Parte 1
As manifestações
populares de 5 de Fevereiro de 2008 influenciaram o comportamento dos
principais partidos políticos moçambicanos no que tem a ver com o seu modus operandina abordagem da opinião
pública. A caminhada para as Eleições Autárquicas desse mesmo ano e as Eleições
Gerais de 2009 viriam de alguma forma a ser o palco de teste de novas
metodologias na abordagem dos manifestos e na angariação das massas.
Os manifestados populares
de 5 de Fevereiro, teriam sido convocadas por via de sms
distribuídas por celular. Nessa época, as duas principais companhias de
telefonia móvel estavam a competir na distribuição gratuita de SMS “Short
MessageService”
(Serviço de mensagens Curtas), o que de certa forma “facilitou e financiou”
toda a estratégia das manifestações e que olhando para as consequências, teriam
surtido o efeito dos seus promotores.
O
MISA Moçambique e o Centro de Integridade Pública, emitiram dias depois, um
comunicado de imprensa repudiando a forma pujante com que o Governo controlou
os órgãos de comunicação social públicos e privados. A censura da transmissão
de imagens pelas principais televisões teve início por volta das 9 horas do dia
5 de Fevereiro, quando a STV deixou de mostrar as imagens das manifestações e
começou a passar uma novela e a TVM passou a transmitir reportagens sobre o
CAN. Nas horas seguintes nenhuma outra imagem sobre as manifestações teria sido
passada e nas notícias da noite, somente alguns trechos foram repetidos pela
STV.
Fontes
em contacto com o MISA e com o CIP confirmaram que os responsáveis pelas
emissões na TVM e na STV teriam recebido “ordens
superiores” para vigiar “conteúdos noticiosos subversivos”. Os repórteres da
Rádio Moçambique “que se encontravam em vários pontos das cidades de Maputo e
Matola foram obrigados a interromper as reportagens em directo”. O Jornalista Emílio
Manhique teria convidado no dia seguinte as manifestações, o sociólogo Carlos
Serra ao seu programa “Café da Manhã”, Serra recebeu informações que o programa
teria sido cancelado e, no dia do programa passou na RM um outro sobre o HIV e
SIDA.
A nível dos blogs, das
páginas da internet e nalguns grupos de e-mails, um pequeno exército de
“papagaios” foi criado para inverter a verdade dos factos e rotularem de
oportunistas, vândalos, subversivos, apóstolos da desgraça e desordeiro todos
os manifestantes. Nesses grupos chegou-se a afirmar que as manifestações teriam
sido convocadas por “mão externa”.
O mesmo exército de
“analistas papagaios”, foi criando e difundindo mensagens ridicularizantes
contra analistas que não se tinham alinhado ao pensamento que pretendeu calar a
mídia e o discurso dos manifestantes. Para quem não sabe o que significa
“analista papagaio” deixo ficar um conceito elucidativo: “é analista papagaio,
aquele que deliberadamente aliena sua consciência para dar lugar a uma
repetição em série, de ideias preconcebidas e orientadas a partir de uma
determinada sede com vista a ridicularizar e descredibilizar a pessoa e a
mensagem dos seus opositores, assim como para manipular a opinião pública. A
repetição em série das ideias orientadas, acontece usando como recurso os
canais televisivos, as rádios, as redes sociais, os blogues, os sites e outros
meios de comunicação social.”
Facto curioso é que nas vésperas
dasEleições Autárquicas acontecidas em Outubro de 2008, as várias redacções das
TVs e Rádios começaram a receber listas de quem devia ser convidado como
comentador e quem não devia ser convidado. Foi assim que surgiu uma nova rede
de comentadores jovens, sendo muitos deles os tais analistas papagaios acima
descritos. De onde vinham as listas? Elas vinham das principais sedes
partidárias e gabinetes de alguns ministros.
Assim foi feito o debate pós
5 de Fevereiro, assim foi feito o debate da pré campanha nas Eleições Autárquicas
de 2008 e assim foi preparada a précampanha, a campanha e o debate eleitoral de
2009. Afinal tudo tinha a ver com o poder. Era preciso controlar a informação
que era veiculada no país, era necessário saber quem a difundia, de onde a
difundia e quais eram os interesses que orientavam essas informações. Aqui
começou a formar-se uma nova forma de estar no que tem a ver com a política.
Inventaram-se novas formas de propaganda e foram gerados os analistas
fantasmas.
Os analistas fantasmas
viriam a ser uma reprodução infinita dos analistas papagaios. Deixe-me construir
o conceito de um analista fantasma: “o analista fantasma é aquele que, sendo
reprodução do analista papagaio, ou reprodução de um outro analista fantasma e,
embora com a mente alienada, somente existe no mundo virtual e emite mensagens
e informações com a mesma finalidade do analista papagaio. Contudo, nem sempre
o analista fantasma é alinhado ao papagaio, na verdade, ele também pretende dar
ao público a percepção de que existe um palco com diversidade de opinião e
diversidade de “opinionmakers”.
Piores que os analistas
papagaios, sãos os analistas fantasmas que fisicamente não existem, não possuem
ideias próprios, porque não existem e nessa qualidade não podem ser, a olho nu,
vistos, contactado ou responsabilizados e por isso, são eles, devastadores,
gladiadores, mal criados e seguidores acérrimos dos analistas papagaios, ou
seja, acérrimos seguidores de si mesmo, porque na verdade, o analista fantasma
é a versão virtual do analista papagaio.
Para acomodar essa nova
onda de recrutas (entenda-se dos papagaios), novas vagas foram criadas nas
sedes, nos municípios e em algumas direcções, sejam elas municipais,
distritais, provinciais ou mesmo nacionais. E para alem de se promoverem os
tais recrutas, também se empregaram e difundiram-se com veemência a ideia da
recompensa de quem se alinha. Festas familiares e convívios de grupos passaram
a servir de palcos de ostentação dos benefícios ganhos nas novas fileiras
recrutadas e alinhadas para controlar e manipular a informação e a opinião
pública.
Aqui sobressaiu uma nova
forma de pensar e fazer a propagada política. A propaganda, um meio, que no
passado foi bastante explorada pelo nazismo e pelo comunismo, para criar medo e
terror, para criar ódio contra pessoas de crenças e opiniões diferentes, para
criar um falso valor de superioridade, de segurança e estabilidade, para
lembrar a grandeza e as conquistas do passado e do presente, para rebaixar os
inimigos, para divinizar o líder e acima de tudo para manipular a informação e
a opinião pública passou a ser o instrumento dos analistas papagaios e
principalmente dos analistas fantasmas.
Os analistas fantasmas,
repetindo incansavelmente as ideia dos analistas papagaios e sobretudo os objectivos
das sedes, atacam osseus contrários, através da criação de bodes expiatórios,
desaprovando ideias contrárias, rotulando e ridicularizando os analistas não-alinhados,
simplificando a forma de debate, produzindo conceitos vagos e apelando a emoção
dos participantes. Com a finalidade de se engrandecerem cada vez mais, os
analistas papagaios e os fantasmas usam a técnica do auto elogio e promoção
mútua de forma abnegada e chegam a transformar os vários espaços de debate
público em puteiro em tempos de orgias.
Continua…