Mais Cadeias? E
depois??
They
won't build no schools anymore
All
they build will be prisons, prisons!
Lyrics by Luck Dube
Eu sou contra a prisão e a favor da liberdade. Aliás, em tempos defendi
publicamente uma comprovada falência do sistema penitenciário actualmente
vigente no mundo, por ser desumano, degradante, incapaz de ressocializar o
cidadão, multiplicador de delinquentes e ainda por cima bastante oneroso ao
Estado.
Acredito que a evolução cientifica hoje, sugere aos fazedores de políticas
públicas, novas formas de restringir a liberdade dos infractores. A prisão
domiciliária e as pulseiras electrónicas de monitoramento são provas da
constante busca de alternativas a essa instituição falida.
Moçambique está a ensaiar a aprovação de um novo Código Penal que de entre
várias matérias apresenta um ambicioso projecto de medidas e penas alternativas
a prisão. Este ensaio, não passa de um reconhecimento tácito das premissas que
acima mencionei. Gasta-se com os impostos pagos por cidadãos honestos, o
equivalente a cerca de três salários mínimos para manter um único cidadão
desonesto na prisão.
Enquanto isso, aqueles que trabalham duro, dia e noite, dedicando-se
honestamente a produzir riqueza para o país, ganham por mês, três vezes menos
que o que o Estado moçambicano gasta com cada recluso no mesmo período e mesmo
assim, são esses honestos trabalhadores que devem pagar a conta daqueles.
Entretanto, mais do que reconhecer a falência do actual sistema
penitenciário, ou mais do que buscar novas medidas e novas penas que possam
servir de alternativas a prisão, pelo menos para alguns casos, é preocupante o
crescente investimento para a construção de novas cadeias e calabouços.Algumas dessas
novas construções sem o mínimo de condições para garantirem o respeito pelos
Direitos Humanos.
Em Moçambique, acima de 60% dos condenados possuem
idades entre 16 a 25 anos de idade. A população prisional moçambicana é
maioritariamente jovem. Maioritariamente com estudos até quinta classe (5
classe), provenientes da periferia e normalmente condenados por cometerem
crimes contra o património. Não precisamos ter dotes especiais para percebermos
que a principal causa dessa delinquência relaciona-se com a miséria e as precárias
condições de vida dos visados.
Por consequência, as prisões moçambicanas são
superlotadas, albergando o triplo do que a sua capacidade poderia. É na busca
de soluções para a superlotação que surge o contexto da construção de novas
cadeias, o que para mim parece um desvio de causalidade ou mesmo ignorância da
real causa a combater. A solução para as prisões não está na construção de
novas cadeias, mas nas políticas públicas. Ou seja, em vez de alargarmos o
espaço para aprisionar, vamos evitar que muitos se aprisionem.
Em Moçambique, aquela percentagem de jovens que
superlotam as nossas prisões foram maioritariamente levados a delinquência pela
pobreza e pelo desemprego que os aflige. É verdade que há muito pobres e
desempregados que não são criminosos, todavia, a condição de desempregado e de
miserável não deixa de motivar a práticas criminosas, ainda mais quando a
sociedade difunde e elogia um capitalismo consumista e exibicionista, onde as
pessoas valem ou são respeitadas consoante a sua capacidade de compra ou
simplesmente de liquidez.
Este cenário pode ser modificado com novas
políticas de emprego e distribuição de renda. Um país onde muitos são
desempregados, onde mais de metade dos empregados ganha somente um salário
mínimo e onde muitos são realmente pobres e miseráveis não pode evitar que os seus
jovens se transformem em delinquentes. Não se pode prever o próximo
comportamento de um jovem pai esfomeado ou de uma jovem mãe desempregada e com
crianças doentes.
Proponho mea contribuir mais na ocupação dos
jovens ou dos mais propensos a delinquência do que a construir mais cadeias
para eles. Com mais escolas, mais parques de diversão, mais campos de futebol,
mais promoção de emprego e actividades culturais menos delinquentes jovens
teremos. Uma política para retirar das ruas as crianças que nelas vivem previne
o futuro de mais delinquentes.
Acredito como solução para a delinquência na maior
distribuição de renda e na massificação de maior qualidade de vida para as
pessoas. Sem emprego, sem escola, sem lazer e sem segurança pública, até as
penas e medidas alternativas a prisão não serão eficazes dado que a
reincidência fará com que que as pessoas façam, justiça
pelas suas próprias mãos.