quarta-feira, 12 de março de 2008

Mais Uma Vez as Mexidas de Guebuza



Texto Publicado no Autarca da Beira (12/03/08)

Pretendo nas seguintes linhas fazer uma breve reflexão das últimas mexidas feitas pelo Presidente da República Armando Guebuza no seu elenco governamental. É verdade que este Governo é muito instável o que de certa forma deixa quase todos seus titulares, excepto alguns poucos intocáveis, numa constante situação de insegurança dada a imprevisibilidade do Chefe.
Também é verdade que tais mexidas são importantes do ponto de vista de preocupação que o Presidente tem de trazer nova dinâmica ao Governo que em muitos aspectos falha com o seu eleitorado. Sobre este ponto já me referi em um outro artigo também publicado neste diário.
Penso que mais do que a intenção de trazer nova dinâmica no seu governo, o presidente também está preocupado com inoperância de certos executivos que em dada altura confundem o trabalho com o populismo ou com a política e na hora da verdade mostram-se realmente distraídos quanto ao que se passa no país.

Vou começar com os exonerados:

Luciano de Castro: este ministro que foi trazido do Ministério da Mulher para responder as exigências e os desafios do ambiente no contexto global, mostrou-se totalmente surpreendido com o pelouro que dirigiu na medida em que, na conjuntura global, os outros países com que em certa medida contracenou mostravam um grau de conhecimento, experiência e visão muito acima de si, não sendo capaz de impingir uma dinâmica a nível nacional, nem de corresponder aos anseios de vários ambietalistas que ofereciam seus conhecimentos de graça.
Em certa medida, a bem ou a mal da verdade, acabou entrando em contradição com alguns especialistas quanto ao impacto ambiental de projectos relacionados com barragens no país e afinal os problemas do ambiente neste país não se resumem a barragens, lixo e fumos.
Este ministro foi vítima da sua inoperância.

António Munguambe: este ministro foi vítima da sua arrogância. Ao invés de demitir-se depois do dia 5 de Fevereiro, procurou tapar o sol com a peneira. Teve várias dificuldades de responder em directo na TV e na Rádio, a cidadãos, sobre seus feitos no ministério que dirigiu e no meio da confusão apareceu extremamente nervoso e quase insultando os chapeiros quando depois da medida governamental deram ameaça de greve.
Este ministro não foi capaz de ter uma proposta de política pública para os transportes, pelo contrário, depois da greve pôs em circulação auto carros de luxo excessivo para colmatar a situação.

Foi com o problema dos transportes que descobriu que seu ministério estava doente, tendo posteriormente tentado resolver pessoalmente o problema das enchentes desnecessárias nos serviços de viação.
É claro que mesmo sendo vítima da sua arrogância contribuiu o facto de não ser cunhado, pois o paiol, que também é um mal estar por resolver com a população de Maputo não conseguiu que o Ministro da Defesa se demitisse nem que fosse exonerado.

Alcinda Abreu: esta ministra foi, penso eu, vítima da sua incapacidade de lobbys e advocacia na arena internacional. Provavelmente também vítima das alas partidárias que com ela não se simpatizavam.
Moçambique não tem uma boa reputação a nível da União Africana, das Nações Unidas e de outros fóruns internacionais. São varias as falhas de relatórios periódicos e poucos avanços em termos de direitos fundamentais, mesmo sabendo que neste caso ela divide as responsabilidades com a justiça.
Temos ainda a situação de moçambicanos que morando em vários países são vítimas de atrocidades, xenofobia e outros tipos de discriminação sem no entanto haver uma resposta pronta por parte do Governo. Faltou nela a capacidade de responder a dinâmica evolutiva do mundo global do século XXI.

Esperança Machavele: esta ministra foi vítima da sua incapacidade de dialogar com os cidadãos e em certa medida com alguns titulares do governo, para alem de também não ter sido capaz de se comunicar com outros poderes do Estado.
Como eventual assessora do Presidente da República, não conseguiu evitar as várias incostitucionalidades do ano de 2007, nem conseguiu enxergar que certa associação por ela permitida pretendia fazer uso de armas de fogo a seu bel prazer.

Quanto aos Novos Ministros
Em primeiro lugar meu voto sem reservas a Dra Benvinda Levy, profissional que conheço enquanto Juíza e depois como directora do centro de Formação Jurídica e Judiciária. É uma mulher dinâmica, com alto senso de diálogo, aceita diferenças mesmo sendo muito legalista, o que não é mau.
A Dra Benvinda deixou uma boa impressão em todos os lugares por onde passou, faço votos que não venha a ser vítima de sabotagem pois mesmo com falta de experiência como ministra não há nada que ali ela não possa aprender.
Com certeza que, por ser sangue jovem, será alvo de inveja e falatórios gratuitos, de colegas, provocadores e até subalternos.
Meu meio voto para os ilustres Zucula e Balói que por onde passaram também deixaram uma boa impressão de trabalho e bom desempenho, mas ainda precisamos de tempo para avaliar com firmeza.
Com pouca sorte está o ambiente, que neste momento de desafios mais uma vez recebe alguém sem diferenças com o antigo ministro. Quero com isso dizer que, pouco ou quase nada se espera no ambiente.

Como previsão, esperam-se ainda sérias mudanças no Governo de Guebuza que agora tem a preocupação de reconciliar-se com o povo e preparar seu segundo mandato. por isso, muitos ainda serão sacrificados, tanto como exonerados bem como nomeados. Contudo, uma lição o Presidente dever ter apreendido, técnicos são necessários no Governo.

Uma constatações pontual:
Parece que o actual Ministro dos Transportes é também director do INGC, cargos manifestamente incompatíveis. Pode estar na origem dessa situação a forma relâmpago como o Presidente toma suas decisões, sem dar tempo a preparações, auscultações e se calhar sem informar previamente os visados, principalmente os cessantes. Exonerados no fim do dia e empossados logo pela manhã.
Ficou bem claro com os acontecimentos da segunda feira e da terça feira que os exonerados não sabiam ao certo o que estava a acontecer e isto não é certo.
Na última hora acompanhamos que a Alcinda Abreu recebeu informação da sua exoneração num encontro em Dakar.. teve que abandonar o encontro! Assim não pode. Será que o PR não sabia que ia tomar uma decisão.

Para terminar só duas palavrinhas: bem vindo mudanças, contanto que seja de bem e para o bem, com respeito e objectivos virados ao povo para não agudizar as divisões, nem incentivar desmandos.

Sempre

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