terça-feira, 2 de dezembro de 2008

A Renamo e o Apelo a uma Nova Oposição



Penso que deixei muito bem claro na minha dissertação anterior que a Renamo já anunciou o seu fim, ou simplesmente a sua morte física. Entretanto é preciso ter em conta a grande contribuição que este partido deu na construção da Democracia moçambicana.

É sobre essa contribuição que a Renamo deu ao país que me concentro e retiro duas reflexões importantes, que adiante tentarei analisar de forma mais simplificada.

A primeira das duas contribuições tem a ver com a condução do debate político relativamente abrangente, bem assim a inclusão de novos actores na cena política nacional. É que, antes do fim da guerra civil, poucos cidadão tinham aparecido publicamente a afirmar que são membros ou fundadores de partidos políticos em oposição a Frelimo. Nessa época, embora como movimento rebelde, a Renamo existia como movimento que se considerava partido e inspirava a milhares.

O fim da guerra civil e a entrada em vigor da Constituição de 1990, significaram marcos importantes para a democracia moçambicana, na medida em que, juntados a luta da Renamo, conduziram a diversidade de opinião e de expressão, entre outros direitos fundamentais. Se a liberdade de opinião e de expressão são efectivas ou não, esse é tema para outro debate.

Com uma Renamo vinda das matas, capaz de ter metade ou mais da população nacional como seu apoiante, muitos começaram a acreditar que um outro Moçambique era possível. Penso que, levar o optimismo ao povo e ao cidadão é tarefa que o político e os partidos devem sempre realizar e, neste aspecto a Renamo já foi feliz.

Como exemplo desse apoio, até hoje sobrevive uma margem de dúvidas se a Renamo não chegou a vencer as eleições de 1994? Seja como for, esta é matéria de outro debate e interessa muito a quem nesse ano tinha capacidade eleitoral e exerceu o seu direito.

Me impressiona somente, como é que um partido tão estigmatizado, sem recursos e praticamente “do mato” conseguiu elevar a fé, a audácia e a força de um povo que clamava por um pouco de paz para viver a vida em abundância.

Isso é muito importante, o povo precisa de acreditar, precisa não sentir-se sozinho, precisa sentir que existe alguém capaz de tomar conta de si e de seus interesses, alguém que centralize suas atenções na pessoa humana, na promoção e efectivação de políticas públicas inclusivas e participativas. Em algum momento a Renamo conseguiu fazer as pessoas acreditarem.

Penso que a adesão de alguns quadros à perdiz, sendo eles antigos membros da Frelimo foi somente uma consequência dessa energia positiva que o partido conseguiu transmitir.

Entretanto, a Renamo não conseguiu manter-se no topo, não conseguiu conduzir o debate político no seu próprio seio e não foi capaz de fortalecer o laço que o ligava ao povo.

Como resultado disso fomos assistindo uma sequência de desajustes, desinteligências e decadência do próprio partido. O cúmulo dessas desinteligências foi definitivamente ilustrada com as eleições do dia 19 de Novembro, onde o cidadão eleitor chumbou a Renamo.

Mas a Renamo é um partido grande e com certa experiência, sendo por isso que a humilhação sofrida não seja suficiente para a derrocada total. Entretanto, nada nos garante que a situação poderá inverte-se, a não ser que um milagre aconteça, como anteriormente afirmei.

Se o milagre acontecer, mesmo assim, a ressurreição da perdiz será insustentável, pois, os partidos não devem viver de milagres, eles vivem de planificação, estratégia, determinação e realismo. Sabe-se que um partido não é um igreja.

A segunda contribuição é consequência da primeira na medida em que com vários altos e baixos, o partido de Dhlakama e outros, conseguiu mostrar que qualquer um poderia formar partido e quase chegar a ganhar as eleições. Digo qualquer um não no sentido pejorativo ou minimizante, mas pensando no cidadão comum, ou seja, no qualquer cidadão.

Foi assim que vimos vários nomes a desfilarem na senda política. Pelo sim ou pelo não, esses nomes foram bem aproveitados tanto pela Renamo como pela Frelimo. Alguns até hoje continuam sendo aproveitados, como é o caso do Pimo e do seu presidente, entre outros.

Penso que essas duas lições deixadas pelo então maior partido da oposição remetem a uma única questão: qual o futuro do debate político moçambicano? O futuro aqui questionado é no ponto de vista de oposição política e alternativa governativa.

Mais do que os erros imperdoáveis cometidos pela Renamo, serão imperdoáveis os erros, a inércia e a miopia da classe intelectual da actualidade quando não se mobilizar, não se consciencializar, não se preparar e não tomar o seu lugar no vazio criado pelos actores políticos que morreram capitularam ou se desviaram.

Mais uma vez acredito que todo e qualquer cidadão devidamente orientado pode representar esse renascer que o próprio momento político exige.

Alguém pode conotar-me com o inimigo da Frelimo, como muitos já fizeram e, outros simplesmente demonstram quando temem serem vistos publicamente ao meu lado. Mas esta também é matéria para outra discussão. Na verdade, a minha convicção é de que, um partido, por mais grande e experiente que seja, se não tem uma oposição a sua altura, será votado ao fracasso e é por pensar no engrandecimento e fortalecimento do partido no poder que prego uma melhor oposição.

Com dois ou mais partidos fortes, estrategas e visionários, o cidadão sai a ganhar. Esse é o fim último de tudo que se pode imaginar na política: a satisfação das necessidades da colectividade sem prejudicar os indivíduos.

Há quem afirmou que Daviz Simango ameaçou criar seu próprio partido político. Penso que seria muito bom, alias, seu bom desempenho neste segundo mandado poderá servir de ponte para ele começar a pensar na ocupação da Ponta Vermelha depois das eleições do próximo ano.

Ma não vamos deixar tudo sobre a cabeça do jovem engenheiro. Há que juntar mais cérebros para esta nobre missão pela vida em abundância, pela justiça e pela paz. Cá por mim, penso e acredito que, um povo que não se interessa pela política, fica ele mesmo condenado a ser governado por tiranos.

1 comentário:

Anónimo disse...

Alo Duma! Concordo consigo em dois pontos:


1. Que salvo raras excepcoes, os intelectuais estao numa inercia de de inervar o povo, ou seja, estao a prestar um mau servico ao povo mocambicano.

2. Que um povo que nao se intessa pela politica arrisca-se a ser governado por tiranos.

Dai, acho que o Pais nao deve ficar a espera do Brioso Eng. Daviz, deve sim, criar condicoes para lancar outros ''Davizes'', por e para o bem de Mocambique

P.S. Forca nas tuas novas missoes