quarta-feira, 29 de abril de 2009

Político ou Partidário? Reflexão Sobre os Perfis


É seguinte: por natureza, considero-me um ser político. Aprofundei esta ideia com a filosofia grega seguindo a qual, o político era aquele que participava da vida da polis, ou seja, participava da vida da cidade, o que em linguagem mais corrente quer dizer que era cidadão.

Eu considero-me cidadão, sendo cidadão sou necessariamente político, porque embora a palavra cidadão e político tenham origens diferentes, na sua essência significam o mesmo, ou seja, a ideia é a mesma. Na verdade a polis é a cidade, a cidade estado na Grécia e hoje, podemos falar do país.

Contudo, não me considero partidário, ou seja, não prego ideologia partidária de ninguém (pelo menos até agora que escrevo este artigo), não faço propaganda, nem carrego comigo manifesto político de ninguém, embora tenha simpatia por um ou mais partidos a quem eventualmente posso apoiar. De qualquer das formas, exerço fielmente o meu direito a voto.

Por ser assim, os meus detractores argumentam que não sou político, dizem que sou uma mente alienada, uma inteligência deturpada e um ser vivo desactualizado. Ou seja, na ideia destes meus “companheiros”, só é político aquele que vai ao partido e às reuniões e canta vivas e vivas sem fim.

Seja como for, cada um tem a liberdade de definir a política e o partido como bem entender, mas ninguém tem o direito de condenar o outro pelas suas escolhas, ainda que sejam as menos recomendadas, desde que não sejam contrárias às leis em vigor no país.

Porque as acusações nunca mais paravam pedi que me trouxessem um político actual moçambicano, ou me trouxessem pelo menos uma lista com os itens que devem ser o seu perfil. Não me foi apresentado um político mas uma lista, hei-la:

No conceito de político que hoje se pretende, a pessoa deve ter o seguinte perfil:
Ser empresário, usar celular com contrato, não ter ideias próprias, ter boa memória, saber decorar e recitar poesia, não ter vergonha, ser capaz de ocultar a verdade, saber ser ridículo, disponível para ser ministro, director ou qualquer outro chefe, ter a frase “sim chefe” como a regra de conduta, não ter disponibilidade para questionar o superior, valorizar só as ideias do partido, ter um nome familiar, ter uma quinta, gostar de festas, afastar-se de todos aqueles que não são do partido, nunca aceitar que estamos errados, nunca aceitar a derrota, bla, bla, bla, bla....

A lista prosseguia com várias recomendações que achei super interessantes, como por exemplo: não precisa entender das coisas, basta saber falar delas ou sobre elas, não precisa, ter bom desempenho, basta escrever um bom relatório, não precisa ter medo das leis basta agradar ao chefe, não ter medo de desviar os recursos, basta saber limpar a boca. Acima de tudo saber que: de tudo que se fala, a verdade é: nunca fazer o que diz e nunca dizer o que faz, procure sempre ser ambíguo e falacioso.

Pensando comigo mesmo, chego a triste conclusão de que ainda preciso investir muito nos meus estudos políticos. Na verdade, o perfil que me foi apresentado não encaixa praticamente em nada com aquilo que sei ser um político. Eu que sou político, não me revejo nesse perfil.

Se estou errado veremos adiante, mas penso que os meus amigos ao apresentarem aquele perfil na verdade queriam demonstrar o que é ser partidário. Partidário é aquele que segue a ideologia do partido e este, nem sempre é político, embora em principio, se presuma que todos os homens são políticos.

Aquele perfil é partidário, representa alguém que obedece cegamente mandamentos de um dirigente do partido, seja ele presidente ou secretário. Muitos desses partidários não estão preparados para contribuir na construção da nação. A maior nação que eles servem é o seu próprio estômago e as decisões são quase todas tomadas em torno dos seus sagrados umbigos.

Infelizmente, hoje, as sociedades que se chamam ou se pretendam civilizadas estão repletas desse grupo de gente, que sendo partidários reivindicam ser políticos. Meus senhores, a cidadania é um acto responsável e a política é uma das mais perfeitas formas de exercer a cidadania.

Tudo que disse acima, tem uma única motivação, o engrandecimento da democracia moçambicana. O nosso país tem vindo a mostrar marcas de grandes avanços e maturidade quando se trate de política. Por exemplo: as eleições acontecem quase sempre no tempo em que foram previstas, não temos prisioneiros políticos mesmo sabendo que o número de partidos aumenta a cada dia, os jornalistas estão a ser cada vez mais livres e o cidadão mostra-se a cada dia sem medo de questionar ou enfrentar.

Estes são sinais muito positivos em África, particularmente no nosso país e eles ganham maior relevância quando vemos que teremos no presente ano uma primeira experiência de eleições provinciais, onde serão eleitos representantes do povo para fiscalizar o poder.

É seguinte, fora dos deputados na Assembleia da Republica teremos deputados provinciais. E a minha questão é: se não conseguimos ter deputados políticos na Assembleia da Republica, conseguimos nós ter deputados políticos a nível das províncias? Ou esta é mais uma estratégia para fugirmos das questões principais?

Seja como for e sejam quais forem os argumentos, para mim, político e partidário são coisas completamente diferentes, infelizmente, no nosso país só ganha pão quem for puxa saco do partido, seja qual for o partido e não necessariamente o político. O político só o vemos escrevendo artigos ou comentando na rádio ou TV. Outros não sabemos se existem.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

A Semana I: Direitos e Pintos: é o Povo Que Clama!

A Semana é uma série semanal que se pretende seja publicada aqui todas as Segundas Feiras.
Na verdade, é uma série, assinada por mim e que é escrita para o jornal diário por fax: O Autarca, editado por Falume Chabane e publicado a partir da Cidade da Beira.

A todos e todas muito obrigado pelos comentarios e para comecar vai o primeiro titulo:

Direitos e Pintos: é o Povo Que Clama!


Começo esta série semanal realçando o lançamento do livro do conhecido jornalista Tomás Vieira Mário Presidente do MISA Moçambique sobre o Direito a Informação e o Jornalismo em Moçambique. Penso ser pertinente na medida em que temos no país jornalistas que na essência nunca o foram e nem conhecem os princípios que regem a profissão que pensam exercer. Mais do que isso, é a própria liberdade de imprensa que ainda é uma miragem neste Estado de Direito.
Entretanto, enquanto liamos o livro deparamo-nos com mudanças profundas no Sector da Justiça. Dizem que foram todas por fim de mandato, mas alguns mandatos terminados já tinham selo de eternos e, só Deus sabe, como é que sobreviverão esses antigos titulares que nunca conheceram uma vida sem protocolo e sem despesas domésticas pagas por si.
De qualquer das formas o mérito da mudança, está na própria mudança, embora se saiba que de mudança pouco se espera no sector senão a sua partidarização mais aguda dado que ao lado da competência técnica dos novos titulares caminha o temor reverencial que conservam em relação aos donos do actual poder.
Pouca sorte teve o PGR que foi ao parlamente dizer o óbvio, recusando-se a apresentar alguma resposta à demanda de justiça por parte dos cidadãos e por falar de resposta, parece que o órgão por ele dirigido tem um ouvido surdo, na medida em que não se preocupa com certas vozes como às do tribunal administrativo e da sociedade civil e se calhar foi por tanto gritar para que aquele ouvisse que Pale caiu.
Sem justiça o país não anda, foi a pensar nisso que o procurador da África do Sul deixou cair toda sujeira contra Zuma e permitiu sua eleição como o quarto Presidente negro da maior economia africana. Certo ou não, ficará para o continente a experiência de como combinar o judiciário com o político. E de tudo que se falar de Zuma ficará também a certeza de que pelo menos há um método eficaz contra o HIV, método por ele experimentado e publicado.
Espera-se entretanto que o novo governo sul africano impulsione a integração mais justa da região, contudo, no encontro promovido pelo IESE, ficou claro que a pobreza absoluta está a agudizar-se em Moçambique devido a falta de políticas públicas claras. Entretanto, sinais de enriquecimento rápido e exagerado vão cada vez mais luzindo no país e há quem quer que os funcionários públicos comecem a usar bicicletas de e ao serviço, para não sofrerem com os famosos chapa 100.
Se outra conclusão do encontro promovido pelo IESE com o tema Dinâmicas da Pobreza e Padrões de Acumulação Económica em Moçambique foi que os serviços básicos passaram a ser produtos de venda e lucro não só no país, esperamos que a reunião de quadros da Frelimo não tenha servido só para reunir camaradas e matar saudades. O povo moçambicano espera que muito ainda seja feito por este governo e já que os próximos pleitos eleitorais serão fortemente concorridos pede-se com antecedência útil os respectivos manifestos eleitorais.
Enquanto em Portugal celebram a revolução dos cravos, aqui assassinam pintos sob o olhar sereno das autoridades. Quem diria ne? Pintos saudáveis mortos voluntariamente e deitados no lixo, só porque não podem ser comprados e oferecidos. Mas o povo que é pobre e faz sacrifícios para comer carne ou arroz, correu a morgue lixeira dos pintos e apanhou tanto os sobrevivos como os mortos, prova imbatível de que se não havia compradores, pelo menos havia interessados.
Até a próxima

quarta-feira, 22 de abril de 2009

O Problema dos Direitos Humanos e da Violência


Carta a uma companheira de luta

Querida amiga,
Venho debruçando-me sobre este tema há anos. É um tema difícil, sensível e de certa forma complexo. A verdade é que desde que te conheço, cada conversa nossa, atrai a cada dois minutos os direitos humanos e, mesmo assim, embora desgastante, não falta assunto.

Desta vez propus-me a escrever-te esta carta a abordar o problema dos direitos humanos e da violência ignorando a actualidade política do país, as eleições na África do Sul, as contas do Tribunal Administrativo, as incongruências da SADC, a nova faceta do MDC no Zimbabwe, a reflexão sobre a pobreza no país, a reunião de quadros da Frelimo, a desculpa esfarrapada de Jó Capece entre outros assuntos, só porque acho que o ser humano gosta de ignorar o essencial e diluir-se no periférico.

A violência, seja ela de que forma se manifesta, física, psicológica, moral ou outro, seja ela considerada em razão da provocação, em razão dos sujeitos envolvidas, seja qual for o prisma com que se observa ou se estuda o fenómeno, é comum, concordar que nada justifica o seu recurso.

A violência é a causa dos milhares de traumas que a gente conhece nas pessoas com que convivemos no dia a dia. É a causa de altos gastos do erário público e sobrecarrega tal as instituições de administração de justiça que preterem questões vitais da sociedade.
A violência destrui nações, desvirtua o conceito de humanidade e de solidariedade. A violência torna-nos lobos e leva-nos de volta ao estado de natureza onde só o mais forte sobrevive.

Quando a violência acontece em casa, ou envolvendo membros que conservam consigo laços familiares ou de parentesco, chama-se de violência doméstica e esta forma de violência, é, quanto a mim, a mais brutal de todas, embora em muitas situações tentemos encontrar argumentos para justificá-la.

Querida amiga, e o que tem tudo isso a ver com os direitos humanos? A questão fundamental baseia-se na dignidade da pessoa humana, ou seja, toda e qualquer forma de violência reduz de certa forma a dignidade humana.
Daí que, não se pode usar a violência para defender os direitos humanos, do mesmo jeito que não se concebem os direitos humanos num contexto violento. Penso que aqui reside o problema dos direitos humanos e da violência, na medida em que uns pensam que só com violência se resolve o problema dos direitos humanos e outros querem usar o discurso da violência como o Cavalo de Tróia para atingir seus fins pessoais.

Penso que, sobre a questão que coloco, a maior dificuldade dos activistas dos direitos humanos em Moçambique é de perceber o conteúdo dos conceitos (de direitos humanos e da violência). Assim, porque são eles que aos poucos vão educando os outros actores sociais, políticos, económicos incluindo a mídia, passamos a ter uma larga massa de actores com conceitos mutilados.
Infelizmente, esses conceitos vão sendo usados e reproduzidos como se fossem acabados ou os mais correctos que se podem ter e, na dificuldade de melhor explica-los começam os ataques e as cenas da violência. A violência é a filha da ignorância. Quem sabe usar da razão jamais opta pela violência, só se recorre a violência quando a mente está desprovida de inteligência.

Querida amiga, pensar-se que se resolvem as coisas pelo muito palavreado é falso. As vezes, as muitas palavras são o próprio impedimento à comunicação. É por isso que, alguns jornalistas, colunistas e editores de programas, aproveitam o espaço que têm na mídia para desinformar e complicar a mente das pessoas que realmente querem aprender.

Afinal de contas, muitos dos que têm o poder da mídia, não querem exactamente proporcionar ao cidadão aquilo que ele espera dela, que neste caso seria a formação, a informação e a educação. Muitos deles querem impor o seu status quo, a sua visão de vida e em última instância impor a ditadura do consumismo.

Ignorância da causa é uma estratégia antiga, normalmente usada para, como o próprio brocardo diz, desviar a atenção daquilo que realmente deve ser considerado, para se perder tempo em matérias sem necessidade. Se fores a reparar cara amiga, uma boa parte do debate que se tem levantado na actualidade está completamente desviado do essencial.

Populações pobres como a nossa, povos com índices bem elevados de analfabetismo, cidadãos desprovidos de políticas públicas realmente eficientes, carecem de actores e intelectuais que se dedicam ao debate com a luz da razão, infelizmente, a nossa terra não foi abençoada neste aspecto.

Querida amiga, penso que o maior problema dos direitos humanos e da violência no nossa país é a ignorância e a falta de capacidade de abstracção. Ignorância de causa e a mistura de conceitos, crenças, problemas, situações e causas. Alias, muitas vezes não sabemos distinguir as causas das consequências, os problemas dos efeitos e isso é reproduzido com uma forte propaganda de activistas e trabalhadores da mídia.

Não se resolvem os problemas dividindo os actores ou os sujeitos. A segregação já foi usada por muitas correntes políticas, religiosas e filosóficas para resolver problemas sociais e os resultados foram desastrosos. O dialogo, a humildade, a abstracção e o uso da razão podem ser as primeiras premissas para identificarmos os nossos problemas, as suas causas, as suas consequências e os nossos desafios.

Sei que te enrolei querida amiga, mas tinha que escrever deste jeito. Do jeito morder e soprar porque esta tarefa é também ingrata, na medida em que coloca-te a porta tanto da gloria como do calvário.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

ELE: BARACK OBAMA



O Presidente Negro nao resistiu saudar o
Guarda Real Britanico, também negro!

Note Bem: Estas saudacões sao proibidas e
os grandes canais de TV não divulgaram
este importante acontecimento!

Coisas do Sangue

quinta-feira, 16 de abril de 2009

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Zimbabué: o fim da linha...

Acabando o papel de imprimir as notas, o Governo do Zimbabué decidiu parar a emissão da moeda nacional, após a saída da nota de 100 biliões de dólares. Depois disso, a moeda nacional será abolida, inicialmente durante um ano...

Lembramos, que apenas em Junho de 2008 a inflação no país era de 231 milhões por cento. Calcula-se que desde o Novembro de 2008, a inflação anual no Zimbabué era de 516 quintiliões de por cento.

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