É seguinte: por natureza, considero-me um ser político. Aprofundei esta ideia com a filosofia grega seguindo a qual, o político era aquele que participava da vida da polis, ou seja, participava da vida da cidade, o que em linguagem mais corrente quer dizer que era cidadão.
Eu considero-me cidadão, sendo cidadão sou necessariamente político, porque embora a palavra cidadão e político tenham origens diferentes, na sua essência significam o mesmo, ou seja, a ideia é a mesma. Na verdade a polis é a cidade, a cidade estado na Grécia e hoje, podemos falar do país.
Contudo, não me considero partidário, ou seja, não prego ideologia partidária de ninguém (pelo menos até agora que escrevo este artigo), não faço propaganda, nem carrego comigo manifesto político de ninguém, embora tenha simpatia por um ou mais partidos a quem eventualmente posso apoiar. De qualquer das formas, exerço fielmente o meu direito a voto.
Por ser assim, os meus detractores argumentam que não sou político, dizem que sou uma mente alienada, uma inteligência deturpada e um ser vivo desactualizado. Ou seja, na ideia destes meus “companheiros”, só é político aquele que vai ao partido e às reuniões e canta vivas e vivas sem fim.
Seja como for, cada um tem a liberdade de definir a política e o partido como bem entender, mas ninguém tem o direito de condenar o outro pelas suas escolhas, ainda que sejam as menos recomendadas, desde que não sejam contrárias às leis em vigor no país.
Porque as acusações nunca mais paravam pedi que me trouxessem um político actual moçambicano, ou me trouxessem pelo menos uma lista com os itens que devem ser o seu perfil. Não me foi apresentado um político mas uma lista, hei-la:
No conceito de político que hoje se pretende, a pessoa deve ter o seguinte perfil:
Ser empresário, usar celular com contrato, não ter ideias próprias, ter boa memória, saber decorar e recitar poesia, não ter vergonha, ser capaz de ocultar a verdade, saber ser ridículo, disponível para ser ministro, director ou qualquer outro chefe, ter a frase “sim chefe” como a regra de conduta, não ter disponibilidade para questionar o superior, valorizar só as ideias do partido, ter um nome familiar, ter uma quinta, gostar de festas, afastar-se de todos aqueles que não são do partido, nunca aceitar que estamos errados, nunca aceitar a derrota, bla, bla, bla, bla....
A lista prosseguia com várias recomendações que achei super interessantes, como por exemplo: não precisa entender das coisas, basta saber falar delas ou sobre elas, não precisa, ter bom desempenho, basta escrever um bom relatório, não precisa ter medo das leis basta agradar ao chefe, não ter medo de desviar os recursos, basta saber limpar a boca. Acima de tudo saber que: de tudo que se fala, a verdade é: nunca fazer o que diz e nunca dizer o que faz, procure sempre ser ambíguo e falacioso.
Pensando comigo mesmo, chego a triste conclusão de que ainda preciso investir muito nos meus estudos políticos. Na verdade, o perfil que me foi apresentado não encaixa praticamente em nada com aquilo que sei ser um político. Eu que sou político, não me revejo nesse perfil.
Se estou errado veremos adiante, mas penso que os meus amigos ao apresentarem aquele perfil na verdade queriam demonstrar o que é ser partidário. Partidário é aquele que segue a ideologia do partido e este, nem sempre é político, embora em principio, se presuma que todos os homens são políticos.
Aquele perfil é partidário, representa alguém que obedece cegamente mandamentos de um dirigente do partido, seja ele presidente ou secretário. Muitos desses partidários não estão preparados para contribuir na construção da nação. A maior nação que eles servem é o seu próprio estômago e as decisões são quase todas tomadas em torno dos seus sagrados umbigos.
Infelizmente, hoje, as sociedades que se chamam ou se pretendam civilizadas estão repletas desse grupo de gente, que sendo partidários reivindicam ser políticos. Meus senhores, a cidadania é um acto responsável e a política é uma das mais perfeitas formas de exercer a cidadania.
Tudo que disse acima, tem uma única motivação, o engrandecimento da democracia moçambicana. O nosso país tem vindo a mostrar marcas de grandes avanços e maturidade quando se trate de política. Por exemplo: as eleições acontecem quase sempre no tempo em que foram previstas, não temos prisioneiros políticos mesmo sabendo que o número de partidos aumenta a cada dia, os jornalistas estão a ser cada vez mais livres e o cidadão mostra-se a cada dia sem medo de questionar ou enfrentar.
Estes são sinais muito positivos em África, particularmente no nosso país e eles ganham maior relevância quando vemos que teremos no presente ano uma primeira experiência de eleições provinciais, onde serão eleitos representantes do povo para fiscalizar o poder.
É seguinte, fora dos deputados na Assembleia da Republica teremos deputados provinciais. E a minha questão é: se não conseguimos ter deputados políticos na Assembleia da Republica, conseguimos nós ter deputados políticos a nível das províncias? Ou esta é mais uma estratégia para fugirmos das questões principais?
Seja como for e sejam quais forem os argumentos, para mim, político e partidário são coisas completamente diferentes, infelizmente, no nosso país só ganha pão quem for puxa saco do partido, seja qual for o partido e não necessariamente o político. O político só o vemos escrevendo artigos ou comentando na rádio ou TV. Outros não sabemos se existem.