sábado, 1 de dezembro de 2007

Sobre a Independência e a Liberdade do Povo Moçambicano


Ao pensar nos tópicos deste artigo, lembrei-me das palavras de Jesus Cristo que dizia: “e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Afinal, não são as armas que libertam o povo, não são os discursos nem é a boa vontade dos dirigentes. É a verdade que liberta o povo.
Os exemplos da história, mostram que os dominantes sempre procuraram omitir a verdade para melhor subjugar. Quanto menos esclarecidos, menos iluminados ou menos informados, menos difícil era enganar e dominar as pessoas.
O grande exemplo é a política colonial que não oferecia educação como um direito universal. Política essa que de certa forma está sendo perpetuada no país.
Hoje, a educação parece para todos os moçambicanos, mas não é. Actualmente, encontramos pessoas vivendo entre 20 a 50 quilómetros distantes da escola mais próxima. As pessoas que moram relativamente próximas da escola têm uma educação extremamente deficitária, pois, não é possível que um professor com 10ª classe venha dar aulas a uma turma da 8ª classe ou 9ª classe.
Ainda temos escolas neste país cujos professores não entendem nada de pedagogia.
Na hipótese de termos professores relativamente formados para o feito, vemos que as políticas do Banco Mundial e do FMI ridicularizam os objectivos da maior parte dos documentos internacionais sobre direitos humanos, pois estão cada vez mais viradas ao benefícios económicos e não propriamente ao desenvolvimento humano.
Não posso culpar essas instituições de Bretton Woods, mas aos nossos governos africanos no geral e de forma específica ao moçambicano, que na ganância pessoal dos titulares do poder furtam-se seu dever de negociar em beneficio de todo o povo e principalmente da nação.
Por conta disso temos pessoas graduadas da décima e décima primeira classes que não sabem redigir uma carta ao seu pai ou irmão. Temos secretárias em repartições públicas que não entendem nada da estrutura de uma comunicação interna, nem podem responder com clareza a um pedido de informação.
Temos juízes de direito que não conseguem formular uma frase em língua portuguesa.
Percebo que para independência e liberdade, o povo precisa da verdade. E para mim, a verdade vem da educação e da informação.
Só uma pessoa educada pode perceber a informação que lhe é transmitida. E mesmo que não lhe seja transmitida alguma informação, por causa da educação, a pessoa sente a necessidade e uma profunda sede de receber informações.
A inquietação é uma característica de pessoas educadas. A educação pode ser formal, secular ou uma outra fora da que recebemos nas escolas.
O que importa é que seja educação porque só assim a pessoa pode ser iluminada.
Hoje, a ideia propagada é que, “não há educação para o povo. Se lhes derem alguma educação que essa educação seja deficitária. Que o povo nunca perceba o que está a acontecer no seu país nem no mundo em geral. Que o povo continue a gravitar seus interesses em torno do seu
quintal e da sua machamba.”
A verdade é que, oferecendo educação ao povo oferece-se-lhe a liberdade!
Acima de 60% da população moçambicana é analfabeta. Estamos com essa percentagem e, as vezes crescente, desde a independência nacional e mesmo assim o povo ainda não é livre, porque mais de 60% não entende o que está a acontecer.
Como é que o povo vai fiscalizar o governo se não percebe que o Orçamento Geral do Estado é fruto do seu suor e sacrifício? Como é que o povo vai questionar a implementação dos Planos Económicos e Sociais se continua a pensar que é um favor tudo que o governo faz em prol do desenvolvimento?
Como é que o povo vai perguntar sobre todos os termos dos acordos sobre Cahora Bassa se ninguém tem vontade de dar informação? Como é que os cidadãos vão perceber a política externa do governo se tudo é feito num secretíssimo cerrado?
A democracia só serve ao povo se ela é inclusiva e participativa. Para que ela seja inclusiva e participativa é importante que ao povo seja dado uma educação de qualidade e efectiva, por um lado e, por outro lado, que o governo e todos os outros órgãos do Estado se predisponham em facultar a informação ao cidadão.
Num país em que a mídia não é independente, o povo não pode ser livre, pois a verdade nunca é divulgada.
Num país em que os activistas sociais e as organizações da sociedade civil são todos cúmplices e caixas de ressonância do poder, na expectativa de um dia vir a ter dividendos, o povo jamais será livre, porque a verdade nunca será dita.
Só a verdade pode libertar um povo. Só a verdade pode contribuir para uma governação transparente e com objectivos virados ao desenvolvimento e a justiça social.
Vivemos em um país em que maioritariamente as pessoas são hipócritas. Não é possível servir a Deus e ao Diabo ao mesmo tempo, não é possível defender a massa laboral e ao mesmo tempo ter negócios com os empregadores.
Um país onde o conflito de interesses não é regulado a verdade nunca sairá ao de cima. Continuaremos a ter legisladores que ao mesmo tempo são empresários, continuaremos a ter funcionários públicos que contratam as suas próprias empresas para prestar serviços ao cidadão.
Continuaremos a ter o tráfico de influências e desvio de aplicação de fundos e mesmo assim a verdade nunca será dita. E mesmo que seja dita, o povo não poderá perceber porque não está educada.
Vivemos em um país em que nossos governantes são saqueadores da coisa pública, num país onde o Estado já não tem um património público. Tudo é dos governantes, é dos partidos ou dos empresários que também são homens provenientes do poder.
Quantas pessoas conseguem perceber o discurso falacioso dos nossos dirigentes? Quantas pessoas conseguem criticar as estatísticas apresentadas pelo Banco Mundial e pelo FMI, quantas pessoas realmente se importam?
Quem se importa? Quantas pessoas realmente se preocupam em que o povo saiba a verdade? Os jornais, a televisão, as rádios, os activistas ou os políticos?
Que jornal se importa? A puxa saco do poder? O jornal que é vendido para um povo que ganha cerca de 60 USD mês e tem que alimentar 5 pessoas? Que rádio se importa? A que tem emissões em português para um universo de entre 10 a 15 milhões de pessoas que não entendem o português ou não conseguem captar porque não tem um receptor ou vivem em áreas com ruído? Que televisão? A que só é captada nas cidades e também só em português? Que activistas? Que de dia são das ONGs e a noite são do Partido? Que políticos? Que dirigentes?
A verdade é que, o povo não conhece a verdade e sem a verdade é falacioso afirmar que o povo está livre ou é independente, porque só a verdade pode libertar.
A verdade seja dita, até que o povo tenha a capacidade de perceber qual é a política interna e externa do seu país ele não será livre. A liberdade é uma conquista, mas uma conquista que só pode ser conseguida se o povo tiver acesso a educação e a informação. E parece que ninguém está interessado em garantir isso ao povo.
Mais não disse!
O AUTARCA – 30.11.2007

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