Obama convidou alguns jovens africanos para reflectirem sobre o significado da passagem de meio século das independências de alguns países africanos. A iniciativa foi por um lado admirada por pessoas que acreditam no futuro de África e nas boas intenções desse primeiro presidente norte-americano de origem afro-americana. Por outro lado, a mesma iniciativa foi altamente criticada e batida por aqueles que suspeitam das boas práticas e da política externa dos americanos.
Não tenho nada a ver com uns nem com outros, alegro-me em saber que jovens africanos de vários países incluindo Moçambique tiveram a oportunidade de junto de Obama e de outros jovens norte americanos, envolvidos em actividades e sonhos semelhantes, como é o activismo e o sector privado, tiveram a oportunidade de, abstraídos do seu dia-a-dia normal reflectirem sobre África.
É que, pelo sim ou pelo não, um apelo deve e urgentemente ser feito pelos quatro cantos da terra: o Renascimento Africano Hoje! Parece que o aparente desenvolvimento do continente, os muitos carros que cá são deitados pelo Japão que não encontra outra lixeira e o constante clima de diversão com bebidas alcoólicas, sexo, música e dança, atrofiaram as mentes de muitos que olham para África como um continente acabado.
Porque a informação no mundo circula toda em inglês e francês, os cidadãos como moçambicanos, oriundos de países falantes da língua portuguesa vivem num total desenquadramento sobre o que vai e vem pelo globo, sobre as reais necessidades da humanidade e sobre tudo, muito distantes das grandes decisões que em última instância determinam a nossa maneira de pensar e de agir.
Um continente como a África não deve ser condenado a cumprir uma agenda alheia. Esse é o maior desafio da juventude actual: identificar a agenda africana, estabelece-la, lutar por ela e realiza-la em todas as esferas da vida deste continente. O Renascimento Africano Hoje parte em redescobrirmos a nossa essência, a nossa origem, as nossas raízes e regar a árvore.
Não se constrói uma identidade nem um sonho no meio da distracção ou da diversão. Não se erguem nações no meio de festas, orgias e bebedeiras. Os tempos que vivemos exigem um pouco mais dos povos africanos, digo povos referindo-me a jovens. Estes, porque inda não têm a sua mente cauterizada, alienada, depravada ou vendida ao ego, à ambição pelo poder ou pela riqueza.
Os jovens africanos serão com certeza a salvação deste continente. Mesmo que, hoje, olhando para eles vejamos um cenário bastante sóbrio, na verdade esse cenário não está enraizado ainda. A falta de referências políticas, académicas e revolucionário, tornam uma grande parte da nossa massa jovem alienada, entregue ao imediato e obrigada a ser reboque de certas propagadas elitistas.
Jovens assim ainda podem ser iluminados. Um pouco mais de trabalho com educação e informação, com arte e cultura, com dialogo interacção e oferecimento de oportunidades e liberdades de interagirem com o essencial, teremos a curto prazo turmas de jovens a indagarem o caminho que seguimos, o destino que buscamos e a voz que seguimos.
Dizem que os africanos não são desenvolvidos porque são preguiçosos e porque não gostam de ler e escrever. Pode ser uma tese correcta. É também bem defendida por muitos intelectuais africanos. Eu não desminto, mas não concordo. Me parece que essa tese vem imbuída de preconceito e falta de respeito pela autonomia de africanos. Querer resolver os problemas de África comparando-os com outros povos pode ser fatal na conclusão.
Outro dos grandes desafios dos africanos para o Renascimento Africano Hoje é a descoberta das suas próprias habilidades e genialidades. Não é o domínio das artes e conhecimentos dos outros povos que nos vai tornar africanos. África só será ela mesma se se redescobrir e redescobrir suas habilidades, seus engenhos e suas genialidades. É isso e só isso que fará com que mundo olhe para África como um povo que tem o seu espaço, a sua opinião, a sua palavra e o seu lugar.
Estou convencido que a educação, a informação e a auto descoberta ou auto conhecimento nos próprios africanos pode significar a apresentação de uma nova África à humanidade. Precisamos aniquilar para sempre a África que é antiga colónia, aniquilar completamente a África subdesenvolvida e dependente, aniquilar a África reboque e vaca leiteira. É preciso fundar uma nova África, uma África feita de homens e mulheres que escrevem o seu destino, uma África de homens e mulheres responsáveis dos seus actos e cientes das consequências das suas decisões.
Estou também convencido que a disciplina e a organização podem fazer diferença num cenário em que tudo é colocado em frente das pessoas para distrai-las. A África passou a ser a principal cliente de muitos que pretendem vender tudo e mais nada, passou também a ser uma lixeira de quem já não tem espaço. A África passou a ser o circo onde quem quer divertir-se vem encontrar a distracção e a comédia. Só a disciplina pode virar o cenário. Quando pensarem que vamos comprar tudo ai nós mostramos o que realmente buscamos, quando pensarem que aceitamos tudo ai mostramos o que realmente nos faz sentido e quando connosco quiserem brincar mostramos que é passado o tempo de brincadeiras.
O Renascimento Africano Hoje, passa necessariamente em definirmos muito bem os limites das nossas fraquezas e habilidades. Só mentes dispostas a mudar podem reproduzir a consciência desse renascimento. Uma África indisciplinada e virada a resultados imediatos não logrará nenhum sucesso. Quanto mais nos viramos aos nossos umbigos mais adiamos a verdadeira revolução, a revolução que este continente busca. A revolução que definitivamente fundará a espaço do continente africano e do seu povo.
É chegado o momento em que a juventude africana precisa estabelecer uma nova palavra de ordem: Educação, Informação, Redescoberta e Disciplina em prol de uma nova África! Já se adiou bastante tudo o que devemos fazer por nós e pelas futuras gerações. Já se adiou demais o levantar da nossa consciência bem assim o esticar do primeiro passo rumo ao Renascimento Africano Hoje. Enquanto o dia ainda se levanta, levantemo-nos nós também, do sono existencial e estabeleçamos uma nova ordem de África para África!