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Este é um espaço aberto para os Direitos Humanos: denúncias, debates, comentários, provocações e outros. Não é um lugar para especialistas, este é um lugar para todos aqueles que tenham algo a dizer ou queiram falar sobre a matéria!
quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
Carta de Boas Festas ao Povo: Moçambique está a subir!
Querido povo,
Espero que estejas bem de saúde e que já tenhas preparado todo o necessário para passares bem as festas do Natal e do Ano Novo. É que hoje, as festas do final do ano tornaram-se um ritual que não se contorna, embora seja um período rodeado por muitos excessos, acidentes, mortes e infelicidades.
Sei que tu não fazes parte desse grupo de gente que ritualiza as festas do fim do final do ano. É que um ritual pressupõe sempre a existência de datas, momentos, coisas, elementos, disposição e possibilidades. Um ritual de festas para o natal e ano novo, deve pressupor não só a existência de vinho, de peru, de azeite, de champagnhe, de arroz, de energia eléctrica, de bom som, entre outros.
Tu não tens essas possibilidades. Eu te conheço. Tu não podes comprar um peru para festejares, se não consegues levar os teus filhos ao hospital. Tu não podes comprar os litros de champagne se não consegues levar o teu filho a escola. Tu não podes reunir todos elementos daquele ritual se não consegues de longe, viver uma vida digna de ser humano.
Querido povo,
Dizem que definitivamente Moçambique está a subir. E o ano que está a findar foi um grande exemplo desses passos a subir. Eu concordo, mas fica sempre a pergunta: estamos a subir para o melhor ou para o pior? Estamos a subir para o sucesso ou para o insucesso? Essas são as perguntas difíceis de responder e que entretanto penso que fazem sentido.
Não sei se tens acompanhado as noticias, principalmente as económicas, dizem que Moçambique tem um crescimento económico bastante considerável. Não sei o que é considerável, mas isso pressupõe a existência de dividendos económicos para todos, a existência de capacidade económica para todos, a existência de serviços públicos que realizem o mínimo das tuas necessidades básicas.
Mas sabes muito bem que o resultado final do senso de 2007 que foi publicado neste ano que está a findar, trouxe nos uma imagem bastante assustadora da realidade deste nosso país que está a subir. É que, cerca de 70% das pessoas ainda vivem em pobreza extrema, para alem de que vivem no campo, onde facilidades económicas são quase inexistentes.
Essa percentagem dos 70% que vive no campo, é o conjunto de duas camadas de moçambicanos, os que vivem na segunda república e os que vivem na terceira república de Moçambique. Essas duas repúblicas é que fazem a Sub República de Moçambique, de que já te falei em tempos passados.
É lá onde vive a maior parte da população, mas é lá também que faltam os principais recursos, meios e serviços necessários ao povo. Temo que, quando se fala de desenvolvimento económico de Moçambique esteja a tomar-se a Cidade de Maputo, da Beira e de Nampula como referencia. Essas três cidades devem ser a foto de Moçambique que está a crescer e a partir daqui se faz todo o discurso politicamente correcto e se justificam os vários fundos que são dados ao país.
Querido povo,
Vê-se aqui que essa foto de Moçambique não é a mais adequada, porque a maioria não aparece nessa foto. Embora não apareça nessa foto, é a maioria que realmente faz a diferença. Vimos isso no processo eleitoral findo, em que a minoria desejou uma coisa, mas não conseguiu por causa da decisão da maioria.
Embora a maioria oriente-se por uma luz ofuscada, a sua escolha é importante e decisiva. O que já não acontece com as escolhas da minoria. Pois, embora a minoria se guie por uma luz mais nítida, a democracia manda que esta se submeta a vontade da maioria. É aqui que corremos todos os riscos, porque queremos que a maioria, essa que habita na segunda e na terceira república do país, possa decidir com consciência, com liberdade e com o senso de consequência.
Ok, não te escrevo esta carta para falar de política. Te escrevo para desejar-te boas festas e boa entrada ao ano de 2010. espero que ao menos tenhas conseguido realizar todos os teus objectivos para 2009. será que os tinhas? Isso não sei, a ver com o teu comportamento parecia que andavas a improvisar sempre. Não se espera que quem vive sem renda ou vive de baixa renda tenha objectivos concretos. Como é que os vai alcançar? Na verdade ele só vai gerindo as situações do momento.
De todas as maneiras, espero que o próximo ano seja de muito sucesso para ti, já que o campo é hoje considerado o pólo de desenvolvimento. Era bom que se transpusesse a sede do distrito e se entrasse mais um pouco no seu interior. E se entrasse para ai onde o povo real vive.
Querido povo,
Tenho que terminar a carta perguntando-te uma coisa: dizem que em 2012 o mundo vai terminar. Será verdade? Ou será um prenuncio do fracasso de Kyoto e agora de Copenhaga em relação ao aquecimento global. Mas sabes quem é que anda a aquecer o nosso planeta? Sabes como é que isso se repercute na tua vida? Espero que saibas, porque ninguém te vai explicar.
De todas as maneiras podes viver a pensar no fim do mundo em 2012. Há um senhor chamado de Nostradamus que profetizou isso e os Maias, um povo que viveu na América latina também o fez e coincidiram no ano e na data. Então veja lá. Viva pensando que tens pouco tempo.
Mas será que isso realmente importa para ti? Não sei. Como é que o fim do mundo pode fazer sentido para quem não tem pão, não tem agua potável, não tem o mínimo necessário para viver com dignidade. Será que para esse o fim do mundo não chegou ainda? Ainda esperamos outro? Ai ai ai aia!
Boas festas meu povo!
Vê-se aqui que essa foto de Moçambique não é a mais adequada, porque a maioria não aparece nessa foto. Embora não apareça nessa foto, é a maioria que realmente faz a diferença. Vimos isso no processo eleitoral findo, em que a minoria desejou uma coisa, mas não conseguiu por causa da decisão da maioria.
Embora a maioria oriente-se por uma luz ofuscada, a sua escolha é importante e decisiva. O que já não acontece com as escolhas da minoria. Pois, embora a minoria se guie por uma luz mais nítida, a democracia manda que esta se submeta a vontade da maioria. É aqui que corremos todos os riscos, porque queremos que a maioria, essa que habita na segunda e na terceira república do país, possa decidir com consciência, com liberdade e com o senso de consequência.
Ok, não te escrevo esta carta para falar de política. Te escrevo para desejar-te boas festas e boa entrada ao ano de 2010. espero que ao menos tenhas conseguido realizar todos os teus objectivos para 2009. será que os tinhas? Isso não sei, a ver com o teu comportamento parecia que andavas a improvisar sempre. Não se espera que quem vive sem renda ou vive de baixa renda tenha objectivos concretos. Como é que os vai alcançar? Na verdade ele só vai gerindo as situações do momento.
De todas as maneiras, espero que o próximo ano seja de muito sucesso para ti, já que o campo é hoje considerado o pólo de desenvolvimento. Era bom que se transpusesse a sede do distrito e se entrasse mais um pouco no seu interior. E se entrasse para ai onde o povo real vive.
Querido povo,
Tenho que terminar a carta perguntando-te uma coisa: dizem que em 2012 o mundo vai terminar. Será verdade? Ou será um prenuncio do fracasso de Kyoto e agora de Copenhaga em relação ao aquecimento global. Mas sabes quem é que anda a aquecer o nosso planeta? Sabes como é que isso se repercute na tua vida? Espero que saibas, porque ninguém te vai explicar.
De todas as maneiras podes viver a pensar no fim do mundo em 2012. Há um senhor chamado de Nostradamus que profetizou isso e os Maias, um povo que viveu na América latina também o fez e coincidiram no ano e na data. Então veja lá. Viva pensando que tens pouco tempo.
Mas será que isso realmente importa para ti? Não sei. Como é que o fim do mundo pode fazer sentido para quem não tem pão, não tem agua potável, não tem o mínimo necessário para viver com dignidade. Será que para esse o fim do mundo não chegou ainda? Ainda esperamos outro? Ai ai ai aia!
Boas festas meu povo!
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
Direitos Humanos: 61 anos de Miragem!
O mundo continua a pregar que tem feito muito pelos direitos humanos. Os Estados vão cada um aperfeiçoando as suas Constituições e aparecem todos vestidos como cordeiros quando acontecem as grandes cimeiras. A sociedade civil vai se transformando em elite poderosa graças aos meios que de forma cúmplice os doadores vão dando e, estes, os doadores, fingem que não percebem o que se passa nem com a sociedade civil nem com os governos.
Mas qual o verdadeiro cenário até hoje, passados esses gloriosos 61 anos? Encontramos instituições fragilizadas, quase todas com pés e braços muito curtos, que não os possibilitam a agir, muitas delas reféns dos Estados membros das organizações que as criam, sejam elas das Nações Unidas, das uniões regionais ou mesmo de grupos de especialistas em determinadas área.
Encontramos discursos polidos para agradar audiências, promessas que nunca chegam a ser cumpridas e propagada eleitoralista, moralista, falaciosa e muitas vezes insustentável, tanto por parte de políticos, doadores, activistas e intelectuais ou académicos, como muitos gostam de ser chamados.
Encontramos o enriquecimento rápido desse grupo de pessoas. Encontramos a formação de elites que se preocupam somente em manter o seu status quo. Encontramos o crescimento de desigualdades no mundo, nos continentes, nas nações, nas províncias e nas cidades. Encontramos cidadãos desesperados, que clamam por um Estado de Direito, que clamam por mais liberdade, por mais comida, por mais trabalho e no geral, por mais oportunidades.
Encontramos pessoas sem voz, pessoas sem vez, pessoas que não fazem parte da partilha da riqueza da nação. Pessoas que não sabem que são exploradas, que não sabem que têm direitos. Que não sabem que são humanas, que não sabem que pagam impostos. Pessoas que não mais querem acreditar nas instituições. Instituições que lhes colocam na cadeia para investigar. Instituições que lhes tiram o pouco que têm porque não conseguem pagar as custas judiciais.
Qual o cenário que encontramos? Encontramos académicos que fingem que não percebem dos direitos humanos. Vão perguntado o que significa igualdade, vão perguntando o que é pobreza, vão perguntando o que são as oportunidades iguais, vão perguntando o que é a corrupção. Esses académicos, esses comentadores, esses especialistas, perguntam-nos onde encontramos os tais pobres. Onde estão esses sem voz, onde andam esses excluídos? Vão fingindo que o mundo em que vivem é o universo.
Encontramos pessoas que vivem com medo. Que vivem oprimidas porque temem pelo seu emprego, porque temem pela sua família, porque temem pela sua vida. Pessoas que inventam palavras porque não podem dizer o que pensam, o que acreditam. Continuamos a encontrar pessoas que fingem não conhecer os defensores dos direitos humanos porque temem ser conotados.
Temem ser conotados com a oposição. Porque é isso que o poder faz. O poder cria uma máquina de propaganda para confundir a luta dos defensores dos direitos humanos. Cria uma máquina para ridicularizar os defensores. Cria um mundo para os coitados dos defensores. Para aqueles que só vêem fantasmas. Aqueles que só sabem falar mal, aqueles que só vêem maldade onde tudo está bem. E o poder vai alimentando essa máquina com mais dinheiro, com cargos políticos até com cargos executivos.
Esse é o cenário que encontramos, 61 anos depois e muitos anos depois da independência de muitos países africanos. Encontramos também esses países africanos, maniatados pelos seus doadores, a quem mais respeitam, que aos seus próprios cidadãos. Encontramos países que querem agradar a quem lhes dá mais dinheiro, dinheiro que é dívida, dívida que deverá ser paga pelos cidadãos, mas que o dinheiro é aplicado para o estômago dos líderes.
Encontramos uma encenação de combate a pobreza, uma encenação de combate à corrupção, uma encenação de combate às assimetrias, à diferenças sociais e a distribuição desigual de recursos. Encontramos programas governamentais que não passam de programas. Que não passam de cenários indicativos, que não passam de decoração. Que não passam de uma mentira.
Encontramos a criminalização da pobreza. A criminalização do HIV e Sida. Encontramos a feminização da pobreza. Encontramos a sexualização da mulher. Encontramos a instrumentalização das crianças. Encontramos a instrumentalização da própria pobreza. Encontramos a encenação da democracia. Encontramos a deificação dos líderes, o culto de personalidades e o trabalho para encher o estômago somente!
Mas será que nada foi feito para os direitos humanos nestes 61 anos? Muito foi feito com certeza. Penso que o primeiro passa foi dado. A criação de normas, tanto a nível internacional como a nível nacional. Hoje, parece que os países conseguem dialogar. Mas sempre ressalvando que cada um é soberano e no dialogo tem o seu próprio interesse. Dai que uns dizem que em Darfur está a acontecer genocídio e outros dizem que não. E todos pensam que estão em defesa da humanidade.
Muito foi feito. Pelo menos muito emprego foi criado. Muitos projectos, muitas viagens, muitos workshops. Muitos perdiems. Muitas amizades. Muitos artigos, muitos livros muitos programas de TV e muitos especialistas. Agora falta transformar isso tudo em resultados que possam beneficiar ao povo.
O que é que o povo quer. Não quer se divertir. Não quer ver muitas novelas nem muito futebol. O povo não quer ser distraído. O povo não quer passar de classe sem saber ler. Não quer ir ao hospital sem pagar e não ser curado. Não quer trabalhar sem se beneficiar. O povo quer segurança. Quer garantias fundamentais. O povo quer mais emprego. Mais hospitais, mais medicamentos. O povo quer mais riqueza, mais liberdade, mais paz e mais direitos. O povo que instituições democráticas fortes.
O povo quer a efectivação dos direitos humanos. O povo quer ser cidadão. Quer exercer os seus direitos e liberdades!
Esse continua sendo o desafio desde que começaram a contar os 61 anos dos Direitos Humanos!
Mas qual o verdadeiro cenário até hoje, passados esses gloriosos 61 anos? Encontramos instituições fragilizadas, quase todas com pés e braços muito curtos, que não os possibilitam a agir, muitas delas reféns dos Estados membros das organizações que as criam, sejam elas das Nações Unidas, das uniões regionais ou mesmo de grupos de especialistas em determinadas área.
Encontramos discursos polidos para agradar audiências, promessas que nunca chegam a ser cumpridas e propagada eleitoralista, moralista, falaciosa e muitas vezes insustentável, tanto por parte de políticos, doadores, activistas e intelectuais ou académicos, como muitos gostam de ser chamados.
Encontramos o enriquecimento rápido desse grupo de pessoas. Encontramos a formação de elites que se preocupam somente em manter o seu status quo. Encontramos o crescimento de desigualdades no mundo, nos continentes, nas nações, nas províncias e nas cidades. Encontramos cidadãos desesperados, que clamam por um Estado de Direito, que clamam por mais liberdade, por mais comida, por mais trabalho e no geral, por mais oportunidades.
Encontramos pessoas sem voz, pessoas sem vez, pessoas que não fazem parte da partilha da riqueza da nação. Pessoas que não sabem que são exploradas, que não sabem que têm direitos. Que não sabem que são humanas, que não sabem que pagam impostos. Pessoas que não mais querem acreditar nas instituições. Instituições que lhes colocam na cadeia para investigar. Instituições que lhes tiram o pouco que têm porque não conseguem pagar as custas judiciais.
Qual o cenário que encontramos? Encontramos académicos que fingem que não percebem dos direitos humanos. Vão perguntado o que significa igualdade, vão perguntando o que é pobreza, vão perguntando o que são as oportunidades iguais, vão perguntando o que é a corrupção. Esses académicos, esses comentadores, esses especialistas, perguntam-nos onde encontramos os tais pobres. Onde estão esses sem voz, onde andam esses excluídos? Vão fingindo que o mundo em que vivem é o universo.
Encontramos pessoas que vivem com medo. Que vivem oprimidas porque temem pelo seu emprego, porque temem pela sua família, porque temem pela sua vida. Pessoas que inventam palavras porque não podem dizer o que pensam, o que acreditam. Continuamos a encontrar pessoas que fingem não conhecer os defensores dos direitos humanos porque temem ser conotados.
Temem ser conotados com a oposição. Porque é isso que o poder faz. O poder cria uma máquina de propaganda para confundir a luta dos defensores dos direitos humanos. Cria uma máquina para ridicularizar os defensores. Cria um mundo para os coitados dos defensores. Para aqueles que só vêem fantasmas. Aqueles que só sabem falar mal, aqueles que só vêem maldade onde tudo está bem. E o poder vai alimentando essa máquina com mais dinheiro, com cargos políticos até com cargos executivos.
Esse é o cenário que encontramos, 61 anos depois e muitos anos depois da independência de muitos países africanos. Encontramos também esses países africanos, maniatados pelos seus doadores, a quem mais respeitam, que aos seus próprios cidadãos. Encontramos países que querem agradar a quem lhes dá mais dinheiro, dinheiro que é dívida, dívida que deverá ser paga pelos cidadãos, mas que o dinheiro é aplicado para o estômago dos líderes.
Encontramos uma encenação de combate a pobreza, uma encenação de combate à corrupção, uma encenação de combate às assimetrias, à diferenças sociais e a distribuição desigual de recursos. Encontramos programas governamentais que não passam de programas. Que não passam de cenários indicativos, que não passam de decoração. Que não passam de uma mentira.
Encontramos a criminalização da pobreza. A criminalização do HIV e Sida. Encontramos a feminização da pobreza. Encontramos a sexualização da mulher. Encontramos a instrumentalização das crianças. Encontramos a instrumentalização da própria pobreza. Encontramos a encenação da democracia. Encontramos a deificação dos líderes, o culto de personalidades e o trabalho para encher o estômago somente!
Mas será que nada foi feito para os direitos humanos nestes 61 anos? Muito foi feito com certeza. Penso que o primeiro passa foi dado. A criação de normas, tanto a nível internacional como a nível nacional. Hoje, parece que os países conseguem dialogar. Mas sempre ressalvando que cada um é soberano e no dialogo tem o seu próprio interesse. Dai que uns dizem que em Darfur está a acontecer genocídio e outros dizem que não. E todos pensam que estão em defesa da humanidade.
Muito foi feito. Pelo menos muito emprego foi criado. Muitos projectos, muitas viagens, muitos workshops. Muitos perdiems. Muitas amizades. Muitos artigos, muitos livros muitos programas de TV e muitos especialistas. Agora falta transformar isso tudo em resultados que possam beneficiar ao povo.
O que é que o povo quer. Não quer se divertir. Não quer ver muitas novelas nem muito futebol. O povo não quer ser distraído. O povo não quer passar de classe sem saber ler. Não quer ir ao hospital sem pagar e não ser curado. Não quer trabalhar sem se beneficiar. O povo quer segurança. Quer garantias fundamentais. O povo quer mais emprego. Mais hospitais, mais medicamentos. O povo quer mais riqueza, mais liberdade, mais paz e mais direitos. O povo que instituições democráticas fortes.
O povo quer a efectivação dos direitos humanos. O povo quer ser cidadão. Quer exercer os seus direitos e liberdades!
Esse continua sendo o desafio desde que começaram a contar os 61 anos dos Direitos Humanos!
domingo, 6 de dezembro de 2009
Marcolino Maco, Angolano: Algum Exemplo Parecido em Moçambique?
Se em 1956 Viriato da Cruz isolou-se, durante uma semana, num quarto do hotel Magestic ao São Paulo, em Luanda, e sentou-se diante de uma máquina de escrever para redigir o Manifesto do MPLA, hoje, passados 53 anos, Marcolino Moco escreveu num computador, a partir do bairro Azul (capital do País), outro (manifesto) que se opõe ao medo e à ditadura do silêncio que diz reinar em Angola.
O antigo secretário-geral do MPLA e ex-Primeiro-Ministro de Angola foi, no passado dia 24 de Novembro, à Assembleia Nacional (AN) ao encontro do actual secretário-geral do partido no poder.
Marcolino Moco respondia, assim, a uma inopinada chamada de Mateus Julião Paulo "Dino Matross" que - segundo Faustino Muteka, portador do recado ao primeiro - tinha como escopo trocar ideias.
A reunião entre os dois não foi tão bacana (permitam-nos o brasileirismo!) como era de esperar. Prova disso é que dias depois Marcolino Moco mandou um pequeno memorando sobre o sobredito encontro ao "camarada Dino Matross".
O actual responsável da Faculdade de Direito da Universidade Lusíada diz, entre outras coisas, na referida epístola, esperar nunca mais ser perturbado quando falar nas suas vestes de cidadão e estudioso de Direito.
Marcolino Moco alerta que o MPLA está a ser arrastado à situação de ser o mais retrógado dos então chamados partidos progressistas de África e aproveita o embalo para declinar o convite que " o camarada diz ter pedido para mim, ao presidente do partido (José Eduardo dos Santos), para ser convidado ao VI Congresso do MPLA (sic!)".
Moco diz não aceitar a perspectiva chantagista, condicionante e ameaçadora que "Dino Matross" deixou transparecer do tipo: " se não for, então que não se arrependa" ou "então será abandonado (sic!)". Eis, já a seguir, ipis verbis as palavras de um homem que se diz preparado, desde a "Queda do Muro de Berlim", espiritual e psicologicamente para não viver às custas de lugares em partidos políticos. “Caro Camarada Dino Matross"
Após consulta à minha família nuclear e alargada, que me deu todo o apoio, e até me surpreendeu, ao declarar que eu nem devia ter ido ter consigo, mando-lhe este pequeno memorando do nosso encontro do dia 24 de Novembro, na Assembleia Nacional.
Na verdade, como deve ter sabido, a minha primeira decisão era não ter ido ter consigo, pela forma como fui abordado, como se eu fosse um desocupado, à chamada de um senhor misericordioso; e também não iria ao seu encontro por desconfiar que me iria dar lições atávicas, sobre as minhas opiniões, como cidadão e académico, em relação ao momento constituinte, que tem suscitado uma grande audiência em Luanda e no exterior, já que vocês, sem nenhum pejo, barraram todo o contraditório em relação ao interior do país, simulando uma grande generosidade em fazer participar o país na elaboração de uma constituição que vocês já sabem qual será.
Só que com o seu cinismo, conseguiu que o camarada Faustino (Muteka) me convencesse que seria uma conversa entre camaradas que iriam trocar ideias, neste momento importante. Aquilo foi mais degradante, não sei quantas vezes, do que o meu encontro com os camaradas João Lourenço, Paulo Jorge e Nvunda, em 2001, quando eu opinava publicamente sobre a urgência da paz. Devo reconhecer hoje, ter sido injusto com eles porque, foram certamente pessoas como o camarada Matross que os empurraram para aquele cenário, que até não foi tão triste assim, até porque bastante cordial.
Vocês não conseguem nem ter sentido de humor e um mínimo de informalismo, como a camarada Joana Lina, que quase não aceitou os meus cumprimentos, toda ela feita deusa de uma religião que eu não professo.
Pela forma arrogante como me falou não vou mais insistir nas opiniões que tentei trocar consigo, porque vi que o senhor não estava interessado em dialogar, mas apenas em tentar impor-me ideias que - diga-se, mais do que imaginava, horrorosamente atávicas.
No entanto, quero que fique bem claro que, para mim, as conclusões daquele encontro são as seguintes:
1-Reitero, por minha livre vontade, que continuo ligado sentimentalmente ao MPLA (talvez deixe de fazer essa referência pública, e deixe de referir que vocês são meus amigos, se isso tanto vos perturba) conservando o meu respeito ao Presidente do Partido, mas sem temor (como temer um combatente na luta contra o medo colonial e não só!?). O que penso, a partir do nosso último encontro (pode ser que esteja enganado!), é que são vocês que o apoquentam com a ideia de que qualquer referência a ele, desde que seja crítica (mesmo quando positiva) é falta de respeito, é “falar mal do Chefe”, etc., etc., etc..
2- Fica claro que como docente, conferencista e cidadão, ninguém, mas absolutamente ninguém, me obrigará a distorcer as minhas convicções científicas, a favor de ideias de um partido qualquer, por mais maioritário que seja e por mais da minha cor que seja. É aí que vocês inventam que eu falo mal do Presidente do Partido, quando as referências são feitas a um cidadão que é Chefe de Estado e especialmente na sua qualidade de Chefe de Governo, num momento importante, em que todos nós temos o dever cívico de contribuir sem medo. Para mim o tempo da vovó Xica de Valdemar Bastos: “não fala política”, já lá vai há muito tempo. Paradoxalmente, o camarada Dino Matross, foi um dos grandes obreiros desta gesta. É pena! Era para nos tirarem o medo dos estrangeiros e nos trazerem o vosso medo?! Eu recuso-me a tremer perante qualquer tipo de novos medos.
3-Aquelas referências que fez, de forma tão sobranceira e até ameaçadora, sobre o camarada Chipenda (por quem, da lista, nutro um grande respeito), do Paulino Pinto João (degradante!) e de Jonas Savimbi (se não andasse distraído saberia que eu nunca entendi bem das suas razões) foi das coisas mais inacreditáveis na minha vida. O camarada Matross a deixar transparecer que me presto a mendigar os vossos favores ou que tenho medo de perder a vossa protecção? Ainda não se apercebeu que não?!
Neste ponto, saiba que a minha família e amigos, sobretudo os que vivem no Huambo e um pouco por todo o país, reiteraram-me o seu total e pleno apoio, no sentido de que nem que eu venha a comer raízes e ervas (que até são mais saudáveis que as comidas importadas) não irei pedir esmolas a ninguém, o que não significa dispensar os meus direitos e garantias perante as instituições competentes do Estado.
4-Declino o convite que o camarada diz ter pedido para mim, ao Presidente do Partido, para ser convidado ao VI Congresso do MPLA. Não aceito a perspectiva chantagista, condicionante e ameaçadora que deixou transparecer do tipo: “se não for então que não se arrependa” ou “então será abandonado”.
Como costumo dizer, desde a “Queda do Muro de Berlim”, em 1989, que estou preparado, sobretudo espiritual e psicologicamente, para não viver a custa de lugares em qualquer partido. E a mensagem que passo sempre aos meus alunos _ e tenho moral para isso _ é esta: “preparem-se como bons profissionais, para a vida; podem aderir a partidos ou assumir cargos políticos, mas não dependam deles em nenhum sentido, porque podem ser enxovalhados, em alguma altura”.
5-Espero nunca mais ser perturbado quando falar, nas minhas vestes de cidadão e estudioso do Direito. Se a questão é alguma comunicação social, que ainda não se vergou às vossas pressões, andar a divulgar as minhas ideias, o problema não é meu. Mandem fechar tudo o que não fale a vosso favor e deixem-me em paz.
6- Olhem à volta e vejam como arrastam o MPLA à situação de ser o mais retrógrado dos então chamados partidos progressistas de África! Incapazes de perdoar, do fundo do coração (já nem falo da UNITA e dos chamados “ fraccionistas”) até os próprios fundadores do nosso glorioso Partido, como os irmãos e primos Pinto de Andrade; e um Viriato da Cruz, de cujo punho brotaram estrofes esplendorosas, para uma África chorosa mas em “busca da liberdade”, usando palavras de outro vate da liberdade; o Viriato da pena leve e elegante que riscou o próprio “Manifesto”, donde nasceria uma das mais notáveis siglas da humanidade; sigla que vocês vão, hoje, transmitindo às novas gerações, como o símbolo do culto e da correria atrás de enxurradas de dinheiro e de honrarias balofas!
Triste espectáculo que fingem não ver!
Com certeza, já mandaram chamar o nosso “mais novo”, o deputado Adelino de Almeida para nunca mais escrever, como escreveu aquele artigo tétrico, no “Semanário Angolense”, após o desaparecimento do malogrado, talentoso e insigne tribuno, também nosso “mais novo” o ex-deputado André Passy. Dos textos dilacerantemente irónicos do ex-deputado Januário, mas exprimindo com arte as misérias (sobretudo do foro espiritual) que estão a ser criadas neste país, provavelmente nem se importam de reparar: pois, para além de ser já um “ex” é um “mijão de calças”, mesmo aos quase 50 anos, como o camarada Matross gosta de taxar “carinhosamente” todos os jovens que despontam com ideias diferentes das vossas. Por maioria de razão, o mesmo destino (cesto de papéis!) deram, certamente, àquele pujante libelo acusatório de um jovem, a sair dos vinte anos, que me fez chorar (das poucas vezes que chorei, em vida!) onde a vossa e minha geração são postas diante de uma realidade, nua e crua, do amordaçar de sonhos e liberdades que vocês nos anunciaram a todos, mas que ele e os da sua geração só os encontram nos livros de história e no canto esperançoso dos poetas (falo do jovem Divaldo Martins, que também escreveu no “Semanário Angolense”!).
7- E sobre todas estas coisas, não mais falarei com o camarada Dr. Dino Matross. Estou indisponível. A não ser em debate público.
Política, na verdade, diversamente do que vocês querem impor, contrariando (mesmo neste tempo de democracia pluralista), o grande Agostinho Neto, que disse não dever ser um assunto de “meia dúzia de políticos”, terá que ser, e será, inexoravelmente, uma questão fora do esoterismo a que vocês a querem submeter, em Angola. Estou cansado das vossas chantagens e humilhações. Por enquanto, é este o meu manifesto contra o medo e contra uma ditadura do silêncio que não aceito.
Obs.: Como vocês gostam de distorcer as coisas, guardo cópia deste documento que será distribuído a meus familiares e amigos e, quem sabe, chegará aos militantes de corações abertos, que ainda não os fecharam, ante a vossa inigualável capacidade de manipulação! Quem sabe a todo o país e ao mundo, que para vós não passa dos arredores da Mutamba e da marginal da baía de Luanda?!
Sem mais
Luanda, aos 29 de Novembro de 2009
Marcolino Moco (Militante livre do MPLA)"
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
Hélder Nhamaze: Foto com Rastas Para o B.I.
Acabo de conversar com o meu amigo Hélder Nhamaze, que me confirmou ter sido permitido tirar a foto para o seu Bilhete de Identidade sem complicações com as suas dreads.
A ser verdade, este, é o primeiro passo para uma grande revolução neste país!
Uma Revolução que culminará com a conclusão segundo a qual, cada moçambicano tem a liberdade de viver a sua vida, da maneira mais plena e mais expressiva que lhe convier, sem medo e sem inibições, desde que não atropele a liberdade dos outros.
Parabéns Hélder, Parabéns Moçambique!!!!!!
Parabéns Hélder, Parabéns Moçambique!!!!!!
Jah Live!!!
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
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