drama dos países dominados pelo neoliberalismo: sempre aceitam a podridão que mata”. Para alem de que uma gripe perigosa havia sido detectada na mesma região no ano passado.
Hoje, estando as organizações mundiais, devidamente credenciadas para abordar a matéria a anunciar a possibilidade da propagação da doença para cerca de 2 biliões da população mundial. Já se sabe que população é essa, com certeza que são os pobres. Aqueles que moram em países onde não há condições para comprar as máscaras que vemos nas pessoas nesses países já atacados.
A história é quase a mesma, o objectivo é de enriquecer alguns poucos já enriquecidos em prejuízo de uma maioria já empobrecida e sem capacidade de litigar pelos seus próprios direitos. É verdade que não estamos no fórum das acusações, mas uma reflexão mais aprofundada é exigida aos governos quando decidem sobre situações que dizem respeito a grandes corporações, que pouco depois se transformam em monstros devoradores dos seus próprios trabalhadores e das populações humildes moradores das redondezas.
O tipo de mal que aqui se refere, lembra-nos as grandes empresas que temos hoje em Moçambique, corporações multinacionais de produção de gás, de alumínio ou outros minérios ou recursos naturais. Com tanta terra fértil e água limpa que este país tem, não tardará que grandes agro industriais se instalem cá.
Para amenizar o mal que elas criam, essas grandes corporações vão criando pequenos projectos comunitários e pagam altas somas às televisões, às rádios e aos jornais para fazerem uma publicidade incansável, incutindo na crença pública de que estão a melhorar a vida das pessoas, mesmo sabendo que as estão a matar lentamente e a longo prazo.
Não estou a pregar contra algum tipo de investimento nacional ou multinacional, mas estou a exigir maior responsabilidade dos nossos governantes e das grandes corporações. Às vezes é melhor empodeirar mais a população com educação e projectos de rendimento relativamente reduzidos e controlados do que aceitar essas grandes companhias que em muitas situações só utilizam o nosso território, a nossa mão de obra e até os nossos recursos como objectos descartáveis e prontos a serem deitados fora quando já não podem servir.
Continuemos a rezar para que a Poderosa Mão de Deus não deixe de amparar os pobres. Pobres esses que sobrevivem somente pela sua graça. Falo dos povos no Hemisfério sul. Já imaginaram o efeito que um gripado poderia criar ao entrar em Moçambique pelo Aeroporto Internacional de Maputo?

domingo, 10 de maio de 2009

HOJE, 11 de Maio: 28 Anos Sem Bob Marley


Hoje, 11 de Maio de 2009, passam exactamente 28 anos que Bob Marley passou desta para o alem e mesmo assim, continua a ser um dos mais influentes músicos da humanidade e um dos que mais discos vende. O seu legado aos homens é inquestionável e a sua aceitação em quase todas as culturas do mundo é o sinal da realização do seu sonho: um mundo sem fronteiras, one love, one heart!

A Semana 3: De Cahora Bassa à Zuma uma Série de Perguntas.



A semana que finda, foi marcada por dois acontecimentos de grande vulto. O primeiro é nacional e tem a ver com a Cahora Bassa, a barragem hidroeléctrica situada na província de Tete e que agora é nossa. A segunda tem a ver com a tomada de posse de Jacob Zuma, o quarto presidente sul africano desde o fim do Apartheid na década 90.

Embora se insista que houve sabotagem, até agora ninguém consegue provar a tal sabotagem de Cahora Bassa. Ao lado do que se diz e se supõe, saiu a tona que os implicados são guerreiros de uma corrente que acredita na protecção e na purificação através de mineiros e em Tete, só estavam a fazer que várias vezes fizeram no país e em outras partes do mundo.

Os quatro entraram no país legalmente, embora com os produtos e equipamentos que hoje lhes incriminam. Mais do que acusar os caras é preciso ver a nossa capacidade de prevenir o crime e garantir a segurança. Nem a SISE que é famosa ficou a saber do que estava a acontecer. Suponho que a polícia só ficou a saber do web site dos quatro acusados, quando a mídia e os blogs começaram a analisar os factos.

Enquanto o país se debate com questão Cahora Bassa, a África saúda a tomada de posse de Jacob Zuma como o quarto presidente negro sul africano. Embora vítima de várias acusações por alegados escândalos financeiros e sexuais, Zuma parece ter conquistado a confiança do povo sul africano e de muitos líderes africanos. Notou-se na pomposa festa da sua tomada de posse a ausência dos líderes não africanos.

Robert Mugabe, a quem Zuma acha que deveria resignar a ambição pelo poder, fez-se presente a saudar o seu homologo, este que é agora o presidente mais importante da região senão da África toda. Espera-se que o Zimbabwe consiga acertar as suas agulhas com o JZ.

O populismo de Zuma pode muito bem rimar com as presidências abertas de Armando Guebuza. Parece que o povo gosta de líderes presentes, que falam, que dançam que cantam e que comem com ele. Mas porque parecer não é ser, espera-se eventualmente bons momentos entre Moçambique e a África do Sul, embora isso não venha a significar uma automática melhoria das condições do povo.

Tendo o presidente Armando Guebuza terminado a sua viagem ao norte do país, no seu habitual contacto com os cidadãos, ouviu o quanto o povo ainda espera que os dirigentes sejam mais transparentes, prestadores de contas e que reagem em tempo útil às questões sociais a nível local. Pena mesmo é que os indicadores de avanços para cada presidência aberta não estejam abertos a todos.

A gripe suína ainda levanta assuntos. Agora sabe-se que ela partiu de grandes fazendas de criação de porcos e que não foi a primeira vez que ela desponta. Sabe-se também que o medicamente de prevenção dessa gripe é tão caro que eventualmente não será usado pelos pobres, mesmo sabendo que a OMS estime que pelo menos 2 biliões de pessoas venham a pegar a gripe.

Parece que os bloguistas moçambicanos querem constituir um movimento mais sério. Seria uma óptima ideia. Só não sei se não vai desvirtuar o conceito da blogsfera. Eu quero continuar a entrar e a sair do meu blog como se estivesse a agir no meu quintal, em minha casa e, antes que roubem também o animal, depois do racional vou continuar a pregar um movimento de blogistas livres e independentes.

Hoje, 11 de Maio de 2009, passam exactamente 28 anos que Bob Marley passou desta para o alem e mesmo assim, continua a ser um dos mais influentes músicos da humanidade e um dos que mais discos vende. O seu legado aos homens é inquestionável e a sua aceitação em quase todas as culturas do mundo é o sinal da realização do seu sonho: um mundo sem fronteiras, one love, one heart!

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Afinal de Onde Vem a Gripe dos Porcos? Porquê o Mistério?

Aqui está o e-mail completo da Avaaz:
Caros amigos,

Ninguém sabe ainda se a gripe suína vai se tornar uma pandemia mundial, mas está ficando cada vez mais claro de onde ela veio: muito provavelmente de uma gigantesca fazenda industrial de criação de suínos mantida por uma corporação multinacional americana em Veracruz, México.
Essas fazendas industriais são repulsivas e perigosas e se multiplicam rapidamente. Milhares de porcos são brutalmente comprimidos para dentro de celeiros imundos e recebem um jato com um coquetel de drogas, pondo em risco sanitário mais do que simplesmente nossa alimentação. Esses animais e suas lagoas de estrume criam as condições ideais para gerar novos e perigosos vírus como o da gripe suína. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização para a Agricultura e Alimentação (FAO) precisam investigar e criar mecanismos de controle para essas fazendas a fim de proteger a saúde do mundo.

Grandes empresas de agronegócio tentarão obstruir qualquer tentativa de reforma, então precisamos de um protesto em massa que as autoridades de saúde não possam ignorar. Inclua seu nome neste abaixo-assinado pedindo uma investigação e controle de fazendas industriais e divulgue-o entre seus amigos e familiares, que nós o entregaremos aos órgãos da ONU. Se conseguirmos 200.000 assinaturas, entregaremos o abaixo-assinado à OMS, em Genebra, juntamente com um rebanho de porcos de papelão. Para cada 1000 assinaturas, acrescentaremos um porco ao rebanho:

Na semana passada, a gripe era o único assunto: o México tem estado quase em paralisia e em todo o mundo as autoridades suspenderam o tráfego aéreo, baniram as importações de carne de porco e iniciaram drásticas medidas de controle para atenuar a propagação do vírus. Enquanto a ameaça mostra sinais de apaziguamento, a questão se desloca para a origem e o modo de conter outro surto.

A Smithfield Corporation, maior produtor de suínos do mundo, cuja fazenda está sendo apontada como fonte do surto do vírus H1N1, nega qualquer ligação entre seus porcos e a gripe, enquanto grandes empresas de agronegócio em todo o mundo gastam enormes quantias de dinheiro em pesquisas para comprovar que a biossegurança é garantida na produção industrial de suínos. Porém, há anos a OMS tem dito que “uma nova pandemia é inevitável” e os especialistas da Comissão Europeia e da FAO têm alertado que a rápida transformação de pequenas propriedades em locais de produção industrial de porcos aumenta o risco de geração e transmissão de epidemias de doenças. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA alertam que os cientistas ainda não conhecem todos os efeitos que os compostos contagiosos produzidos em fazendas industriais têm sobre a saúde humana.

Há inúmeros estudos sobre as condições atrozes em que vivem os porcos nesses ambientes de produção concentrada e de grande escala, e sobre o devastador impacto econômico da produção excessiva e de grande escala sobre as comunidades de pequenos agricultores. A própria Smithfield já foi multada em $12,6 milhões e atualmente é alvo de uma investigação do governo americano devido a danos tóxicos causados por lagos de excrementos de porcos ao meio ambiente.

Porém, mesmo com todos esses indícios de danos, a combinação do aumento do consumo mundial de carne e de uma indústria poderosa motivada pelo lucro às custas da saúde humana significa que em vez de serem encerradas, as operações nocivas dessas fazendas industriais estão se multiplicando em todo o mundo, subsidiadas por nós mesmos. No rastro dessa ameaça da gripe suína, vamos fazer com que os produtores industriais de suínos assumam sua responsabilidade. Inclua seu nome no abaixo-assinado para pedir investigação e controle:

Se dermos fim a essa crise sanitária mundial com coragem reavaliando nosso padrão de consumo e produção de alimentos e pedindo urgentemente um estudo sobre o impacto de fazendas industriais sobre a saúde humana, poderíamos criar regras severas de controle dessas fazendas que salvarão a população mundial de uma futura pandemia mortal de origem animal.

terça-feira, 5 de maio de 2009

O Trabalho Dignifica o Homem! Será?



Devido a minha orientação profissional, tenho constantemente escrito sobre os direitos fundamentais e sobre a dignidade humana, de entre muitos outros assuntos. Tenho sido feliz, embora em algumas situações mal interpretado. Na verdade qualquer semelhança com crítica ou negação do que alguém tenha dito ou ensinado sobre a matéria não passa de mera coincidência, a minha forma de ser obriga-me a ser mais directo aos assuntos e aos nomes.

Queria nesta semana escrever sobre os novos titulares do sector da justiça, nomeadamente do Tribunal Supremo, do Tribunal Administrativo e do Conselho Constitucional. Assunto este que merece ainda grande análise e aprofundamento, principalmente quando tenha sido laçando no contexto jurídico moçambicano o debate da partidarização e politização do sector.

Mas, vou escrever um pouco sobre o trabalho e sobre a dignidade do trabalhador, assunto actual, sério e em muitas situações ignorado ou preterido para outros menos polémicos.

Ao falarmos do assunto que coloquei precisamos partir de dois pressupostos, o primeiro que é: é pelo trabalho que o ser humano se dignifica, ou seja, o trabalho dignifica o homem e em segundo lugar, que o trabalhador só pode competir no mercado do trabalho se for maior, com maturidade suficiente e formação académica e profissional competitiva, sem ignorar as políticas públicas para o efeito. Ou seja, é proibido empregar crianças.

Outro factor não menos importante que merece especial consideração na discussão desta matéria é o crescente índice de desemprego, motivado ou pela substituição da mão de obra humana para máquinas, ou pela exigência de redução de custos para maior efectivar a produção e o lucro, não ignorando que aos poucos o Estado se exonera da sua actividade de empregador e fiscalizador

Ao festejar-se o dia primeiro de Maio no presente ano de 2009, somos obrigados a reflectir sobre os pontos acima mencionados, bem assim sobre as nossas políticas de educação. Não se pode esperar que homens deficientemente formados venham a ser competitivos no mercado de trabalho cada vez mais apertado dados os factores que já podemos imaginar.

A nossa educação básica forma homens que não sabem ler nem escrever. Outros especialistas já discutiram essa matéria em outros fóruns e esses formados não poderão com certeza ser competitivos. Lembre-se que com a substituição do homem pela máquina nas industrias, resta àquele os serviços, e os serviços, exigem domínio de vários conhecimentos.

Dois desses conhecimentos indispensáveis hoje em dia são: o domínio de línguas estrangeiras, caso do inglês, principalmente e outras como o francês e o espanhol. Por outro lado está o domínio da informática, dado que a cada dia esta área vai-se desenvolvendo sem paragens e tudo que é empresa, recorre hoje aos sistemas informáticos para sua maior facilitação e eficiência.

Mas a educação de qualidade em Moçambique é escassa e muito cara, ou seja, não é o moçambicano comum que tem o privilegio de ter uma boa formação, dominar a informática e línguas estrangeiras, no geral isso seria impossível para o nível de vida que os cidadãos vivem.

Não sendo possível que os cidadãos tenham empregos mais rentáveis e mais seguros, não se pode esperar que esses homens vivam uma vida condigna. Alias, no sub emprego, onde mais que metade da população moçambicana se degladia, o salário mínimo não ultrapassa os 70 USD, sendo este valor, bastante longe daquilo que poderia ser considerado o cabaz mínimo do moçambicano.

Esta realidade, conduz o povo ao sector informal, onde parece que cada um tem a possibilidade de cuidar da sua própria vida, embora para o nosso contexto, a corrupção, o abuso de poder e o crime, seja ele miúdo ou organizado, acabam tornando este sector de actividade cada vez mais difícil de perceber, interpretar e acompanhar.

Tudo isto, vem a mexer com a dignidade dos moçambicanos porque eles não têm a possibilidade de se realizarem como seres humanos. Quero mais uma vez sublinhar neste parágrafo que falo no geral e não em situações concretas de alguns cidadãos que pela sua sorte conseguiram o que conseguiram e chegaram onde chegaram.

É importante frisar que nós em África ou vivemos pela sorte ou pela graça de Deus, pois, muitas das situações que acontecem em nosso redor estão muito distantes do nosso controle. A segurança e a estabilidade não são figuras que podemos assegurar acompanhem a vida das pessoas. O emprego pode imediatamente acabar sem nenhuma explicação e o filho pode num abrir e fechar de olhos ser expulso da escola porque colou cartaz com fotografia de líder de um partido da oposição.

Essa condição de imprevisibilidade de situações e condições, agravada com o facto de já não ser dignificante o salário mínimo e as condições de muitos moçambicanos, leva a aferir que de dignidade humana pouco têm os moçambicanos, assim nao se pode falar no nosso contexto de trabalho que dignifica. Fora de baixos salários o Estado já nos rouba através de impostos cerca de metade dos rendimentos e quase nada nos oferece em troca.

Embora esforços das autoridades estatais, esse caminhar não será brevemente travado, o Estado que hoje temos, mais valoriza as corporações que os próprios cidadãos. Vivemos numa época em que o ser humano é mais um instrumento de produção de lucro e para enriquecimento de minorias. Se os estados não despertam em tempo útil uma revolução de dimensões globais não será evitada. Dessa vez tudo será questionado, tanto o capitalismo como o socialismo bem assim o Estado liberal.

Heliodoro Baptista: O Incapturável!


Canal de Opinião: por Adelino Timóteo
Heliodoro Bapista: O Poeta assassinado

“O melhor que alguns nomes do poder me deram foi: três prisões, três desempregos – um deles durante mais de cinco anos – fome e morte lenta” – H.B.

Beira (Canal de Moçambique) - Conforme dizia ainda outro dia António Cândido Franco, "Os poetas escolhem sempre um dia para morrer". Franco referia-se então a Rui Knopfli que morrera no dia 25 de Dezembro de 1997, em pleno natal. A profecia de Franco talvez repetira-se quando este 1 de Maio Heliodoro Baptista perdeu a vida, depois de ao longo do dia ter andado com amigos, que mal se aperceberiam que na noite daquela data ele acenaria a despedida, para todo o sempre. Heliodoro faleceu em sua casa, cerca das 22 horas, no «Prédio da Grelha», perto do «100 à Hora», na Beira. De ataque cardíaco.
Ele a si se nomeava: Poeta de três prisões. Exílio e desempregos. Heliodoro foi o primeiro jornalista preso nos primeiros anos após a independência, como consequência da publicação de uma série de artigos com que desagradou o “Governo de Moçambique”, ou melhor, o Partido Frelimo. Como as prisões e exílios atestam, ele não foi um poeta amado. A pátria não o amou, apesar dele tanto tê-la amado. Heliodoro foi por assim dizer um poeta que não tendo saído para o exílio, passou-o aqui dentro do país 34 anos. Muitos dos anos ele passou em sua casa, donde quase não saía, ali ficando temporadas, até seis meses, porque ele não se identificava com este mundo, que o repelia quando ele cobrava os valores por quais lutara ao apoiar a causa da independência nacional. “O melhor que alguns nomes do poder me deram foi: três prisões, três desempregos - um deles durante mais de cinco anos -, fome e morte lenta”, são dele estas palavras.
O país solar que ele sonhou nunca viu. E desencantado com um país que anda a trouxe-mouxe lançou-se em críticas aos adeptos do liberalismo que delapidaram a banca, não poupou críticas até aos países ricos que sustentam a elite à custa da dívida externa que deverão pagar as próximas gerações de moçambicanos. Heliodoro foi um visionário alvo da censura do Conselho Superior de Comunicação Social por ter perguntado publicamente ao então presidente Joaquim Chissano "quando acaba de vender o país". A visão do poeta levou-o a uma espécie de amor-desamor a este "despaís", citando as suas palavras, «despaís» este a que ele se ligava de forma umbilical numa fidelidade que sempre o caracterizou, não tendo por isso requerido alguma cidadania estranha, que por certo nunca lhe teria sido recusada, entre outras facilidades, que não constituíam o mote da sua subversão. A sua condição epidérmica e as posições críticas levaram a que um dos seus colegas lhe propusesse mordomias em troca do silêncio. Quase no limiar de 1990. Foi quando trabalhava no jornal Notícias. Heliodoro sentiu várias vezes que o empurravam para fora do país, e aqueles que o faziam magoaram-no.
Embora de pai de origem portuguesa e mãe africana, ele nunca escondeu a sua opção, ele nunca assumiu algo diferente desta identidade que nos anos anteriores à independência o tornaram um combatente de papel e esferográfica no punho. “Sabem, no entanto, qual foi ou é a minha situação? A de um pária, um estrangeiro dentro do seu próprio país!”. São dele estas palavras. A opção por Moçambique talvez o levou a que pagasse com a vida, neste último 1.º de Maio, o que os outros sempre hesitaram em aceitar: a sua moçambicanidade activa. Uma moçambicanidade que o tornava mais moçambicano e nacionalista do que os que o descriminaram. Uma moçambicanidade que o levara a defender o erário público, que os outros não queriam que ele defendesse.
Heliodoro era contra a deificação do Homem Novo
Enquanto uns deificavam o Homem Novo, Heliodoro sentia que lhe capturavam a moçambicanidade e levantava-se em mangas de camisa para a defender. Heliodoro estava à procura de um país justo, limpo, pleno, prometido pelo Homem Novo. E o País que insistiam que fossem dele e que ele recusou é este país avaro em cultura, rico em corrupção. Heliodoro vivia desta recusa que alguns aceitam pacificamente. E nessa situação se foi isolando. E houve também casos que o foram isolando deliberadamente. Viveu rodeado de livros. Tinha uma sabedoria que o país, desafortunadamente, não percebeu. Fosse terem-no percebido não o deixariam à margem, como foi o que testemunhámos. Nunca o puseram a leccionar ou a dar palestras de literatura numa escola ou universidade.
Apesar dele ter sido um conhecedor, nunca formou professores de literatura. A sua capacidade memorialística era incrível. Quando muitos o davam por louco, a memória de Hediodoro era capaz de regredir até aos tempos primitivos, chamar nomes, sustentar com datas e factos. Até ao detalhe, numa lucidez incrível. Heliodoro podia falar de Jorge Luís Borges como se este tivesse sido alguma vez seu amigo. Ou de Hemingway. Ou de Fitzgerald. Ou de Sophia Andersen. Ou de Tolstoi, ou de Dostoievsky. “É um Carnaval de há milhares de anos. Todo o poder corrompe, dizia Confúcio. Todo o Poder chafurda na insensibilidade, no crime, na ignorância, no horror, no sangue quente de suas vítimas”, são também dele estas palavras. Heliodoro Baptista, que leu José Lins Rego, Jean Genet, J. Amado, Camilo, Eça, Régio, Victor Hugo, Lorca, Neruda, Maiakovski, Camus, Baudelaire, Simone de Beauvoir e Sartre, Eluard, Tagore, Tolstoi, Gogol, Yevtuchenko, Pasternak, Fernando Pessoa, T.S. Eliot, Hemingway, John dos Passos, Steinbeck, Carson McCullers, Scott Fitzgerald, Thomas Mann, Torga, Machado de Assis, Natália Correia, Lobo Antunes, Saramago, Jorge de Sena, Eugénio de Andrade, Herberto Hélder, António R. Rosa, tinha desprezo pela manifesta incultura do poder. Um poder que nunca se preocupou com uma política de incentivo a publicações.
Um poder que nunca se preocupou em tornar os escritores mais interactivos com a juventude estudantil, acabando eles próprios, os escritores, se empenhando socialmente em vícios, que ele desaprovava. Ele estimulava o poder a aproximar-se dos livros por exemplo quando publicava uma obra sua. Não se esquecia de enviá-la a alguns daqueles homens, o que nem sempre era percebido, porque alguns, que ficaram por lhe pagar, incluso do que ele tirava da sua livraria, interpretavam como sendo um desejo de ganhar dinheiro. Mas na ordem de hierarquia das prioridades de Heliodoro, o dinheiro talvez ficasse na última posição. Para quem o conheceu sabe que na ordem de importância em primeiro lugar estava o seu núcleo familiar, os filhos, depois a poesia, depois a poesia, depois ainda a poesia, que “é a minha incapturável sombra”, cito-o. Poesia sinédoque do país, sinédoque do amor, da terra, da mulher. E pagou caro com essa opção porque os que se foram constituindo em elite económica o passaram a desprezar, quando ele perdeu a capacidade de subsistência.
Uns criticaram Heliodoro devido à sua, se permitem, leviana opção pela poesia. Uns questionavam a posição do homem incorruptível numa fase de liberalismo económico. Mas Heliodoro viveu de uma fé, que o deverá ter traído, enquanto aguardava por um reconhecimento que nunca lhe chegou. Um reconhecimento cujo valor superaria a fortuna, porque a fortuna fizera-o ele em três livros: "Por Cima de Toda a olha", "A Filha de Thandy" e "Nos Joelhos do Silêncio". “São livros que “podem cheirar a babugem, a vagina, a esperma, a rosas, a caju, a lanho, a jasmim, ao bolor das paredes das cadeias desumanas, a vida. Cheiram a ruínas deste país arruinando-se.
E também a sangue, a pólvora, a corpos podres mas iluminados pela luz eterna de quem deseja justiça. Das tumbas anónimas, rebenta, todos os dias, a música inimitável e pássaros, muitas aves”, citamo-lo na entrevista ao Rogério Manjate. Talvez o reconhecimento lhe chegue postumamente. Porque o nome de Heliodoro não se desdenha numa literatura que não é suficientemente rica para recusá-lo. Heliodoro é um vulto, a par de José Craveirinha e Rui Knopfli. Só que este vulto nunca era visto nos corredores da “marrabenta política” nos arredores da Ponta Vermelha. Ele era de terras rebeldes onde há homens que nunca se quis fazer crer que também são referências neste Moçambique.
Reconhecer a sua dimensão o faria descansar em paz, pois da dor com que Heliodoro viveu pouco acredito que efectivamente possa estar em paz. Heliodoro não estará em paz com o poder que o prendeu e depois tentou corrompê-lo oferecendo-lhe alguma comodidade que, não fosse a sua irreverência teria aceite e não chegaria ao extremo a que chegou: uma morte lenta, que o vigiava, naquela opção limite de vida, vivendo numa pequena flat degrada de um prédio, quando lhe tinham oferecido uma vivenda em bairros chiques da Beira.
Uma Beira deprimente, mesquinha, que não o mereceu totalmente porque a dimensão de Heliodoro superava esta cidade-escombro – apenas agora a desabrochar – sancionada pela sua opção rebelde, entregue a carências de vária ordem como Teatro, Museu, Galerias, como ele vários vezes me dizia. Nesta Beira, devo dizer que durante cinco anos, após a sua libertação das celas do SNASP, nos anos oitenta, viveu de amigos, tendo por cartão de trabalho uma caderneta de "escritor", da AEMO, que o safou da operação produção, que o podia ter levado a Niassa, como foi o caso de muitos, mas que a Polícia, então ignorava, nunca detectou. Neste tempo viveu de amigos, alguns dos quais ele sempre referiu: Adamo e Gilberto Correia, que lhe enviavam algum rancho, que ele dividia com os filhos: Pablo e Guy. O poeta iria completar 65 anos a 19 de Maio. Sobreviveu a muitas mortes. Ressuscitou de outras certas. Seria para o infortúnio dos seus detractores.
Grande parte dos seus resgates à vida deve-se a uma mulher que soube compreender as batalhas em que ele estava envolvido, embora não o aprovasse de todo. Estou a falar de Celeste Mac-Arthur, que tinha uma presença circular ao que ele escrevia, e que sabia apoiá-lo e também apelar-lhe para que vivesse. É à existência desta mulher que se deve os muitos anos que Heliodoro Baptista passou em casa, esquecido, ignorado, numa luta às vezes desigual, de dois polos, que adversamente os unia. E que a sociedade local e nacional sempre homenageou. É também a seu pecúlio, como designava os filhos (Guy, Pablo, Buda e Palmira). Neles encontrara a razão que o fazia abraçar à vida. "Já não estou, afinal, doente; para sempre fui e morri. Mas pela noite África, oceânica, regresso. Renasci," in "Nos Joelhos do Silêncio," afinal este é um testamento, livro premonitório com que encerra o ciclo, a triologia acima referida. Com alguma economia feita nos anos em que foi delegado do Notícias, onde trabalhara até 1989 ou princípio de 1990, se não falho, abriu a sua livraria, com que procurou alguma subsistência que não encontrou, num país onde os quem têm dinheiro optam pelo álcool e o livro nada lhes diz, conforme caracterizaria o novo-riquismo. Fechou a livraria porque no prédio degradado onde funcionava, infiltrações e furos na canalização causaram-lhe grandes prejuízos. Heliodoro Baptista tinha uma face crítica que talvez tenha magoado a muitos, mesmo àqueles que bem o queriam.
Mas é preciso percebermos que um homem marcado com aquelas qualidades e alvo de sequelas não poderia encontrar outro mecanismo de sobrevivência senão a defesa, senão agir em causa própria, desconfiando cada vez mais, restando-lhe o casulo, donde pouco saia porque nos últimos tempos a quantidade de amigos de Heliodoro não passava de uma palma da mão. Quase ninguém lhe telefonava. Quase ninguém tinha pachorra para ouvi-lo. Digo, dos amigos com que ele privara desde a juventude pouquíssimos tiveram paciência para o acompanhar nos últimos anos. Nos últimos anos ele terá chegado a regenerar-se, sabia pedir desculpas. Sabia perdoar, embora nunca o tivesse ouvido a perdoar aqueles que o levaram a uma degradação lenta e progressiva, uma espécie de reacção aos actos preparatórios de homicídio voluntário que lhe haviam preparado e contra o qual ela tentava escapar como o fez ao longo de 34 anos, quando chamava as coisas pelos seus nomes: como obnóxios - de significados poéticos: assassinos, vende-pátrias. “E eles, do Poder, conseguiram que, hoje, eu tenha um rendimento flutuante abaixo de um repórter-estagiário. Tenho quatro filhos, a mãe deles compra a crédito e há dias que nem vinte mil mt tenho no bolso, e navego em dívidas. Aí vem algo semelhante ao ódio. Um ódio impotente” - voltamos a citar as suas palavras.
Enganam-se aqueles que pensam que se livraram dos avisos à navegação do poeta, porque Heliodoro, que deixou muitos discípulos, continuará a falar por intercepção daqueles que ele formou. Heliodoro continuará a falar pelos escritos que deixou em livros, antologias e jornais, publicados quer em Moçambique quer no estrangeiro. Ele continuará a ser a voz incómoda do poder, o porta-voz dos excluídos, entre os quais se contava ele próprio, e está a maioria deste povo. É a estes que o poeta deixa uma mensagem de esperança: "A ternura indisfarçável da leitura/ dos nossos poetas há-de crescer... a escrita inventariará a obsessão do medo, do sangue, do amor, essa voz, essa escrita ungida de hálitos de esperança, saberá desencantar, por intensa vocação, o discurso bem amassado e odoroso de um tão esperado pão, no futuro," in "A Filha de Thandy".

(Adelino Timóteo)
2009-05-05 05:54:00

domingo, 3 de maio de 2009

A Gripe Suína?...Onde Vamos Parar

Esta semana começou com o susto mundial da gripe que desta vez chama-se de suína. Já tivemos a gripe dos homens. Já passou a das aves, já passou um outra de que já não me lembro muito bem, mas agora é a gripe suína que assola a humanidade. Suínos são os porcos e nós conhecemos muito bem esses animais.

Mas para não atrapalhar a coisa também aconteceu o dia dos trabalhardes a nível do mundo. Infelizmente o dia que era conhecido como sendo o dia de enfrentamento e luta pela causa de todos os trabalhadores do mundo, pelo menos no que diz respeito ao trabalho em oito horas diários, férias, remuneração razoável e consoante o trabalho realizado, nesta data somente chamou atenção a crucifixão de Jesus Cristo negro pelos madjermanes.

Este grupo já é sobejamente conhecido na nossa praça e no país inteiro. A causa que os leva a lutar é legitima e eu rezo para que passem esse entusiasmo de luta aos meus sobrinhos porque com os dados que nos são facultados, não resta muito que o grupo resista, e se resistir não vai subsistir, os esquemas estão tão infiltrados que não podemos confiar em nada nem em ninguém.

Bem no final da semana, recebemos a notícia da morte de Heliodoro Baptista. O meu coração voltou a ficar extremamente chocado. Heliodoro é um daqueles símbolos de revolta e inconformismo. Rezava ele por uma sociedade onde no mínimo cada um fosse o mais livre possível e por conta disso, e se calhar porque também tinha sua sede na Beira, o tal epicentro das revoluções, a sua voz foi mal interpretada e a corte do regime não o deu a devida vénia. Contudo, espero eu que a sua ultima morada seja mais fiel à verdade e a justiça.

Enquanto isso, foi confirmada a vitória de Jacob Zuma como o Presidente da África do Sul. A expectativa é tão grande porque com o seu génio tudo é possível e até já dizem que é por causa dele que as garagens de viaturas naquele país baixaram os preços para mais que metade. Mesmo assim, Dhlakama não consegue recompor-se, dizem que foi a Beira num ambiente de dúvida e vergonha.


Falando em visitas, O presidente da República preferiu na sua presidência aberta considerar o norte do país, nomeadamente Niassa e Nampula, onde os dirigentes locais tiveram o cuidado de limpar e varrer a casa para que o boss a encontrasse em forma. Esses dirigentes, até foram capazes de servir de maestros a quem haveria de apresentar relatórios sobre os sete milhões de Meticais. E se o nosso boss fizesse algumas visitas relâmpago?

Em Kenya, as mulheres prometeram uma greve de sexo. Embora essa decisão seja a mais forte que essas mulheres africanas puderam encontrar, não sei qual será o efeito prático, já que em África a cabeça de cima é sempre comandada pela de baixo. Na hipótese desta ser vitima de um baicote, não se pode prever o efeito. Embora se saiba que será desastroso. Mas se for no Maputo, os líderes podem ir ao Luso para se aliviarem.

Os Estados Unidos da América prometeram mais dinheiro a Moçambique para os próximos cinco anos. A questão é: qual é o retorno que esses países tão misericordiosos recebem ao oferecerem dinheiro que bem sabem servirá ao sistema corrupto? Não será o caso de exigirmos ao Ministério Pública alguma visita aos acordos e declarações sobre o desenvolvimento?

Seja como for, parece que o discurso sobre o fim da pobreza no país foi fortemente torturado no seminário organizado pelo IESE.