Parte 2
As eleições autárquicas de 2008 e as eleições gerais de 2009
definitivamente chamaram a atenção dos políticos a um público emergente que até
então era na arena política ignorado: os cibernautas!
O bum dos blogs e redes sociais
entre meados da década passada não tinha constituído uma mais-valia ao apelo
político nem foi visto como um instrumento para a propaganda política, afinal
de contas, estavam em alta as novas televisões que acabavam de quebrar a
hegemonia da TVM e aos poucos se alastravam pelo país fora. Assim também
cresciam as rádios FMs nas principais cidades do país e os jornais que se
diziam independente, no mesmo período, se multiplicavam de forma aliciante.
Quem podia controlá-los tinha a maior parte do público para garantir suporte.
Entretanto, avitória de DavizSimango nas autárquicas da Beira em 2008, bem
assim como, o grande debate que essa vitória levantou nos blogs, nas páginas da
internet e sobretudo nas redes sociais, onde uma parte dos jovens urbanos já se
fazia presente, principalmente no facebook,
que aos poucos suplantava o hi5 e “companhia”, significou uma oportunidade de
afirmação política de uma outra camada de jovens que não tinha muita expressão
nos movimentos organizacionais e reuniões das juventude partidária.
Em grande medida, jovens de vários municípios distantes da Beira
simpatizavam-se com a vitória de DavizSimango que acima de ser uma vitória
normal de um simples Edil, constituía um uma vitória sobre o domínio prepotente
da Renamo e da Frelimo nos escrutínios nacionais, já que ele, nessas eleições,
concorrera como independente. Todavia, mais do que um apoio ao Daviz, esses
jovens apoiavam sim a mudança, a alternância na governação e a inclusão de
novos actores na arena política nacional.
O facto veio a repetir-se nas eleições gerais de 2009, onde depois de
conturbadas validações de candidaturas para as legislativas a vitória foi
maioritária para a Frelimo e para o seu Candidato Armando Guebuza. Contudo,
marco curioso foi que, o Candidato da Frelimo, Armando Guebuza, perdera
relativamente a favor de DavizSimango em algumas mesas de votação na zona de
cimento da cidade de Maputo, incluindo onde ele mesmo teria votado.
Estava claro que a maior parte dos votantes nesses locais e outros locais
também de cimento ao longo do país era indubitavelmente composta por jovens e por
um grupo de recém- adolescentes que votavam pela primeira vez. Um cruzamento
nas bases de dados do Instituto Nacional de Estatística revela que o número dos
novos votantes vai crescendo a cada ano, sem contudo, isso significar a redução
das abstenções.
É a partir daqui que o campo virtual começa a chamar a atenção especial dos
políticos e principalmente dos partidos políticos mais expressivos no país,
naquela altura. Surgem imediatamente páginas virtuais dos tais partidos e
páginas virtuais de seus representantes. Os principais líderes políticos do
país começam a criar seus perfis nas redes sociais e virtualmente começam a
interagir de forma mais directa com aquele público constituído por jovens
cibernautas. O mundo virtual deixou de ser indiferente aos políticos, ou, pelo
menos, estes deixaram de ser indiferentes em relação ao mundo virtual.
Entretanto, sempre ficou claro que a percentagem dos votos oferecidos pelos
jovens cibernautas, não era suficiente para fazer grande diferença,
principalmente quando se trate de eleições presidenciais e legislativas. Mas
podem fazer grande diferença nas eleições municipais. Deve ser por isso que os
partidos políticos, interessados no poder, a partir de certa altura, começaram
a dar uma especial atenção a esse grupo de jovens e as suas redes de contacto.
A promoção de jovens políticos com habilidades de granjear atenção e
produzir debates nas redes sociais foi notória tanto a nível do Governo assim
como a nível municipal e partidário. A palavra desses jovens outrora críticos ao
sistema passou a harmonizar-se com o discurso das novas fileiras abraçadas e,
novas técnicas de sobrevivência tinham que ser criadas, sendo uma delas dividir
para reinar e a outra a humilhação dos seus opositores.
Como em qualquer irmandade, os novos convertidos, buscando estabilidade e
respeito, voluntariamente ou não, submetem-se a testes de coragem, fidelidade e
criatividade. Repudiam completamente o seu passado e glorificam como a um
salvador a sua nova liderança. Manifestam publicamente que assumiram novas
crenças e que o passado não passa disso. A partir dai, o comportamento políticoé
outro e exemplos disso não faltam no nosso contexto.
Os cibernautas também conseguem ultrapassar as barreiras do tempo, das
distâncias e as formalidades exigidas em alguns fóruns de debate. Estão em
todos os lugares em todos os momentos. Em certa medida, acabam sendo um dos
grandes instrumentos para a promoção da política externa nacional, na medida em
que estão no constante diálogo com a diáspora e outros actores políticos no
mundo. A sua campanha e propaganda política passam a ser permanentes e sem
muitos impedimentos legais.
Entretanto, ficam gravadas as incursões pouco elegantes dos papagaios e dos
fantasmas, que aproveitando-se dos meios que a tecnologia oferece, abdicam de
contribuir de forma isenta na construção de uma moçambicanidade cada vez mais
responsável, participativa e inclusiva, para dedicarem-se a subversão da
informação e ao linchamento público dos seus opositores para acima de tudo
granjearem a auto promoção no veiculo da mídia
dominante.
O poder, como veio a mostrar-se em 2009 e 2010, ensaiou manobras de
controlo do uso dos celulares. Se era fácil controlar os conteúdos noticiosos e
de opinião que podiam ser passados nas rádios e televisões, bem assim como
manipular a escolha dos respectivos intervenientes nesses espaços, difícil era
controlar a origem e o “esquema” de disseminação de informação por via de
celular, alias, maioritariamente, os jovens que fazem parte das redes sociais,
usam o celular, (os tais “smart”), para terem acesso ao mundo e também, para a ele
se exporem.
O celular, com todas as facilidades que oferece, olhando para o número dos
seus utentes no país, de longe ultrapassa o público que pode ser atingido pelas
TVs tanto por cabo como por satélite, facto que o coloca como um importante
instrumento de propaganda. Diga-se de passagem que não só o celular é um
importante meio de propaganda, mas também as empresas de telefonia móvel, até
porque, para além de todas serem directamente controladaspelo poder, uma delas, em parte, pertence a um dos mais importantes partidos do
país.
Continua…
1 comentário:
Makwero,
Porque a preocupacão com os "fantasmas"? Já dizia minha mãe para que nunca me preocupasse com Xipokos já que há nhamussoros e feiticeiros suficientes para lidar com eles.
Não sei como os papagaios entram neste "zoológico" virtual. Não sei se é pela sua fama de repetidores/replicadores e/ou imitadores. Porque te preocupares com eles se podes ouvir da fonte primária e, como cidadão, interpelares essa fonte?
Makwero, eu acho que andamos a dar voltas ao superficial (fantasmas/papagaios) sem irmos ao ámago da questão: como é que os mocambicanos podem usar as redes sociais para expressarem cidadania e fazerem passar as suas ideias? Como é que os políticos e os partidos políticos podem responder ao desejo de mudanca que a juventude ireverentemente expressa de diversas formas?
Vamos discutir isso CD? Se não és feiticeiro ou Nhamussoro please abandone os fantasmas... se não és veterinário deixe os papagaios que te podem dar bicadas e concentre-se nos fenómenos que vale a pena analisar: cidadania e formas da sua expressão que parece ser o fundamental que trazes neste post. Podemos?
Mutisse
Enviar um comentário